12 de jul. de 2012

Por breve momento Humberto foi caçado por Demóstenes

BRASIL - Corrupção
Por breve momento,
Humberto foi caçado por Demóstenes
Por um instante o ex-senador Demóstenes, durante sua defesa, na tribuna do senado, pôs o seu algoz, Humberto Costa, numa situação muito desconfortável, quando falou do escândalo dos hemoderivados. Ao ouvir a palavra vampiro, Humberto quase se metamorfoseou. Foi um momento tenso. Humberto rebateu logo em seguida, mas ficou no ar aquele odor desagradável de dúvida, de coisa que tem que ser explicada. Foi um erro ter aceitado ser o relator desse processo. Fez o seu trabalho corretamente, mas os senadores não vão lhe perdoar. Ele ainda vai pagar caro por isso.

Foto: Marcello Casal Jr./ABr

HORA DA CAÇA - Demóstenes Torres lembrando durante sua defesa, das denúncias de superfaturamento, contra o relator Humberto Costa, na compra de remédios quando o petista era ministro da Saúde.

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Congresso em Foco, G1, Procuradoria Geral da República, Agência Senado

Durante sua defesa o senador Demostenes Torres que passou o dia ouvindo tantas coisas desagradáveis ao seu respeito, resolveu pagar na mesma moeda ao relator do seu processo de cassação, o senador Pernambucano e candidato a prefeito do Recife, Humberto Costa.

Por um instante a caça virou caçador. Enquanto Demostenes falava do caso da Operação Vampiro, o pesadelo do pernambucano, a TV Senado, mostrava a fisionomia “emputecida” de Humberto.

Foram dois longos minutos. Parecia aquele discurso de Marco Antonio, no velório de Júlio Cesar, da peça de William Shakespeare. Demóstenes não atacava a honra de Humberto, mas expunha algumas cicatrizes incômodas, mal saradas, que Humberto preferia que nunca fossem mencionadas, e muito menos expostas, principalmente agora, em plena campanha eleitoral.

Assim falou Demóstenes:

Eu quero lembrar aqui para V. Exas. um processo absolutamente ruidoso que aconteceu com o Sr. Relator.

Em 2004, diz a Folha de S. Paulo:

A Operação Vampiro foi uma ação da Polícia Federal, desencadeada em maio de 2004, que levou à prisão empresários, lobistas e servidores acusados de manipular compras de medicamentos para o Ministério da Saúde, então chefiado por Humberto Costa. O alvo principal da quadrilha era a compra de hemoderivados, daí a inspiração para o nome.

Em 2006, a advogada, brilhantíssima, do Dr. Humberto Costa diz o seguinte, em outra matéria do jornal O Estado de S. Paulo:

A advogada do ex-Ministro Humberto Costa, Marília Fragoso, acusou ontem o Procurador da República Gustavo Peçanha de ter agido de má-fé e sem nenhuma lógica jurídica na denúncia contra o petista.

Vejam que eu não tenho nem denúncia contra mim.

Em entrevista por e-mail ao Estado [aí veio o Procurador], Peçanha destacou que Costa não foi denunciado porque Luiz Cláudio [que era alguém que trabalhava dentro do Ministério] também o foi, mas porque as provas nos autos indicaram a sua participação. Há diálogos interceptados mediante autorização judicial [vejam a semelhança com o meu caso]que demonstram o envolvimento de Humberto Costa com diversos membros da organização criminosa e sua adesão aos crimes cometidos pela quadrilha.

Então, vejam o que disseram a respeito do Senador Humberto Costa.

Segundo a advogada dele, Marília, o ex-Ministro vai provar a sua inocência na Justiça.

E, em 2010, o jornal O Globo:

O Tribunal Regional Federal da 5ª Região absolveu, nesta quarta-feira, por unanimidade, o ex-Ministro da Saúde Humberto Costa das acusações de corrupção passiva e formação de quadrilha no escândalo da Máfia dos Vampiros, que desviou cerca de R$2 bilhões na compra de remédios superfaturados.

A decisão foi justificada por falta de provas.

O que eu quero de V. Exas. é o mesmo tratamento que foi dado ao Senador Humberto Costa. Ele provou que era um homem honrado. Ele provou que era um homem decente. Foi acusado. Foi grampeado. O grampo acusava que ele participava. O procurador disse isso. Eu quero esse direito. Por que a minha cabeça tem que rolar? Eu provei aqui várias vezes que sou inocente. Eu quero este direito, eu quero o direito do tempo; o direito que toda pessoa tem, o direito da ampla defesa e do contraditório. Por que me negaram o direito da perícia? Era o único direito que eu tinha.


