3 de jul. de 2013

O "padrão Felipão" e os autoelogios de Dilma, de José Fucs, para a Revista Época

BRASIL - Opinião
O "padrão Felipão" e os autoelogios de Dilma
Se o governo da "gerentona" realmente tivesse a qualidade do treinador brasileiro, ela não precisaria falar isso para promover a si mesma

Foto: Eugene Hoshiko/Associated Press

Felipão e sua equipe comemoram o título conquistado neste domingo (30) pelo Brasil no Maracanã. Mesmo depois da vitória espetacular sobre a Espanha, nem Felipão, nem os craques da seleção "arrotaram" superioridade sobre os adversários

Postado por Toinho de Passira
Texto de José Fucs, para a revista Época
Fonte: Revista Época

A afirmação da “presidenta” Dilma de que o seu governo “é padrão Felipão” revela muito de de seu estilo pessoal, assim como as estratégias e práticas políticas adotadas por ela mesma, pelo ex-presidente Lula e por outros dirigentes petistas, para tentar demonstrar sempre uma pretensa superioridade sobre os adversários.

Quem realmente é “padrão Felipão” dificilmente precisa dizer isso em público, como uma peça de autopromoção barata. Um dos aspectos mais característicos do “estilo Felipão” é justamente a ausência de qualquer traço da arrogância que sobra a Dilma, a seu padrinho Lula e a muitos “companheiros” do PT.

Mesmo depois da vitória especular do Brasil sobre a Espanha e da conquista da Copa das Confederações, Felipão e os atletas brasileiros em nenhum momento "arrotaram" superioridade sobre os adversários, como costumam fazer dona Rousseff, Lula e seus correligionários, mesmo em ocasiões menos nobres.

Quem não se lembra das declarações de Dilma em Londres, durante a abertura da Olimpíada de 2012? Perguntada por repórteres qual era a sua opinião sobre a cerimônia realizada pelos ingleses, Dilma mostrou toda a sua truculência, conhecida de perto por seus subordinados, mas até então pouco divulgada no exterior. Ao contrário do que seria de se esperar de uma visitante ilustre, capaz de enxergar um palmo além do próprio umbigo, Dilma não disse que “a beleza da abertura londrina colocou para o Brasil o enorme desafio de realizar uma cerimônia do mesmo nível”. Tampouco afirmou que “o Brasil terá de se desdobrar para fazer uma abertura com a mesma qualidade da cerimônia de Londres”. Mostrando uma terrível falta de polidez com os anfitriões, Dilma simplesmente declarou, para surpresa das almas mais generosas e diplomáticas: "Nós vamos fazer muito melhor, vamos levar uma escola de samba e abafar". Como se diz por aí, “gente fina é outra coisa”, certo?

Faltou Dilma dizer também a qual Felipão quis se referir ao afirmar que o seu governo tem o padrão de qualidade implementado pelo técnico brasileiro na seleção. Ela estava se referindo ao Felipão que conquistou a Libertadores da América com o Palmeiras e a Copa de 2002 com o escrete nacional? Ou será que ela estava falando do Felipão que levou o Palmeiras para a segunda divisão do Brasileirão? Ela estava se referindo ao Felipão que ganhou a Copa das Confederações ou ao que foi expelido do Chelsea, da Inglaterra, poucas semanas depois de ter assumido o comando técnico da equipe? Felipão, que não é bobo nem nada, sabe que não é infalível e por isso jamais dá declarações garganteando seus feitos – uma sabedoria que Dilma e a companheirada certamente não têm, como qualquer brasileiro pode observar desde que o PT assumiu o poder, em 2003. Se a presidente Dilma, o ex-presidente Lula e outros caciques do governo federal e do PT tivessem 10% da humildade demonstrada por Felipão e pelos craques da seleção, o Brasil certamente estaria muito melhor.

Considerando o que está acontecendo no mundo real, longe das fantasias do Palácio do Planalto, com o pau comendo nas ruas há quase um mês, é difícil acreditar que a “presidenta”, como ela gosta de ser chamada, tenha tido o desprendimento de fazer uma declaração do gênero. Embora tenham começado por causa do aumento das tarifas de ônibus, os protestos continuam até hoje, em boa medida, por causa dos equívocos de Dilma e de sua equipe na política econômica do país.

Graças à insegurança que seu governo gerou nos agentes econômicos com tanto vai e vem nas regras do jogo, o fantasma da inflação,que vem superando o teto da meta, de 6,5%, há meses, voltou a assustar os brasileiros. A economia patina, os investimentos não decolam. Se seu governo fosse mesmo "padrão Felipão", como diz Dilma, provavelmente o elogio partiria de terceiros, sem envolvimento direto com o governo, e não dela mesma ou de algum de seus vassalos. Se a sua declaração tivesse alguma correspondência com a realidade, Dilma dificilmente teria tomado um tombo de 21 pontos na pesquisa de intenção de voto do Datafolha para presidente, na qual ele teve uma queda de 51% para 30% nas preferência dos eleitores. Ela também não teria levado uma vaia histórica na abertura da Copa das Confederações, no estádio Mané Garrincha, nem fugido do Maracanã na final que deu o título do torneio ao Brasil, para evitar novos apupos com transmissão ao vivo para o mundo todo.

Diante dos fatos, um pouco de “simancol” não faria nada mal a Dilma, a Lula, aos caciques do PT e ao marqueteiro preferencial de ambos, o jornalista João Santana. No final, acho que quem está com a razão é o senador Jarbas Vanconcelos, que recentemente fez uma sugestão mais do que apropriada ao caso, lembrada também pelo colunista de ÉPOCA, Guilherme Fiuza: “O PT deveria criar o Bolsa Óleo de Peroba, tamanha é sua cara de pau”.

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