11 de out. de 2014

Paulo Câmara, governador eleito de Pernambuco: 'Brasil pode melhorar com Aécio'

BRASIL – Eleição 2014- 2º Turno
Paulo Câmara, Governador eleito de Pernambuco:
'Brasil pode melhorar com Aécio'
Afilhado político de Eduardo Campos, falando ao site da Veja, comenta a aliança com o presidenciável tucano. E diz: Marina perdeu para os ataques

Foto: Reprodução Facebook

Paulo Câmara (PSB), ao lado do filho de Eduardo Campos, João Henrique, durante comício na Mata Sul/PE -

Postado por Toinho de Passira
Reportagem Talita Fernandes
Fontes: Site Veja

Candidato a governador mais bem-votado do país, Paulo Câmara (PSB) obteve 68% dos votos em Pernambuco no último domingo – e carrega agora o peso de dar continuidade ao governo de seu padrinho político, Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 13 de agosto.

A chapa de 21 partidos com a qual disputou a eleição – também articulada por Campos – elegeu ainda vinte deputados federais, oito deles do PSB, e Fernando Bezerra Coelho ao Senado.

Aliado à comoção que tomou o Estado na esteira da tragédia que matou Campos, o forte palanque resultou, ainda, na vitória de Marina Silva em Pernambuco. Terceira colocada na disputa ao Planalto, ela obteve 48% dos votos no Estado.

Na quarta-feira, o PSB anunciou seu apoio ao candidato Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da corrida à Presidência. Câmara se torna, assim, um importante cabo eleitoral do tucano em Pernambuco. No dia seguinte ao encontro com Aécio em Brasília, o governador eleito recebeu a reportagem do site de VEJA na sede do PSB em Pernambuco. E afirmou:

"A única candidatura capaz de mudar é Aécio. Essa não era nossa candidatura dos sonhos, mas sim Eduardo e Marina. Mas o Brasil pode melhorar com Aécio. Nós estamos apostando nisso”. A seguir, confira a entrevista do socialista:

Como foram as conversas com Aécio Neves, a quem o PSB anunciou apoio no segundo turno?

Estamos entregando um conjunto de ações programáticas, que envolvem questões que o próprio PSB já tinha colocado, tanto por Eduardo quanto por Marina. Essas questões envolvem reforma política, reforma tributária, comprometimento de gastos com a saúde, pacto pela vida, e envolve também o passe livre. Envolve sustentabilidade. São questões programáticas às quais, num primeiro momento, Aécio não se mostrou contrário.

O passe livre é uma promessa que estava no programa do PSB, mas não aparecia entre as ações de Aécio. Ele vai assumir esse compromisso?

Ele já está estudando. Nosso apoio é condicionado a questões programáticas, como mostra a carta que entregamos a ele. Estamos com expectativas muito positivas porque ele se mostrou receptivo a tudo. Eu acredito que não vai ter problema porque ele quer governar com pessoas que tenham ideias boas para o Brasil. Não quer fazer uma aliança apenas eleitoral, quer uma aliança para governar o Brasil.

O PSB de Pernambuco foi um dos diretórios do partido que decidiram pelo apoio a Aécio. Foi uma decisão favorável para a sigla?

Tive o cuidado, aqui em Pernambuco, de conversar com os deputados federais eleitos, com os deputados estaduais eleitos, com um conjunto de pessoas que conhecem a realidade do Estado para saber qual era o sentimento, fora a minha opinião pessoal. Não houve nenhuma restrição ao apoio a Aécio. Há um sentimento muito forte em Pernambuco de que é preciso mudar. A única candidatura capaz de mudar é Aécio, apesar de ele não ser a candidatura dos nossos sonhos, que era a de Eduardo e de Marina. O Brasil pode melhorar com Aécio. Nós estamos apostando nisso.

Como foi a participação de Renata Campos (viúva do ex-governador) nesse processo?

Renata conversou com a gente e colocamos para ela todo o processo de escuta (dos membros do partido). Está muito serena e nos delegou a condução do processo. Está ciente de que o Brasil precisa melhorar. A gente não vê a possibilidade de melhorar do jeito que a gente quer com mais quatro anos do governo Dilma. A gente acha que o Brasil não quebra questões importantes que precisam ser quebradas, como as relações com o Congresso, o jeito de gerir 39 ministérios, a falta de previsibilidade e as instituições que não funcionam. A gente não acredita que isso tudo possa ser consertado com o conjunto de pessoas que estão aí porque eles tiveram quatro anos para fazer e não fizeram e estão entregando o Brasil pior do que receberam. Pioraram em tudo, não há nada melhor.

O que o senhor, como governador de Pernambuco, espera do governo federal em 2015?