Quando Demóstenes acabou a defesa, Humberto pediu a palavra e disse rebatendo:

— Em nenhum momento fui grampeado falando com bandido.

Demóstenes em seguida esclareceu que não estava criminalizando o companheiro, sua fala havia sido no sentido de que “gostaria de ter tido o mesmo tempo de defesa que teve Humberto”, a quem classificou de honesto e decente.

Foto: Pedro França/Agência Senado

VAMPIRO ? Eu ? - Humberto Costa, no limite, ouvindo Demóstenes falar de vampiros, parecia que a qualquer momento ia sair voando pelo plenário, na forma de morcego. Dava medo.

Humberto Costa foi inocentado pela justiça, ninguém pode lhe acusar pelos crimes da quadrilha dos vampiros, apesar de sua proximidade com os protagonistas e de ser ele, como ministro quem assinava a liberação das verbas destinadas a corrupção.

Apesar do Ministério Público ter retirado o nome e Humberto da denúncia “por falta de provas”, os inimigos políticos de Humberto, vão poder sempre insinuar que falta de provas, pode tanto pode representar uma inocência plena, como uma investigação mal feita, ou uma corrupção bem feita.

Humberto sempre diz, nestes momentos, clamando inocência, que a investigação foi pedida por ele. Isso é uma verdade parcial. A investigação já acontecia antes mesmo dele ser ministro e ele pode ter tomando conhecimento que ela já existia, quando esbarrou com algum investigador. A quadrilha estava aboletada dentro do ministério da saúde, antes do governo Lula, desde o governo Fernando Henrique, nos tempos em que José Serra era Ministro da pasta.

Mas com a assunção de Humberto, a corrupção ficou desvairada, descuidados, esfomeada e explodiu.

O fato do principal articulador da nova fase da quadrilha ser Luiz Cláudio Gomes da Silva, homem de confiança de Humberto Costa, que com ele já havia trabalhado na Prefeitura do Recife, credita o senador, pelo menos a pecha gestor incompetente e descuidado, por ter nomeado um corruto voraz para cuidar das licitações do ministério.

Demóstenes não usou, mais podia ter argumentado, que se Humberto quer ter o beneficio da dúvida, que não sabia das atividades pouco republicanas do seu assessor, poderia dá esse mesmo crédito para ele, que afirma não saber dos mal feitos de Carlinhos Cachoeira.

Acreditamos que o assessor de Humberto, não roubava para o chefe, devia estar pegando grana naquele esquema de financiamento de campanhas. Isso tem acontecido amiúde nas administrações petista. Também, como sempre acontece nesses casos, os corruptos "autorizados" acabam pegando um pouco para si, pois não prestam contas para ninguém, não passam recibo, e sentem-se merecedores "de algum", pelos riscos que são obrigados a correr.

Pelo que se sabe da biografia de Humberto não se pode dizer que ele é corrupto, não há provas.

Pode-se creditar uma vista grossa, um “não quero nem saber disso”.

O fato é que Humberto Costa fez um excelente trabalho como acusador de Demóstenes. Foi irrepreensível. Fez o politicamente correto. Mas, embora bem intencionado, vai pagar caro por isso. Os senadores não vão perdoar sua eficiência de inquisidor.

O congresso abomina quem massacra os companheiros, mesmo que seja uma missão, como foi o caso de senador Humberto.

Há quem condicione a cassação de Demostenes, a impiedade do goiano, para com os pares pegos em desvios. Foi cruel com Renan Calheiros, com Sarney e com tantos quando imaginou estar em desvio de conduta, além, é claro, de ter sempre a mira apontada contra a testa de Lula.

Lembrar que o Senado não é um local exatamente povoado por pessoas de consciência tranquila. Todos ficarão olhando Humberto, de agora em diante, como um potencial carrasco, um inimigo à espreita. Os poucos amigos de Demostenes, não gostam de Humberto, os muitos e poderosos inimigos, o temem.

Humberto, quando voltar para o senado, após as eleições de prefeito, vai encontrar um clima pesado.

Podem ficar certo, que na hipótese dele ser julgado no Senado, por qualquer coisa - pelo escândalo dos Vampiros, por exemplo, que pode ser desenterrado - seria imolado, sem piedade, mesmo que não merecesse, mesmo que não houvesse “provas suficientes”.


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