21 de jan. de 2013

O segundo e último ato de Obama, de Caio Blinder, para a Veja

ESTADOS UNIDOS - Opinião
O segundo e último ato de Obama
Barack Obama está diante de um inimigo formidável: ele mesmo

Foto: Pete Souza/White House

Obama voltando à Casa Branca

Postado por Toinho de Passira
Texto de Caio Blinder, de Nova Iorque, para a Veja
Fonte: Blog do Caio Blinder

Em sua curta e intensa carreira política, Barack Obama já derrotou inimigos formidáveis como Hillary Clinton (sua rival nas primárias democratas em 2008) e uma crise econômica que tinha tudo para impedir sua reeleição em novembro passado. Sua sorte é ter enfrentado rivais republicanos menos formidáveis como John McCain e Mitt Romney.

Agora no seu segundo mandato, Obama está diante de um inimigo formidável: ele mesmo. O presidente nunca mais irá concorrer à presidência e até agora se mostrou muito melhor para fazer campanha do que para governar. Aliás, prefere fazer campanha do que fazer política, como se esta última atividade fosse uma tarefa menor.

O risco é Obama enraizar este seu talento para fazer campanha como um componente integral de governança, porque é mais vantajoso e mais fácil, especialmente com a demografia do lado do presidente, com seu bloco eleitoral de mulheres, jovens, minorias e setores profissionais mais sofisticados.

Improdutivos - Nada errado, por outro lado, em pegar pesado contra os republicanos. Eles merecem e Obama finalmente se mostra mais vigoroso para fincar posições, como contra a absurda postura republicana de usar a elevação do teto da dívida como chantagem em negociações fiscais. Até setores empresariais expressam preocupação com a irresponsabilidade e improdutividade da classe política, em particular os republicanos. Nenhuma surpresa que uma pesquisa meio folclórica tenha mostrado que o Congresso americano seja menos popular do que colonoscopia e piolho.

Os republicanos estão perdendo capital político e se tornaram basicamente obstrucionistas. Eles correm o risco de se petrificarem como o partido de brancos sulistas e rancorosos, especialmente homens. No entanto, eles existem. Ademais, uma parcela do país não é alinhada a nenhum dos dois grandes partidos e nunca se deixou enfeitiçar pela magia Obama. O presidente democrata não pode simplesmente passar ao largo de um partido que tem maioria na Câmara e se dirigir diretamente à nação para fazer pressão para concretizar sua agenda.

Recuo tático - Há alguns sinais de ao menos um recuo tático dos republicanos nos duelos com os democratas no impasse fiscal. A linha da ala mais barra pesada é de que “para salvar a aldeia é preciso destruí-la”, no raciocínio de que é melhor a economia despencar a curto prazo para arrumar as contas mais a longo prazo. Mas setores mais responsáveis e pragmáticos fizeram alertas de que até lá, no longo prazo, o partido irá despencar junto com o país. Diante de sinais de bom senso (ou no mínimo de autopreservação politica dos republicanos), Obama precisa responder à altura.

Claro que o presidente e seu partido gostariam de encurralar os republicanos, reforçando sua imagem como um partido radical e atrasado, para reconquistar a Câmara nas eleições de 2014 (os democratas ja controlam o Senado). Normal um partido buscar hegemonia com base nas regras da democracia, mas isto será muito difícil para os democratas a curto prazo. O redistritamento que ocorre a cada dez anos favorece o status quo. Com isto, uma grande onda que reverta as coisas é improvável no ano que vem.

Maioria governante - Mais viável para Obama é conseguir uma “maioria governante” em que sejam possíveis acordos bipartidários em algumas questões urgentes e outras mais estruturais. Por ora, esta costura é um remendo da minoria democrata com setores republicanos na Câmara.

A curto prazo, existem condições para estes acordos em controle de armas e imigração. No primeiro caso, a opinião pública indica ser favorável a algumas medidas (como expansão de exigência de antecedentes criminais para compradores de armas) e há perspectivas para a reforma da imigração, ou seja, ajustes no status dos imigrantes ilegais, pois algumas lideranças republicanas e possíveis candidatos presidenciais estão conscientes de que o partido precisa reciclar sua imagem como um bastião de insularidade e mesmo xenofobia, como ficou demonstrado pelo catastrófico apoio eleitoral em novembro junto a latinos e asiáticos.

O grande teste de Obama será na economia, em termos mais específicos na questão fiscal e na necessidade de enxugar programas sociais. Aqui o presidente precisará mostrar coragem. Desde o furacão Sandy, no final de outubro, o governador republicano de Nova Jersey, Chris Christie, ficou conhecido por sua coragem. Ele rompeu com a ortodoxia do seu partido e foi efusivo com o presidente, demonstrando espirito bipartidário. Na semana passada, Christie novamente mostrou audácia e alertou que seu partido não pode ser refém do lobby das armas, a Associação Nacional do Rifle.

Coragem republicana – Mas há outro republicano muito corajoso que rompeu com a ortodoxia partidária. Tom Coburn, é senador pelo Oklahoma, um daqueles estados mais associados ao atraso republicano, de gente jeca, que questiona a teoria da evolução, duvida do aquecimento global e acha que “os helicópteros pretos” da ONU estão chegando.

Coburn foi um raro republicano que aceitou a necessidade de uma maior arrecadação tributária mesmo antes da crise do abismo fiscal na virada do ano. Ele agora desafia democratas e o presidente Obama a assumirem riscos no corte de gastos, como ele assumiu com arrecadação.

O que pode mover Obama é a necessidade de um legado. O presidente não controla eventos (tragédias naturais ou crises internacionais), mas dentro de casa sua prioridade é engatar uma economia mais saudável. Na semana passada, Obama se reuniu com historiadores e biógrafos presidenciais para debates temas como lições de seus antecessores.

A informação foi a de que ele encontrou semelhanças e inspiração no segundo mandato de dois presidentes: Franklin Roosevelt, que assumiu em 1937 para um segundo mandato ainda com mazelas econômicas, depois da Grande Depressão, e uma oposição empedernida, que o considerava socialista e traidor de sua classe.

Outra inspiração na conversa foi Dwight Einsenhower, o comandante das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial, que ao final do segundo mandato em 1961 advertiu sobre os perigos de um “complexo militar-industrial”.

Liberalismo reacionário – Obama está correto: é preciso um Pentágono mais enxuto, mas também é preciso repensar o arsenal social do país e até agora o presidente não deu mostras de ser aguerrido nesta questão de oferecer concessões significativas em programas de saúde e de aposentadoria. O presidente precisaria de coragem para enfrentar o “liberalismo reacionário” de setores da base democrata, que não arredam pé de seus benefícios.

Aliás, estão aí as lições de dois outros presidentes, o republicano Ronald Reagan e o democrata Bill Clinton que souberam negociar e fechar acordos com uma oposição aguerrida. Obama tem agora a segunda e última chance.

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