2 de out. de 2014

Paulo Roberto Costa, o delator premiado, vai para casa, enquanto os corruptos delatados concorrem as eleições

BRASIL – Corrupção - Lava a Jato
Paulo Roberto Costa, o delator premiado, vai para casa, enquanto os corruptos delatados concorrem as eleições
Ex-diretor da Petrobrás cumprirá prisão domiciliar em condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca. O que ele disse a justiça, com provas, satisfez o juiz do Paraná e o Ministro do Supremo, a ponto de ter ganhado a vantagem de ficar em casa como contrapartida. Sua advogada disse que o que foi revelado é algo “de grandes proporções.”

Foto: Reuters

Roberto Costa está agora em casa, com sua tornozeleira eletrônica aguardando os acontecimentos

Postado por Toinho de Passira
Fontes:  Estadão, Blog do Josias de Souza, Estadão

O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, depois de cumprida a sua parte na delação premiada, foi liberado para responder o processo em liberdade, em sua casa, num condomínio de luxo, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Para se avaliar sua importância, basta observar o esquema especial que a Polícia Federal montou para conduzi-lo em segurança até sua casa, ontem à tarde. Veio do Aeroporto do Galeão numa Pajero de vidros escurecido, acompanhado de quatro agentes fortemente armados, escoltado por três viaturas e dois helicópteros.

Acusado de participar de um esquema de desvio de recursos da estatal, ele ficará em prisão domiciliar sob monitoramento de uma tornozeleira eletrônica por pelo menos um ano.

No início da tarde, um agente da PF estivera na casa dele para verificar a segurança do local. A princípio, não haverá policiais de vigilância no condomínio. A PF informou que o objetivo da visita era certificar que a empresa responsável pela vigilância privada do local era regularizada.

O condomínio de alto padrão em que Costa reside possui duas guaritas de segurança. Apenas em uma delas, na entrada da sua rua, o acesso é vigiado por três câmeras de segurança e margeado por cercas elétricas.

Apesar de toda restrição, o ex-diretor da Petrobrás não terá motivos para reclamar do cárcere, como fez em março logo após ser preso na sede da PF em Curitiba. O condomínio é amplo, arborizado e silencioso. A casa, onde reside só com a esposa, é espaçosa, têm piscina e um grande jardim.

Segundo vizinhos e funcionários, o delator tem a sua disposição três funcionários fixos da casa, um caseiro, uma faxineira e uma cozinheira. Mesmo com a tornozeleira, ele poderá caminhar pelas áreas internas do condomínio. Suas duas filhas, também investigadas como laranjas das empresas do ex-diretor, moram em apartamentos de alto padrão na orla da Barra da Tijuca.

Costa é réu em dois processos decorrentes da operação Lava Jato. Ele é acusado de integrar esquema desvio de dinheiro da Petrobrás para pagamento de propinas a políticos da Petrobrás e destruir provas, segundo denúncia do Ministério Público Federal.

Foto: Reprodução O Globo

Paulo Roberto, o delator, chegando em casa, escoltado pela PF, recebido por familiares

Em seu acordo de delação premiada, Costa admitiu ter recebido cerca de US$ 23 milhões em propinas, além de ter ajudado a fraudar contratos da Petrobrás com empresas fornecedoras que desviavam recursos para políticos e partidos da base aliada do governo federal. Segundo os depoimentos, ao menos 32 parlamentares e um governador receberam recursos desviados dos contratos da Petrobrás.

Para ter o benefício da prisão domiciliar, o ex-diretor concordou em pagar R$ 5 milhões em multas, devolver US$ 25 milhões que dispunha em contas no exterior além de devolver um carro que teria recebido do doleiro Alberto Youssef.

Em contrapartida, além de poder aguardará o julgamento em casa por um ano, uma espécie de prisão domiciliar, ele também poderá ter a pena flexibilizada e ter eventuais novas denúncias arquivadas.

Em princípio o delator não corre riscos de atentados no momento. Tendo esvaziado seus arquivo não interessa mais aos seus comparsas deduráveis silenciá-lo, não adianta mais queimar um arquivo que já foi fartamente acessado.

Obvio que há sempre o risco da vingança, ou de usá-lo como exemplo para desestimular os outros dedos duros da fila.

Foto: AE

A advogada criminal Beatriz Catta Preta precursora das causas de delação premiada, sempre é contratada, nas grandes causas, quando os investigados decidem contar o que sabem.

Josias de Souza, no seu Blog, lamenta que os eleitores estejam indo as urnas no domingo sem tomar ciência formal da relação completa dos políticos delatados e da extensão dos seus maus feitos, trazidos à tona por Paulo Roberto Costa. Por sinal, a conceituada advogada Beatriz Cattapreta, que tem Paulo como cliente, disse que o destampatório do seu cliente, mantido em segredo até agora, “é um acontecimento de grandes proporções.”

O que Beatriz Cattapreta disse, com outras palavras, é que vem aí mais um grandioso escândalo de corrupção.

Ao homologar o acordo que levou Paulo Roberto a mover os lábios, o ministro Teori Zavascki, do STF, deu a entender que a encrenca será realmente grande, muito grande, gigantesca.

“…Há elementos indicativos, a partir dos termos do depoimento, de possível envolvimento de várias autoridades detentoras de prerrogativa de foro perante tribunais superiores, inclusive de parlamentares federais”, anotou Teori em seu despacho.

Ao se referir aos “tribunais superiores” de Brasília assim, no plural, Teori sinalizou que, além de besuntar ministros e congressistas, que usufruem do foro do STF, o derramamento de óleo deve engolfar governadores de Estado, cujo foro é o STJ.

Teori informou, de resto, que há nos depoimentos de Paulo Roberto Costa indícios de “vantagens econômicas ilícitas oriundas dos cofres públicos”. Anotou que as vantagens foram “distribuídas entre diversos agentes públicos e particulares.” No português das ruas: rolou uma fe$ta. E o contribuinte entrou com o bolso.

Procuradores da República e delegados federias sinalizam que a roubalheira, por grandiosa, não se transformará em ações penais do dia para a noite. No momento, colhem-se os depoimentos do doleiro Alberto Youssef. Se ele for tão colaborativo quanto Paulo Roberto, ficará mais difícil para os ratos colocar a culpa no queijo.

O maior problema é que a hecatombe só virá depois da eleição. Mantido no escuro, o eleitorado pode eleger no domingo não os melhores candidatos, mas uma série de explosões esperando para acontecer —2015 tornou-se um ano velho antes de nascer.

Note-se que as delações da Petrobras produziram na sucessão presidencial um fenômeno inusitado: Dilma Rousseff, a candidata oficial, orientada pelos seus marqueteiros, fala mais de corrupção do que seus antagonistas Aécio Neves e Marina Silva.

A presidente sustenta na sua propaganda eleitoral que nunca se combateu tanto a corrupção como nos governos petistas. Visto os dados das pesquisas, parece que os eleitores estão acreditando.

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