15 de jul. de 2013

THE NEW YORK TIMES: Saíram pela culatra, as tentativas da presidenta do Brasil para aplacar manifestantes

BRASIL – Imprensa americana
THE NEW YORK TIMES:
Saíram pela culatra, tentativas da presidenta Dilma
em buscar acalmar protestos que abalaram o Brasil*
"Primeiro quis convocar uma Assembléia Constituinte, depois mudou de ideia e sugeriu um plebiscito. Seu governo prometeu mais dinheiro para a educação e saúde, com dinheiro de royalties de petróleo que ainda não existem. Seus assessores falam em reduzir o número de ministros, do atual incômodo contingente de 39 e de tornar mais fácil ao povo peticionar para criar novas leis. Essas propostas porém parecem não satisfazer o povo, que continua a criticar o desempenho do seu governo" – diz o jornalista Larry Rohter

Foto: Pablo Porciuncula/Agence France-Presse - Getty Images

A presidente Dilma Rousseff anunciou uma série de iniciativas para atender às demandas dos manifestantes. A mais recente, um plano para melhorar o atendimento médico através do envio de 10 mil médicos para áreas carentes, gerou mais protestos porque o plano prevê que a maioria dos médicos seriam contratados no exterior.

Postado por Toinho de Passira
Texto de Larry Rohter
Fontes:   The New York Times, O Globo

Publicada na edição impressa do The New York Times deste domingo, 14, reportagem do jornalista americano, Larry Rohter, que foi correspondente no Brasil, de várias publicações USA, por mais de três décadas, fala sobre a inabilidade da presidente Dilma Rousseff em compreender e atender os desejos do manifestantes brasileiros.

Transcrevemos uma tradução livre da matéria que pode ser lida no original, em inglês, no site do The New York Times.

A

presidente Dilma Rousseff tentou acalmar os protestos que abalaram as ruas do Brasil, aparentemente fazendo concessões aos manifestantes buscando atender as suas demandas. Mas quase sempre suas inciativas saíram pela culatra e só fizeram aumentar a insatisfação popular, ao avaliar seu desempenho á frente do governo.

"Nossos líderes políticos, tanto Dilma como os congressistas, por não terem uma compreensão clara do que está acontecendo, estão respondendo com meros gestos", disse Cristovam Buarque, senador e ex-ministro da Educação. "Quer se trate de royalties do petróleo ou plebiscitos, a agenda nos dias de hoje nada mais é marketing, marketing, marketing, marketing puro."

Uma das principais demandas dos manifestantes, arrefecidos atualmente, embora continuem a ser uma força política temida e poderosa, tem exigido que "o nível do padrão Fifa", aplicado nos estádios da copa extensa-se para os cuidados da saúde e educação.

Num esforço para atender as manifestações, Dilma Rousseff anunciou na semana passada um novo programa que pretende enviar, a partir de setembro, milhares de médicos para favelas urbanas e em áreas remotas como a Amazônia que não possuem serviços médicos adequados.

Mas acontece que o plano do governo tem a intenção de buscar no exterior, em países como Portugal, Espanha e, talvez, Cuba, profissionais de saúde para preencher muitas dessas vagas, uma decisão que imediatamente revoltou os médicos brasileiros, que são mal pagos e sobrecarregados de trabalho, em comparação com muitos dos seus pares em outros países.

Associações médicas brasileiras ameaçadas de ir à justiça para impedir a iniciativa, descrevendo-o como um truque de irresponsável marketing, enquanto ameaçam com uma greve geral.

"Eu insisto em começar por corrigir um conceito", disse Dilma, claramente na defensiva, quando anunciou o novo projeto. "O programa mais médicos" não têm como principal objetivo trazer médicos do exterior, mas levar melhores serviço de saúde para o interior brasileiro."

Na quarta-feira, Dilma compareceu a reunião, em Brasília, com a presença de cerca de 5.570 prefeitos do país, onde anunciou que $1, 3 milhões dólares seria disponibilizados aos municípios, para as áreas da saúde através de um fundo especial do governo. Mas os prefeitos estava esperando um pacote de duas vezes maior, e sem cerimônia vaiaram a presidenta – a reunião que era para demonstrar novas providências, acabou exibindo mais frustração.

"Se ela (Dilma) estava indo para dar-lhes a metade do que eles queriam, deveria ter usado o rádio para anunciar e se poupado da vergonha" de ser vaiada publicamente, disse Bolívar Lamounier, um analista político de São Paulo . "O que estamos vendo agora, era evidente durante a campanha: ela não tem nenhum jogo de cintura, ela não sabe como articular."