Precisamos de previsibilidade, de saber o que vai ser feito para que a gente possa se organizar. O que não dá é ficar batendo na porta de mês em mês para saber respostas que não sejam devidamente pactuadas. Para você ter gestão é preciso ter previsibilidade. Eu vou ser um governador que vai priorizar a gestão. Eu preciso fazer um orçamento dentro das minhas receitas, dentro do que eu posso captar, dentro das minhas parcerias. É preciso ter regras claras do jogo para poder governar. Nós vamos exigir isso. Esperamos do próximo governo federal, e esperamos que o Aécio ganhe, que ele tenha compromisso com isso: que as instituições funcionem, que as regras sejam claras, como ele fez em Minas. Ele fez um governo que deu resultado.

Foto: Divulgação

O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) indicando o afilhado político Paulo Câmara (PSB).

A poucos dias das eleições, o senhor deu uma declaração dizendo que não tinha se preparado para ser governador sem Eduardo Campos. Como é governar o Estado após a morte dele?

Eu não disse que eu não tinha me preparado. Disse que tivemos uma fatalidade ao longo do processo e que não tinha parado para pensar em governar Pernambuco sem ele. Eu fui candidato porque eu tinha as condições e preparo administrativo e político para ser governador. Agora, eu gostaria muito de ter Eduardo perto de mim, até por questões emotivas. Eu convivi com ele por vinte anos, fui secretário dele por oito anos e falava com ele todos os dias. Vai fazer muita falta para o resto da minha vida, não tenho dúvida disso. Quando falei isso, me referia às questões emocionais, afetivas. Eu via a vibração que ele tinha com o sucesso de Geraldo (Geraldo Júlio, prefeito de Recife, eleito em 2012 pelo PSB) e gostaria muito que tivesse também essa oportunidade de me ver como governador, fazendo aquilo que ele tinha me pedido e com o que eu tinha me comprometido. E é isso que eu vou fazer. Só que eu vou fazer sem ele estar junto.

Como o senhor avalia o desempenho do PSB nas eleições presidenciais? Marina Silva chegou a liderar nas pesquisas e acabou ficando fora do segundo turno. Onde está o erro?

Eu acho que Marina foi muito atacada e não teve muitos instrumentos de defesa. Ela tinha pouco tempo de televisão e não tinha espaço para se defender. Isso pesou muito.

Mas teve muita gente dizendo que o desempenho dela foi prejudicado porque ela não quis se valer de alguns palanques regionais, caso de São Paulo...


Eu não tenho um diagnóstico nacional. Marina era mais conhecida que Eduardo. A gente sempre achou que ele cresceria aos pouquinhos, mas Marina cresceu mais rápido. Nossa previsão era de que ele chegaria ao segundo turno, mas crescendo no mês de setembro. A eleição para presidente é diferente, o debate é mais intenso. Eu não tenho muitos elementos para avaliar os erros da campanha de Marina. Mas a ausência de instrumentos de defesa a prejudicou. Disso eu não tenho a menor dúvida. Houve muito ataque e ela não teve a oportunidade de desmentir.

Quais os principais desafios que acredita que terá como governador?

O resultado da eleição mostra claramente que a população quer manter essa forma de governar. Os nossos programas são conhecidos como programas que dão resultado. Isso me anima porque eu fiz parte desse projeto. A forma de governar que Eduardo implementou é a forma em que acredito. O resultado me dá a tranquilidade necessária para continuar nesse caminho. Claro, aperfeiçoando o que for necessário. A gente já tem uma linha, um norte, um caminho que seguir a partir de primeiro de janeiro, com muita transparência. Nosso programa de governo é nosso instrumento inicial. Agora, será priorizado o que vai ocorrer em 2015, 2016, 2017. Isso vai acontecer dentro de um projeto que chamamos “Todos por Pernambuco”. Vamos para as doze regiões do Estado fazer plenárias, falando com a população. Isso vai ser feito no primeiro semestre de 2015. A gente tem muita coisa para continuar. Vamos seguir nesses caminhos, melhorando os indicadores sociais, como educação e saúde.

Pernambuco avançou muito em questões econômicas. Mas o Estado tem ainda indicadores sociais preocupantes. Eduardo Campos falava muito em programas como a escola tempo integral e o Pacto pela Vida. Como esses programas ficarão no seu governo?

Nós temos hoje 300 escolas em tempo integral. Tínhamos treze em 2007 (quando Campos assumiu o governo). A meta é universalizar até o fim do governo, em quatro anos. O Pacto pela Vida reduziu o índice de homicídios em 40% nos últimos anos sete anos. Este ano começamos mal, mas estamos melhorando. A meta de reduzir para 12% está mantida. Vamos fazer o que ele fez: assumir pessoalmente o programa, o compromisso. Temos a necessidade de investirmos mais em pessoal, em mais equipamentos, como comprar mais câmeras de segurança, o que fez bons resultados em alguns municípios, como no Recife. Além disso, temos que fazer com que o governo federal assuma seu papel, principalmente nessa questão das drogas.

Qual é a marca que o senhor quer deixar no seu governo?

Quero ser um governador que vai cumprir os compromissos, como o Eduardo foi. A minha marca será cumprir o programa de governo, deixando o Estado melhor do que eu recebi.

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