17 de dez. de 2013

Cabral a bordo, de Ricardo Noblat

BRASIL - Comentário
Cabral a bordo
Cabral mora no Leblon, a curta distância da Lagoa Rodrigo de Freitas. Escoltado por seguranças, ele ia de carro até a Lagoa e, de lá, de helicóptero para o Palácio Guanabara - um voo de 10 minutos. Nos fins de semana embarcava com a família, empregados e cachorro, para Mangaratiba.

Foto: Oscar Cabral/Veja

Sergio Cabral, governador do Rio de Janeiro, tomando o helicoptero para ir trabalhar

Postado por Toinho de Passira
Texto de Ricardo Noblat
Fontes: Blog do Noblat

Ou o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) já não está mais aí para nada ou foi vítima de um dos defeitos mais flagrantes de sua personalidade – a arrogância.

Que tal um governador flagrado utilizando helicópteros do Estado para viajar com a família nos fins de semana à sua casa de veraneio?

Diante do escândalo, ele assina decreto tornando seus passeios impossíveis. Depois, simplesmente volta a voar.

Pois é disso que se trata. Em julho último, a VEJA descobriu que Cabral abusava da utilização dos helicópteros oficiais.

Cabral mora no Leblon, a curta distância da Lagoa Rodrigo de Freitas. Escoltado por seguranças, ele ia de carro até a Lagoa e, de lá, de helicóptero para o Palácio Guanabara - um voo de 10 minutos. Nos fins de semana embarcava com a família, empregados e cachorro, para Mangaratiba.

Ali, num condomínio de luxo, Cabral construiu duas casas valorizadas pela paisagem paradisíaca da baia de Sepetiba e pela proximidade com Angra dos Reis e Parati.

Com frequência, um dos helicópteros fazia mais de um voo às sextas-feiras e aos domingos para levar e trazer a comitiva de Cabral. Na época, ensaiou-se a desculpa de que o uso dos helicópteros se devia a razões de segurança. Não colou.

Então, humildemente, Cabral desculpou-se e assinou um decreto restringindo o uso de helicópteros ao “governador, vice-governador, chefe de poderes, secretários e presidentes de autarquias e de empresas públicas”.

Foto: Oscar Cabral/Veja
I
Juquinha, o cachorrinho da família, era um dos mais assíduos passageiros da esquadrilha de Cabral, foi o único que foi alijado. Por enquanto

Teve o cuidado de registrar que os helicópteros só poderiam ser requisitados para “atividades próprias do serviço público”. Como suas viagens de fim de semana nada tinham a ver com tais atividades... Cabral suspendeu-as.

Até que na semana passada a Folha de S. Paulo anunciou em seu site: Cabral voltou a se valer dos helicópteros do Estado para ir veranear em Mangaratiba com a família e empregados. Notou-se a ausência do cachorro.

A mesma desculpa esboçada da vez anterior foi sacada desta: razões de segurança. Cabral atendeu a recomendação da Subsecretaria de Segurança Militar da Casa Civil. Ele é um alvo precioso para traficantes e bandidos. Não pode se arriscar.

Palavras de Cabral: “Infelizmente, o fato de ser governador impõe que temos que enfrentar a segurança pública, a marginalidade, o tráfico de drogas. Para ganhar essa luta difícil, o gabinete militar impõe a mim e à minha família restrições. E eu tenho que segui-las por uma questão de segurança”.

O poder da bandidagem deve ter aumentado muito entre julho último, quando Cabral renunciou aos voos a Mangaratiba, e agora, quando os retomou.

Não faz sentido que o poder tenha se mantido o mesmo e, no entanto, Cabral tenha mudado sua conduta.

Ou faz sentido, sim, se admitirmos que Cabral possa estar mentindo – ele e seus assessores.

O governador é obrigado a comparecer diariamente ao seu local de trabalho – e nada mais natural, no Rio ou em qualquer outro lugar, que seja acompanhado por seguranças.

Não é obrigado a veranear nos fins de semana. Se o fizer que seja às suas próprias custas.

Cabral vai mal. Entre os 17 governadores do país é o quarto pior avaliado.

Há três anos foi um dos cabos eleitorais mais cortejados por Lula para eleger Dilma presidente. Lula já o abandonou. O PT terá candidato ao governo do Rio – o senador Lindberg Farias.

Foi tal o número de erros políticos cometidos por Cabral que a maioria dos políticos quer distância dele. O que Cabral fez de mais certo – as UPPs – está a perigo.

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