Dilma parece estar pagando o preço por sua falta de experiência política e capacidade. Economista por formação, ela nunca havia sido eleita par nenhum cargo público, servindo apenas em estatais federais e ministeriais antes de Luiz Inácio Lula da Silva, seu antecessor, que a escolheu para participar como candidata do Partido dos Trabalhadores a eleição de 2010. Ajudada por sua popularidade, ela venceu com folga.

No auge dos protestos no mês passado, Dilma fez questão de procurar o ex-presidente Lula, um mestre de manobras políticas, para aconselhar-se. Mas, em vez de convocá-lo à Brasília para conversar, ou consultá-lo em privado, por por telefone, ela foi encontrá-lo em sua própria casa, em São Paulo, deixando a impressão, para a maioria dos brasileiros que ela não estava no controle e era ele ainda que estava no comando.

Para corrigir, numa próxima consulta, o chamou à Brasília. Mas a desaprovação dentro do Partido dos Trabalhadores, inclusive entre os membros do Congresso preocupados com sua própria sobrevivência nas eleições do próximo ano, tem alimentado especulações nos meios de comunicação e discussão no partido sobre a possibilidade de Lula, possivelmente retornar como candidato do partido se a espiral descendente de Dilma continuar.

"Ela é uma boa chefe de governo e uma boa administradora, mas agora ela também tem que assumir o papel de líder, e essa é a parte difícil", disse Jorge Viana, um senador que é membro do Partido dos Trabalhadores e um defensor da presidenta. "É aí que nós sentimos a ausência de Lula, porque Lula é um grande líder, com instintos fantásticos e uma enorme sensibilidade para o diálogo."

Dilma não tem tido capacidade para lidar com o clamor popular por uma faxina política, do que teve com as demandas sociais. Em resposta ao desgosto público com um sistema político visto como corrupto e insensível, Dilma apresentou uma proposta desastrada após outra - uma opinião partilhada por 81 por cento dos entrevistados em uma pesquisa publicada no mês passado pelo Datafolha , uma conceituada empresa de pesquisa brasileira.

Depois da ideia original de uma Assembléia Constituinte que encontrou resistência imediata, por exemplo, Dilma abraçou a idéia de um plebiscito. Mas o Congresso votou contra a proposta na semana passada , em parte devido a preocupações de que seria inconstitucional um plebiscito na forma que o governo estava oferecendo.

Agora, Dilma e sua equipe estão pressionando os legisladores para aprovar um pacote de reforma política às pressas, uma ou outra versão de definhava no Congresso desde meados da década de 1990. Mas a oposição, a mídia e o povo parece desconfiado com a iniciativa, que é vista por alguns críticos como uma tentativa do Partido dos Trabalhadores tentar criar condições que lhe permitam permanecer no poder para sempre.

"Tudo é improvisado, sem uma preparação adequada, e não apenas a idéia de assembléia constituinte, que foi baseado em uma suposição tola", disse Fernando Limongi, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e professor de ciência política na Universidade de São Paulo.

"Em uma situação como essa, a única coisa que você pode fazer é tentar tomar a iniciativa e definir a agenda", disse ele. "Mas o que é preocupante é que não parece ser uma agenda, o que o governo propõe improvisando".

O descontentamento popular, que também é dirigido a partidos de oposição e os seus líderes, pegou claramente Dilma e seus assessores desprevenidos, como fez quase todos os outros.

Depois de uma década em que milhões de brasileiros subiram da pobreza para a classe média, as matrículas universitárias dobraram, o emprego e os salários cresceram espetacularmente e a desigualdade social diminuiu, eles esperavam que os beneficiários dessas mudanças estivessem satisfeitos e gratos.

"O governo tem vivido em um certo isolamento, uma espécie de zona de conforto, depois de 10 anos, porque tudo parecia estar indo tão bem", disse o senador Jorge Viana. "Estávamos voando na velocidade de cruzeiro, 'Tudo estava bem, para o comandante, e agora nós emergimos nessa grande turbulência."


*Artigo publicado na edição impressa do The New York Times, em 14 de julho de 2013, na página A-11, edição de Nova York, com o título: “Brazilian President’s Attempts to Placate Protesters Backfire” (“As tentativas da presidente brasileira para aplacar Manifestantes saíram pela culatra”).

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