11 de jul. de 2012

VEJA: “A república da cocaína”

BOLÍVIA
VEJA: “A república da cocaína”
Um relatório policial revela o encontro de um traficante brasileiro com o número 2 do governo boliviano e uma ex-miss Bolívia ligada ao governo de Evo Morales

Foto: Veja

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Veja - 09/07/2012, El Diario, La Razon, Reportero 24, Portal Terra

O presidente da Bolívia, Evo Morales, orgulha-se de ser um incentivador das plantações de coca, a matéria-prima de mais da metade da cocaína e do crack consumidos no Brasil, sob o argumento de que as folhas servem para produzir chás e remédios tradicionais.

Apenas um terço da coca plantada em seu país, contudo, atende a essa demanda inofensiva, segundo estimativa das Nações Unidas. O restante abastece o narcotráfico e, como consequência, contribui para corroer a vida de quase 1 milhão de brasileiros e de suas famílias.

Agora, surgem evidências de que a cumplicidade do governo boliviano com o narcotráfico vai além da simples defesa dos cocaleros, os plantadores de coca. VEJA teve acesso a relatórios produzidos por uma unidade de inteligência da polícia boliviana que revelam, entre outros fatos, uma conexão direta entre o homem de confiança de Evo Morales, o ministro da Presidência Juan Ramón Quintana, e um traficante brasileiro que atualmente cumpre pena na penitenciária de segurança máxima em Catanduvas, no Paraná.

Maximiliano Dorado Munhoz Filho, o traficante brasileiro, que segundo Veja, recebeu secretamente autoridades bolivianas
Um dos documentos, intitulado Apreensão de Fugitivo Internacional e assinado com o codinome Carlos, descreve como os agentes bolivianos identificaram a casa do brasileiro Maximiliano Dorado Munhoz Filho, em 2010.

Max, como é chamado, e sua gangue possuíam fazendas em Guajará-Mirim e em outras oito cidades de Rondônia, onde recolhiam a droga arremessada por aviões bolivianos. Por mês, o bando de Max interceptava 500 quilos de cocaína, que depois eram levados para São Paulo e Rio de Janeiro.

O traficante fugira da cadeia de Urso Branco, em Rondônia, em 2001, e suspeitava-se que estivesse escondido na Bolívia. De fato, ele mantinha um imóvel na Rua Chiribital, esquina com Pachiuba, em um bairro nobre de Santa Cruz de la Sierra. No dia 18 de novembro de 2010, às 2 da tarde, os policiais que vigiavam o imóvel presenciaram uma cena bombástica. Quintana, hoje o segundo homem mais poderoso da República, apareceu na companhia de Jéssica Jordan, de 28 anos, famosa no país por ter sido eleita miss Bolívia apenas quatro anos antes.

Ambos tinham, então, cargos de confiança em órgãos estatais. Quintana era diretor da Agência para o Desenvolvimento das Macrorregiões e Zonas Fronteiriças. Jéssica, cinco meses antes, fora indicada pelo vice-presidente Álvaro Garcia Linera para o posto de diretora regional de Desenvolvimento no estado de Beni, departamento que faz fronteira com Rondônia e por onde entra no Brasil boa parte da droga boliviana. Quintana e Jéssica entraram na casa de Max de mãos vazias e saíram de lá vinte minutos depois com duas maletas 007. Não se sabe o que havia nelas.

O poderoso ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, visto, segundo relatórios da polícia boliviana, visitando o traficante brasileiro
Dois meses depois do encontro com os integrantes do governo de Morales, Max foi detido em uma operação conjunta da Polícia Federal brasileira com alguns membros escolhidos a dedo no serviço de inteligência boliviano e levado ao Brasil.

Quintana, por sua vez, foi nomeado por Evo Morales no ano seguinte para comandar a Pasta da Presidência, o equivalente à Casa Civil brasileira, posto que ele já havia ocupado entre 2006 e 2009. O relatório do agente Carlos sobre o encontro entre os membros do governo e o traficante brasileiro faz parte de uma série de documentos vazados para a imprensa boliviana e americana por um político do Movimento ao Socialismo (MAS), o partido de Morales. Para o autor do vazamento, o governo não cumpriu a promessa de melhorar a vida dos pobres e indígenas da Bolívia. Evo Morales venceu duas eleições presidenciais propagando-se como um candidato defensor dos índios. A maioria deles, porém, está insatisfeita.

Desde que Morales tomou posse, houve um aumento de 22% na área de cultivo de coca no país. Enquanto a Colômbia, que nos anos 80 cultivava e refinava 90% da cocaína consumida no mundo, combateu os cartéis e reduziu a produção, a Bolívia e o Peru viram sua participação nesse mercado crescer. Hoje, respondem por metade das drogas derivadas das folhas de coca.

Fábricas de cocaína, que até então não existiam na Bolívia, começaram a aparecer às centenas. Cartéis colombianos, mexicanos e o PCC brasileiro operam no país. Ao verem o crescimento do crime organizado e as portas da política fechadas para seus representantes, indígenas e sindicalistas passaram a criticar abertamente Morales.

No mês passado, policiais entraram em greve por melhores salários. Há duas semanas, uma nova marcha de índios chegou a La Paz para impedir a construção de uma estrada em um parque ecológico indígena, o Isiboro Sécure. O projeto, que liga “dois povoados sem povo”, segundo os bolivianos, visa a abrir uma nova fronteira para a plantação de coca, pois a produtividade na região vizinha do Chapare, o principal reduto de Morales e onde 90% das folhas viram droga, está em queda.

