22 de mai. de 2013

Tornados e alimentos, de Míriam Leitão, para O Globo

BRASIL – Economia – Opinião
Tornados e alimentos
“Enquanto os cientistas discutem, a constatação que se pode fazer é que os eventos climáticos extremos já estão ficando mais rigorosos e mais frequentes. E isso atinge a produção de alimentos em alguns países mais importantes para o abastecimento mundia”l.

Foto: Associated Press

O tornado monstruoso que devastou a Oklahoma, na segunda-feira, 20

Postado por Toinho de Passira
Texto de Míriam Leitão, para O Globo
Fonte: Blog Miriam Leitão

A atual onda de tornados atinge alguns dos estados americanos que no ano passado sofreram a pior seca dos últimos 50 anos, com impacto direto nos preços dos alimentos, principalmente trigo, milho e soja. Agora, a severa temporada de tornados afeta áreas produtoras de proteína animal, trigo, algodão, arroz. As commodities estavam caindo este ano.

Oklahoma é o quinto maior produtor de carne bovina, de onde vem a principal receita do estado, é o oitavo de carne suína e um dos maiores em frango e leite. É o quarto maior produtor de trigo e grande fornecedor de ração. O Arkansas tem 36% do seu território em fazendas e 63% da receita da agricultura do estado vem da proteína animal. É o segundo maior criador de galetos. Em arroz, é o maior produtor do país, fornecendo 46% do consumo.

O Texas, que está também na mesma linha dos tornados, é o maior produtor de carne dos EUA, o terceiro maior produtor de trigo e o maior de algodão.

Tornados são um fato da vida dos americanos, mas essa temporada está sendo terrível. O de segunda-feira foi considerado F5, a categoria mais intensa, com ventos de quase 400 km/h. Depois de tocar o chão, caminhou 27 quilômetros com dois quilômetros de largura.

Os cientistas, quando perguntados se eventos extremos do clima são sinais da mudança climática, têm duas respostas, disse ontem o "Financial Times" em um artigo. A mais imediata: não sei. A mais longa: talvez.

Para os cientistas, é muito difícil garantir a natureza de cada evento, em si. Eles exigem uma série de estudos antes de afirmar que um evento está ligado ou não à mudança do clima.

A dúvida é importante para a economia porque, se for algo eventual, não há muito que se possa fazer; se for já reflexo da mudança climática, então a perspectiva é de piora e a previsão é que os preços das commodities agrícolas tenderão sempre a subir. E, mesmo quando caírem, não voltarão ao patamar anterior.

Enquanto os cientistas discutem, a constatação que se pode fazer é que os eventos climáticos extremos já estão ficando mais rigorosos e mais frequentes. E isso atinge a produção de alimentos em alguns países mais importantes para o abastecimento mundial.

Nos Estados Unidos, têm acontecido mais no Meio-Oeste. Na Austrália e Nova Zelândia, houve anos sucessivos de secas. Brasil e Argentina também foram atingidos ainda que em intensidade menor. A Amazônia teve dois anos de secas violentas, em 2005 e 2010. O mundo está no nono ano de evento climático fora do comum. Ao lado do aumento do consumo por parte de países emergentes e do excesso de liquidez no mercado financeiro, isso elevou o preço das commodities agrícolas, como se pode ver no gráfico abaixo, em número índice, tendo 2005 — ano do Katrina — como base 100.

Com o mundo globalizado, os canais de contágio são imediatos e tudo termina em alta de preços de alimentos. Como produtor, o Brasil comemora, como país que está lutando contra a inflação, essa é uma notícia preocupante.


*Acrescentamos subtítulo, foto e legenda a publicação original

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