26 de abr. de 2013

Tese de mestrado sobre Valesca Popozuda?

BRASIL - Bizarro
Tese de mestrado sobre Valesca Popozuda?
Na Universidade Federal Fluminense, a estudante Mariana Gomes passou em 2° lugar com louvor, após apresentar uma dissertação de mestrado sobre o funk e funkeiras como Valesca Popozuda. O tema, que dividiu opiniões, foi comentado de forma pejorativa pela apresentadora do telejornal SBT Brasil, Rachel Sheherazade, que disse que o funk feria seus ouvidos dela e achou a tese uma tolice. O mundo funk e academia abriu guerra contra a apresentadora

Foto: Léo Ramos

Valeska Popozuda, uma das funkeiras analisadas no mestrado da Universidade Federal Fluminense, e homenageada na cerimônia de colação de grau.

Postado por T oinho de Passira
Fontes: O Globo, TV UOL, Ego, R7, Diário de Pernambuco

O projeto de mestrado da estudante Mariana Gomes, intitulado "My pussy é o poder - A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural, (pussy para os que não sabem, é a maneira mais chula de se intitular a genitália feminina em inglês.), foi aprovada em segundo lugar na Universidade Federal Fluminense (UFF) para o mestrado em Cultura e Territorialidades.

A proposta do trabalho é ampla e analisará o movimento funk, no Rio de Janeiro, sob a ótica da presença feminina, sensualidade e espaço para protagonizar algumas ações do fenômeno. Valeska Popozuda é uma da funkeiras que será analisada na tese, mas alguns acreditaram que o estudo iria se centralizar nela, e houve reações de espanto e ate indignação sobre a suposta banalidade do tema.

Mariana se propôs a estudar as relações de gênero no mundo funk, problematizando e até contestando a teoria de que funkeiras como Valeska Popozuda e Tati Quebra-Barraco seriam "o último grito do feminismo".

Polemizando mais a coisa, na semana passada, a apresentadora do telejornal SBT Brasil, Rachel Sheherazade, afirmou, em tom pejorativo, que o " funk carioca, que fere meus ouvidos de morte, foi descrito como manifestação cultural. E o pior é que ele é, pois se cultura é tudo o que o povo produz, do luxo ao lixo, o funk é tão cultura quanto bossa nova".

Para a apresentadora, dissertações como essa são inevitáveis no contexto de mais "popularização da universidade".

Ao tomar conhecimento das declarações no telejornal, a mestranda escreveu uma carta-resposta em seu blog no último domingo (21), onde Mariana questiona, dentre outros pontos, se Rachel teria ao menos lido seu projeto, de estudo. O texto teve mais de 10 mil compartilhamentos no Facebook.

O preconceito dela começa quando o assunto é popular. Chamar o funk de lixo é não abrir os olhos para uma realidade concreta. Ela direciona isso ao local da favela. A opinião dela tem uma questão de classe muito forte - afirmou Mariana.

Foto: Léo Ramos

Valeska Popozuda, do alto da sua importância sócio-cultural, no desfile da Escolas de Samba Águia de Ouro, São Paulo.

Por sua vez, Valeska disse que não iria responder a "essa jornalista dos anos 20", que "vive presa na época em que a mulher nem direito de frequentar uma escola tinha". No entanto, a funkeira afirmou:

- Tenho certeza que ela seria muito mais feliz se fosse mais aberta ao funk.

Orientadora de Mariana num projeto de iniciação científica por dois anos, a historiadora Adriana Facina entende o debate também como consequência da ampliação do acesso à universidade ocorrida nos últimos anos no Brasil. Entretanto, diferentemente da apresentadora, Facina enxerga o fenômeno mais positivamente.

- Ao tornar acessível o ensino superior a uma parcela maior da sociedade que, até então, estava excluída, novos temas e estudos surgirão naturalmente. Como que alguém pode considerar irrelevante para o estudo uma música como o funk, que é ouvida por milhões de jovens? O tema da Mariana é relevante porque o funk não é só uma manifestação de massa, mas há também a questão de gênero. A presença masculina é predominante no funk e em toda a sociedade brasileira - explicou Facina, que já deu aulas sobre a história do funk na UFF.

Quem segue a mesma linha de Facina é a professora de Comunicação e Cultura Popular da UFF, Ana Lúcia Enne. Para ela, ainda há uma "cristalização do preconceito" em relação a certos movimentos culturais:

- Que bom que o mundo acadêmico está aberto não só a objetos canonizados! Compreender o mundo e a realidade a sua volta é um dos papeis fundamentais da universidade.

A professora se diz orgulhosa de seus alunos da graduação de Estudos de Mídia, curso no qual é vice-coordenadora. Em março, a fim de realizarem um trabalho de final de período, estudantes de Ana Lúcia apresentaram um flash mob num dos principais endereços culturais do Rio, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Foto: Léo Ramos

Menos de um mês depois, sete formandos do curso escolheram ninguém menos do que a funkeira Valeska Popozuda como patronesse na cerimônia de colação de grau.

Não é lindo?

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