Jéssica Jordan , ex- miss Bolivia, mulher de confiança de Evo Morales, saiu com uma valise, que não havia levado, do encontro com o traficante brasileiro.
Quintana — olha ele aí de novo - não se cansa de atacar os índios contrários à estrada, ao mesmo tempo em que defende os cocaleros. Ex-militar, ex-araponga que recebeu treinamento americano e ex-assessor do ministro da Defesa do presidente Hugo Banzer (1997-2001), Quintana também é o autor de algumas das declarações mais antiamericanas do governo Morales.

Atribui-se a ele a ideia, acatada por Morales, de expulsar do país os agentes da Drug Enforcement Administration (DEA), o órgão americano de combate ao narcotráfico que pagava a gasolina e parte do salário dos policiais bolivianos do setor de entorpecentes.

Não é de estranhar que essa medida tenha saído da cabeça do homem que divide com o vice-presidente Álvaro Garcia Linera a tarefa de administrar as relações do governo boliviano com o presidente venezuelano Hugo Chávez.

Os relatórios que revelam os laços comprometedores do governo boliviano com traficantes foram feitos por agentes simpáticos a Morales, estupefatos com a incapacidade do presidente de perceber a podridão à sua volta.

“Os esforços que faz nosso amigo irmão Evo para erradicar a corrupção caem em um saco furado, e isso pode ser usado pela oposição para manchar a sua honra’’, elucubra um policial de codinome Confúcio.

Um dos documentos revela que Raúl Garcia, pai do vice-presidente Linera, era viciado em cocaína e teria influenciado na escolha do diretor da alfândega do aeroporto de Viru Viru, em Santa Cruz de la Sierra, por onde sai boa parte da droga com destino ao Brasil. “Alguns narcotraficantes colombianos que asseguram ter dado um apartamento em Santa Cruz ao pai do vice-presidente em troca de proteção para que saiam alguns aviões de Santa Cruz dizem ter provas disso”, afirma-se em um dos relatórios confidenciais.

Raúl Garcia morreu de infarto no ano passado. "A crescente atuação dos narcotraficantes brasileiros na Bolívia foi facilitada por inúmeros fatores, entre os quais possibilidade de negociar com membros do governo”, diz Douglas Farah, especialista americano em tráfico de armas e drogas que está analisando todos os documentos confidenciais vazados pelo político do MAS.

Não há dados, até momento, que ajudem a esclarecer se Evo Morales está apenas mal-acompanhado ou se tem participação direta em negócios de seu governo com o narcotráfico. No mínimo, ele finge não haver nada de errado. Nenhuma investigação foi aberta depois que a oposição levou ao governo os documentos comprometedores. Em vez disso, tenta-se punir os mensageiros.

O senador Roger Pinto, por exemplo, que em março de 2011 teve ousadia de levar ao Palácio Quemado uma cópia do relatório sobre o encontro de Quintana e Max, entre outros papéis com denúncias, foi acusado de corrupção por Morales e acabou recebendo asilo político na Embaixada do Brasil em La Paz, há um mês. Até sexta-feira passada, ele não havia recebido salvo-conduto do governo boliviano para embarcar em um avião com destino ao Brasil.


REPERCUSSÃO

Foto: Associated Press

Mulheres bolivianas comemorando a safra de folha de coca durante o chamado "Dia Nacional de folha de coca para mascar" em La Paz, Bolívia.

A reportagem da Veja repercutiu fortemente na imprensa boliviana. O governo de Evo Morales quer transformar a história em ofensa ao povo boliviano.

Segundo a maioria das publicações o novo embaixador da Bolívia, no Brasil, nesta quarta-feira, o político socialista Jerjes Justiniano, vem com a missão de exigir uma retratação da revista "Veja" por, segundo ele, "difamou" funcionários do governo do presidente Evo Morales. Caso a publicação brasileira não o faço será acionada judicialmente.

"É uma responsabilidade que tenho que assumir imediatamente, porque estão envolvidos funcionários do Estado. O que a "Veja" fez, através de seu título e em seu artigo, é uma agressão ao Estado boliviano", declarou Justiniano, que substitui o jornalista José Alberto González.

Justiniano afirmou que demonstrará que a matéria intitulada "A República da cocaína" é "uma mentira grosseira" que tem como único interesse fazer dano ao Estado boliviano e ao governo Morales.

O político também disse que mostrará às autoridades brasileiras e à revista provas de que nunca aconteceu tal reunião, por isso pedirá uma retratação ou iniciará uma ação judicial.

O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, o principal acusado na reportagem da Veja, foi quem apresentou hoje, Justiniano, como novo embaixador do Brasil. Na ocasião negou veementemente as acusações contidas na revista Veja.

O que se comenta nos meios jornalísticos brasileiros, é a que a Veja, publicou apenas uma pequena amostra do material explosivo que possui dessa relação cocaína, governo boliviano. Esperemos os próximos capítulos.


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Um comentário:

Anônimo disse...

A revista Veja sempre se caracterizou pelo noticiario sensacionalista e oportunista por suas reportagens e noticias mediaticas. Obedece unicamente a interesses das elites burguesas e das grandes corporações da midia. Não se deve levar em conta a credibilidade das mesmas! Só conta o oportunismo!