8 de abr. de 2013

VENEZUELA: Oposição mostra força, mas não vai ganhar pleito

VENEZUELA- Eleições
Oposição mostra força, mas não vai ganhar pleito
O opositor Henriques Capriles, mantém o otimismo mesmo com a maioria das pesquisas o colocando pelo menos 10 pontos percentuais abaixo do candidato de Chávez, Nicolas Maduro.

Foto: Leo Ramirez/AFP

— “Não sou oposição, sou solução. Sei trabalhar com gente que pensa diferente. Líderes não são herdados, são construídos”. – Henrique Capriles, candidato de oposição

Postado por Toinho de Passira
Fonte: O Globo, Blog de Miriam Leitão, O Globo, Reuters , El Nacional

A sete dias das eleições venezuelanas, o governador de Miranda, o oposicionista Henrique Capriles, mostrou a força da oposição ao lotar com centenas de milhares de seus eleitores a Avenida Bolívar, um histórico bastião de partidários de Hugo Chávez no Centro de Caracas. O ato, batizado de “Caracas Heróica”, foi o maior comício da oposição desde 1999, quando o presidente falecido em março elegeu-se pela primeira vez. Os manifestantes denunciaram desde cedo que o governo estaria dificultando o acesso às principais estradas de Caracas e promovendo grandes atrasos no metrô.

Nada impediu, no entanto, que os oposicionistas tomassem o Centro da capital, ocupando ruas, calçadas e até construções abandonadas para ter uma visão melhor de Capriles, que convocou a massa pelo Twitter. No microblog, o candidato, apoiado por 19 partidos da aliança Mesa da Unidade Democrática, escreveu:

“Caracas, vamos em frente. Faremos a capital transbordar de alegria e esperança! Vamos!”.

Foto: Leo Ramirez/AFP

O governo vem usando a máquina a favor de Nicolás Maduro. Ontem, por exemplo, tentou atrasar o metrô, para impedir que a marcha pró-Capriles fosse um sucesso. Mas foi.

No sábado, o candidato governista, Nicolás Maduro, dirigiu um ônibus a caminho de um comício, invocando seu passado de motorista. O presidente interino, designado por Chávez como seu sucessor, esforça-se para vincular sua imagem à de seu mentor e seguir a jornada bolivariana rumo ao chamado “socialismo do século XXI”, marcado pela grande intervenção estatal sobre a economia.

Maldição para eleitores oposicionistas

Em seus comícios, Maduro exibe vídeos em que Chávez orienta seus milhões de simpatizantes a votarem no presidente interino da Venezuela se ele não tivesse mais condições de governar o país.

Outros vídeos mostram balões com mensagens como “pelo amor à minha cultura” e “pelo amor às minhas crianças” rumo ao céu, onde o rosto de Chávez aparece entre as nuvens.

A campanha governista ganhou um toque ainda mais surreal quando Maduro declarou que uma maldição secular poderia cair sobre as cabeças de quem não votasse nele.

— Chávez nos ensinou o valor supremo da lealdade. Com ela, tudo é possível. A traição só nos traz derrotas e maldições — pregou Nicolas Maduro.

Capriles, por sua vez, propõe uma política de livre mercado e amparada em programas sociais. Aos ataques desferidos pelo presidente interino, Capriles responde com críticas à segurança pública, ao estado dos hospitais e à falta de água que assola o país.

Segundo o oposicionista, Maduro é uma “cópia ruim” de Chávez e não conseguiu conter a desvalorização do bolívar, a moeda venezuelana, nem o aumento da inflação.

O governador de Miranda mantém o otimismo mesmo com a maioria das pesquisas o colocando pelo menos 10 pontos percentuais abaixo de Maduro. Mas o comitê do presidente interino também se apressa em jogar água sobre o clima de “já ganhou” de seus simpatizantes, temendo que isso aumente a abstenção.

A eleição merece atenção internacional devido à alta concentração de reservas de petróleo no território venezuelano. Diversos países latino-americanos que receberam o recurso com preços subsidiados por Chávez, como Cuba e Equador, torcem pelo triunfo de Maduro.

A companhia Petróleos da Venezuela (PDVSA), que conta com 100 mil empregados, é uma peça-chave do programa chavista. Ainda em 2010, durante as eleições legislativas, seus funcionários receberam e-mails agradecendo “por sua disposição em participar e contribuir para a consolidação do projeto bolivariano”. Quem não aderisse à campanha era demitido, segundo um ex-empregado da PDVSA que não quis ser identificado.

Há dois anos, a PDVSA impede o reencaminhamento de suas mensagens a e-mails externos. Mas alguns funcionários tiram fotos dos comunicados que os convocam a fazer campanha para Maduro.

Foto: Foto: Leo Ramirez/AFP

Eleitores chegaram a subir num prédio em construção para apoiar Capriles

Provavelmente, Maduro ganhará a eleição que ocorrerá no próximo domingo. O problema é como ele vai governar: usou elementos mágicos durante toda a campanha. Diz que Chávez é um passarinho que anda com ele. Isso funciona para a eleição, mas não para governar. Ele comparou também o presidente morto a Jesus Cristo.

O correspondente do jornal britânico The Guardian, que está lançando o livro Comandante, pela editora Intrínseca, diz que o surrealismo explica a campanha de Maduro.

Ele, que foi escolhido de última hora, terá de enfrentar uma economia em crise, inflação alta, baixo crescimento. Por outro lado, foram feitas transformações sociais importantes, mas a melhoria tem a ver com transferências diretas que precisam da renda do petróleo. Além disso, terá de enfrentar a falta de investimento, as dificuldades em todas as áreas. Para a Venezuela, a China virou uma grande fonte de empréstimo, só que, com a morte de Chávez, os chineses estão mais seletivos e fazendo exigências maiores. O ambiente econômico desafiador provavelmente vai exigir uma reorganização das despesas do Estado e, potencialmente, uma reforma do controle estrito do sistema monetário. Mas Maduro ofereceu poucas pistas sobre o que ele pode mudar se for eleito -- se é que vai mudar algo.

A indústria de petróleo da Venezuela ainda fornece uma fonte de receita invejável, mas pesados empréstimos para financiar a construção de casas, pensões para os idosos e bolsas para mães pobres deixaram o governo sem a abundância de 2012.

Foto:El Nacional

“A traição só nos traz derrotas e maldições” — pregou Nicolas Maduro

Um termômetro fundamental para o futuro da nação exportadora de petróleo será se Maduro, supondo que ele ganhe a eleição, manterá o ministro das Finanças, Jorge Giordani, o arquiteto da expansão constante do controle do Estado sobre a economia privada.

Enquanto a impaciência do público com os problemas diários, como a violência, as quedas de energia e a infraestrutura de má qualidade, não prejudicou a popularidade de Chávez devido ao seu status quase religioso entre os partidários, Maduro pode não ser tão imune.

O pesquisador local Oscar Schemel previu uma vitória confortável para Maduro no domingo, mas um grande desafio logo na manhã seguinte.

"Maduro está garantido na Presidência", disse ele. "O que virá depois é mais complicado... há importantes desafios pela frente. O nível de tolerância do povo vai cair, e suas demandas se tornarão ainda mais urgentes."


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