21 de ago. de 2012

CUBA; "Terabytes", por Yoani Sánchez

CUBA - Opinião
Terabytes
A blogueira cubana, Yoani Sánchez, fala das formas encontradas pelos internautas da ilha, para se comunicar numa “intranet rudimentar”, mas cheia de possibilidades

Postado por Toinho de Passira
Texto de Yoani Sánchez
Fonte: Geração Y

A minha varanda tem um pé de embaúba. Folhas em forma de mãos com dedos arredondados; brancas embaixo e verdes encima. Contudo não é a sua forma simpática nem a peculiaridade de haver crescido numa panela a mais de cinqüenta metros do solo o que me faz gostar dela, mas sim sua capacidade de adaptação. Faz anos que compreendeu que o teto de concreto não a deixaria crescer reta e inclinou-se para fora, jogando suas folhas por cima do muro a quatorze andares de altura. Depois o gato danificou seu tronco afiando as unhas e a planta desenvolveu em volta das feridas uma casca mais grossa e mais protetora. Ante cada obstáculo encontrou uma forma de superá-lo; ante cada ataque, um mecanismo de proteção.

De lições como a desta “embaúba na panela”, nossa cotidianidade está cheia. Por exemplo: no meu bairro foram configuradas numerosas redes sem fio para troca de programas, jogos e arquivos. Do mesmo modo que a planta na varanda, não querem se conformar com os limites que a realidade lhes impõe, entre os quais estão as restrições absurdas de acesso livre a Internet. De forma que criaram seus próprios caminhos para navegar, mesmo que seja uma intranet rudimentar e limitada. Na falta de canais informativos que não estejam sob a supervisão estrita do estado, surgem também caminhos para o intercâmbio, compra e venda de programas de televisão estrangeiros, música e filmes. Com uma variedade e quantidade de causar vertigem.

Quantos terabytes você quer? Perguntou-me nesta manhã um desses rapazes que apenas chegou aos vinte e já está no “negócio da informação”. O que me causou um curto circuito cerebral, pois eu havia chegado a calcular em megabytes e depois em gigabytes, porém isto é demais para mim. Então detalhou a sua oferta: tinha pacotes de séries e documentários que vão de temas históricos, espionagem, ciência, tecnologia até biografias completas. Como me viu com pinta de leitora também acrescentou uma coleção de entrevistas dos mais importantes autores do boom latino americano. Deixou “o mais popular” para o final, segundo me explicou, enquanto enumerava títulos como “Grandes magnicídios da história”, “A rota da droga”, “Cirurgia extrema” e “China: um abismo entre ricos e pobres”… E eu fiquei ali parada com a memória USB na mão sem saber o que escolher. No final peguei várias gigas bem variadas e fui correndo para casa com a mesma sensação de vitória dessa embaúba que, apesar dos limites do teto baixo, conseguiu vazar para a imensidão.


* Tradução e administração do blog em língua portuguesa por Humberto Sisley de Souza Neto

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