30 de out. de 2014

Aliados e rivais tratam Dilma como pão dormido - Josias de Souza

BRASIL – Política
Aliados e rivais tratam Dilma como pão dormido
A conjuntura envenenada sonegou a Dilma a lua-de-mel que costuma ser concedida aos recém-eleitos.

Foto: Arquivo

O ano de 2015 chegou para Dilma com dois meses de antecedência

Postado por Toinho de Passira
Texto de Josias de Souza
Fonte: Blog do Josias de Souza

“Essa presidenta está disposta ao diálogo”, disse Dilma Rousseff no discurso em que agradeceu a vitória apertada que o eleitor lhe concedeu. “Esse é o meu primeiro compromisso no segundo mandato: o diálogo”. A oradora distribuiu acenos à oposição, aos aliados e até aos empresários. No dia seguinte, um deputado do PT divertia-se: “Dilma estava completamente fora de si.”

Se o primeiro mandato de Dilma ensinou alguma coisa aos seus interlocutores foi que, para a presidente, o bom diálogo é quando ela obriga o outro a calar a boca. Portanto, essa Dilma com a mão estendida era uma pose inteiramente nova. Que a maioria das pessoas não levou a sério. Menos de 48 horas depois, aliados e rivais já tratavam a suposta novidade como pão dormido.

Liderados pelo PMDB do vice-presidente Michel Temer, partidos governistas juntaram-se à oposição para emboscar Dilma no plenário da Câmara na noite passada. Mandaram à lata do lixo o decreto presidencial que enganchava conselhos populares no organograma de todos os órgãos públicos. Apenas três partidos ficaram do lado de Dilma: PT, PCdoB e oposicionista PSOL.

Em vídeos veiculados na internet, Aécio Neves e Marina Silva, os dois principais antagonistas de Dilma na disputa eleitoral, ergueram as lanças. “O governo que se reelege não conta com prazos longos”, disse Marina. “Desde já, precisa dar sinais de mudança na condução da economia…”

E Aécio: “…Estarei atento e vigilante, para que cada compromisso da campanha seja agora cumprido, senão será denunciado.” Ambos cobram providências, não apertos de mão.

Nos subterrâneos, Dilma discute com pessoas próximas a composição do próximo governo. Pelo que se ouve, não são negligenciáveis as chances de montar um ministério convencional, rateado entre os partidos do conglomerado governista. Algo que a obrigará a conversar com pessoas que precisam de interrogatório, não de diálogo.

Anunciada no discurso de domingo, a ideia de promover uma reforma política precedida de plebiscito já foi abatida em pleno voo. O vice Michel Temer e os presidentes da Câmara e do Senado — Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros— jogaram água fria na tese. Admitiram, no máximo, um referendo, consulta feita após a aprovação. Dilma viu-se forçada a ensaiar uma meia-volta.

Como se fosse pouco, o PMDB deve confirmar nesta quarta-feira a recondução do deputado Eduardo Cunha (RJ), desafeto da presidente, à liderança do partido. Ele se equipa para virar presidente da Câmara. E ergue barricadas contra o projeto petista de regular a mídia, encampado por Dilma.

A conjuntura envenenada sonegou a Dilma a lua-de-mel que costuma ser concedida aos recém-eleitos. O ano de 2015 chegou para Dilma com dois meses de antecedência. O mercado espera que ela anuncie o nome do novo ministro da Fazenda. É coisa para ontem. O futuro chega com tal rapidez para Dilma que já está atrás dela.

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