5 de fev. de 2014

Luz e sombras: candidato Eduardo Campos bate forte no governo Dilma

BRASIL - Eleição 2014
Luz e sombras: candidato Eduardo Campos bate forte
O Palácio do Planalto assustou-se com o tom elevado das críticas do governador Eduardo Campos, como se ainda esperasse espaço para negociar apoios num segundo turno com o ex-companheiro.

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Eduardo Campos: “Não há ninguém que ache que mais 4 anos do que está aí vai fazer bem ao povo brasileiro. Nem eles mesmos.”

Postado por Toinho de Passira
Texto de Merval PereiraBlog do Merval

Os deuses parecem estar ao lado do governador Eduardo Campos. Quase ao mesmo tempo em que ele apresentava o primeiro esboço do que será o seu programa de governo caso vença a eleição para a Presidência da República em outubro, um apagão de grandes proporções tomou conta de boa parte do país, deixando mais de 3 milhões de unidades consumidoras sem energia.

O acidente, ainda sem explicação oficial, parecia dar razão a Campos quando ele afirmava que “o governo saiu dos trilhos”. Não se sabe ainda o que ocasionou a falta de luz, mas mesmo o governo dizendo que o caso nada tem a ver com o consumo elevado devido ao calor, fica a sensação de insegurança quanto ao sistema elétrico em si, que vem sofrendo apagões freqüentes.

Campos parece querer com sua fala marcadamente oposicionista enfatizar essa insegurança que detecta no cidadão comum: “Não há ninguém que ache que mais 4 anos do que está aí vai fazer bem ao povo brasileiro. Nem eles mesmos.”


O governador pernambucano foi cuidadoso ao centrar suas críticas no governo Dilma, deixando sempre claro a distinção entre ele e o governo Lula, do qual foi Ministro: “Onde vamos temos a clara percepção de que o Brasil parou, de que saiu dos trilhos, que estava avançando no sentido de acumular conquistas e mais do que de repente teve a sensação de freada e de desencontro”.

O Palácio do Planalto assustou-se com o tom elevado das críticas do governador Eduardo Campos, como se ainda esperasse espaço para negociar apoios num segundo turno com o ex-companheiro. A também ex-ministra Marina Silva, na campanha de 2010, comportou-se não como uma candidata de oposição, mas como quem estava acima dos dois partidos hegemônicos, PT e PSDB, considerando-os igualmente nocivos à política brasileira.

Ela continua na mesma, mas não consegue levar Eduardo Campos a essa posição radical de negação da política partidária. Em nome dela, quer que o PSB não apóie o PSDB em São Paulo, mas, no entanto, deseja manter o apoio a seu grupo político no Acre, onde o PT permanece comandando o governo estadual há muitos anos.

Ontem Campos mostrou qual será o nível de seu engajamento na oposição, dando pouca margem a dúvidas sobre qual será sua posição na eventualidade de o senador Aécio Neves vir a ser o representante da oposição num segundo turno. O compromisso que os dois já assumiram de apoio recíproco corresponde à linguagem dura que o governador de Pernambuco utilizou ontem no lançamento de seu pré-programa de governo.

Ao afirmar que “não há justiça social sem desenvolvimento” Campos deixou claro qual será o centro de seu governo, a educação. Em vez de detalhar quais são seus planos para chegar à meta principal, o que certamente constará do programa final que será lançado no meio do ano, depois de seminários e debates, Campos resumiu em uma frase o que quer ver no país de seus sonhos: “Sonho em ver um dia um cidadão da classe média, um empresário, matriculando seu filho na escola pública brasileira”.

A exemplo do que já fez o senador Aécio Neves, virtual candidato do PSDB à Presidência da República, o governador de Pernambuco atacou o inchaço da máquina pública com seus 39 ministérios, atribuindo-o à necessidade de o governo acomodar os diversos partidos aliados: “O Estado não pode ser apropriado pela estrutura, pelos partidos políticos. Esse padrão está esgotado”, afirmou Campos.

A ex-senadora Marina Silva aproveitou a deixa para atribuir “à velha política” a troca de cargos por apoio político, criticando a troca de ministros da Educação que, para ela, foi feita para acomodar aliados pensando na próxima eleição.

O tom elevado das críticas já demonstra que as oposições estarão mais próximas entre si na disputa presidencial do que nunca estiveram.
*Alteramos título, acrescentamos subtítulo, foto e legenda à publicação original

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