26 de jun. de 2013

Dilma, a mal amada

BRASIL – Eleição 2014
Dilma, a mal amada
Ela é quase uma unanimidade, o resultado nas pesquisas demonstram desaprovação, os manifestantes vaiam, os petista e base aliada conspiram: "Nossa conversa dentro do Congresso é uma só: a Dilma tem nosso apoio, mas não tem nossa solidariedade, disse um dos líderes da base aliada. "Podemos dizer que não houve elogios", resumiu um integrante da bancada, referindo-se ao governo Dilma, ao sair de uma reunião de integrantes do PT depois do anúncio do pacto nacional feito pela presidenta.

Foto: Marcos Alves / Agência O Globo

VOLTA LULA? - A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula no evento de comemoração de 10 anos do PT no poder, em fevereiro, em São Paulo

Postado por Toinho de Passira
Fontes: O Globo, Estadão, Blog do Noblat, Jornal do Brasil

A queda de popularidade do governo Dilma Rousseff, registrada em pesquisas recentes (Datafolha e CNI/Ibope), somada ao desgaste inevitável provocado pelas manifestações que tomaram conta das ruas do país, reforçou um sentimento latente na militância do PT: o desejo de que o ex-presidente Lula volte nas eleições do ano que vem.

Lideranças petistas negam a insatisfação da base partidária com Dilma e se apressam em sepultar a discussão, afirmando que abrir o debate do “volta Lula” seria um tiro no pé.

Reservadamente, no entanto, parte deles admite o clima que cresce não só entre a militância, mas também entre parlamentares petistas e da base aliada.

— No sistema que temos de eleição e reeleição, qualquer situação de fragilidade dentro do próprio partido é um tiro no pé. Essa discussão é de quem acha que o governo vai mal —afirmou o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), egresso do sindicato dos bancários.

A conversa na militância, no entanto, é outra. A única convergência é que a base do partido, disciplinada, concorda que não dá para fazer esse debate publicamente porque enfraquece a administração Dilma.

— Se tivesse uma prévia hoje no PT, Lula teria 100% dos votos — afirmou um petista que trabalha no governo federal.

O único que falou abertamente sobre o assunto foi o senador Paulo Paim (PT-RS), dois dias depois de pesquisa Datafolha mostrar queda de oito pontos na popularidade do governo Dilma.

— A luz amarela acendeu e temos que ter cuidado para não entrar no vermelho. Tem gente no PT que acredita que ele (Lula) pode voltar. Se for preciso, ele volta — disse Paim na ocasião.

As reclamações em relação a Dilma entre parlamentares da base aliada, inclusive do PT, sindicalistas, empresários e movimentos sociais são anteriores às pesquisas que mostraram a queda na popularidade e às manifestações de rua.

Diante do descontrole e da radicalização que marcaram as manifestações da última quinta-feira, a avaliação de que a entrada de Lula na disputa presidencial do ano que vem seria uma possibilidade concreta extrapolou o PT e esteve presente na conversa de aliados, como o PMDB.

Na noite de quinta-feira, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que havia acabado de chegar da Rússia, fez essa avaliação em uma roda:

— Desse jeito, vai ressurgir com força o “volta Lula” — afirmou Henrique Alves, de acordo com interlocutores.No Congresso, principalmente na Câmara, as reclamações da base aliada são recorrentes. Apesar de ter maioria nas duas Casas, o governo tem enfrentado problemas em algumas votações como na Medida Provisória dos Portos.

Deputados e senadores se queixam do estilo seco e centralizador da presidente; da falta de diálogo, inclusive sobre os projetos enviados; e do não cumprimento de acordos.

Uma liderança peemedebista resume a falta de empatia entre Dilma e sua base de sustentação:

— Nossa conversa dentro do Congresso é uma só: a Dilma tem nosso apoio, mas não tem nossa solidariedade. Uma liderança peemedebista resume a falta de empatia entre Dilma e sua base de sustentação:

— Nossa conversa dentro do Congresso é uma só: a Dilma tem nosso apoio, mas não tem nossa solidariedade.

A relação de Dilma também é azeda com movimentos sociais e empresários. Sindicalistas, acostumados com o espaço que tinham no governo Lula, se ressentem com a dificuldade que têm para serem recebidos por Dilma. Já o empresariado considera a presidente intervencionista. Lula tem recebidos esses setores, ouvido as queixas e tentado sensibilizar Dilma.

"Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor!"
Pesquisa CNI/Ibope, divulgada na última quarta-feira, confirma levantamento feito pelo Datafolha uma semana antes. As duas apontaram uma queda de oito pontos percentuais na aprovação do governo Dilma.

A CNI/Ibope demonstrou ainda um pessimismo da população em relação ao restante da gestão petista. A pesquisa ouviu 2.002 eleitores, em 142 municípios, entre os dias 8 e 11 de junho, portanto, antes da violenta repressão policial aos manifestantes, no dia 13, e antes de o movimento se espalhar por todo o país, chegando inclusive a cidades do interior.

De acordo com a pesquisa, 55% dos eleitores consideram o governo bom ou ótimo. Em março, eram 63%. Para 13%, a gestão dela é ruim ou péssima, um aumento de oito pontos percentuais em relação a março, quando apenas 7% tinham essa avaliação. O índice de regular teve uma variação de 29% para 32%.

Na tentativa de sepultar o “volta Lula”, o ex-presidente lançou antecipadamente a candidatura de Dilma à reeleição, em evento do PT, no início deste ano. A vacina, no entanto, teve prazo de validade curto.

Diante do quadro atual, menos de 24 horas depois de a presidente Dilma Rousseff anunciar um pacto nacional com medidas para tentar amenizar os protestos nas ruas, uma reunião de integrantes do PT serviu de palco para criticas contra a mandatária.

"Podemos dizer que não houve elogios", resumiu um integrante da bancada do PT ouvido pelo Estado.

O encontro, realizado em Brasília, foi comandado pelo presidente do partido, Rui Falcão, e teve na plateia os membros da bancada do partido na Câmara.Entre as queixas externadas estava a atuação de Dilma na área econômica considerada por alguns como conservadora.

"O ponto em questão é que vemos desoneração para todo lado para as empresas o que gera uma concentração de renda. O certo era ampliar, por exemplo, a tabela de isenção do Imposto de Renda, é ai que está o trabalhador", disse um petista sobre condição de anonimato.

Além das críticas na atuação na área econômica, também houve quem cobrasse uma maior interlocução da presidente com o partido. Segundo alguns petistas ouvidos pelo Estado nem mesmo Rui Falcão ficou sabendo do anúncio realizado na véspera por Dilma no Palácio do Planalto.

Dentro de um clima de "desabafo" não houve quem verbalizasse o desejo de um movimento "volta Lula" numa possível disputa em 2014.

Mas de acordo com alguns petistas, esse sentimento ficou explicito nas comparações entre os dois governos. "No tempo do Lula o DNIT fez muita coisa. Nesse dois anos e meio de Dilma nada", disse um deputado do partido, segundo presentes no encontro.

Do lado de fora da reunião, os parlamentares desviaram o foco das críticas dizendo que todos apoiam as medidas anunciadas por Dilma. Mas por certo o “volta Lula” é uma sombra cada vez maior sobre Dilma e sobre o país.

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