9 de jun. de 2012

Agruras em solo da ONU - Míriam Leitão

BRASIL- Rio+20
Agruras em solo da ONU
Acompanhe Míriam Leitão tentando receber a credencial da “Rio+20”:
— "Onde é o guichê da imprensa?" O rapaz não entendeu a pergunta. Repeti em inglês. E ele disse que não “hablaba” inglês. Era o terceiro idioma e eu ainda não havia chegado ao guichê. Sim, estava na ONU. Passaram dois funcionários conversando e um dizia ao outro:— "Certeza, certeza, ninguém tem de nada". Não. Ainda estou no Brasil — pensei.

Postado por Toinho de Passira
Texto: Míriam Leitão
Fonte: Blog de Míriam Leitão

Welcome to Rio plus twenty”. O homem de uniforme e distintivo me assustou quando disse isso. Era enorme, de uns dois metros de altura e um de largura. Sem exagero. Mas não foi a dimensão da pessoa que me assustou, e sim o fato de que ele me dava as boas-vindas que eu deveria dar a ele. Susto extra: a Rio+20 já começou!

Foi na entrada do Pavilhão Um do Riocentro e eu entrava distraída. Tinha sido difícil chegar lá. Faltava sinalização de onde exatamente, entre tantos pavilhões, era o do credenciamento. Quando me localizei, caiu uma chuva. Mudança climática! Eu não havia levado guarda-chuva. Atravessei correndo o espaço do estacionamento à entrada e foi quando fui saudada pelo grandalhão.

Foi assim que a Rio+20 começou para mim, com o funcionário da ONU me informando delicadamente que aquele não era mais território do Brasil, e sim, das Nações Unidas, terra do mundo.

E de ninguém, porque foi a maior bateção de cabeça para me responder uma pergunta simples: onde era o credenciamento da imprensa. Primeiro, tive que passar pelo detector de metais. A moça que tinha o aparelho de mão que faz a última checagem nas pessoas que apitam — eu tinha apitado — estava em treinamento. Três homens atrás dela davam ordens e explicavam os sons.

— Não, isso é porque está perto do chão.

— Agora é porque ela está com a mochila, mas a mochila já foi vistoriada.

— Tudo bem, pode deixar ela ir.

Fui. Só não sabia ir para aonde. Ninguém indicava o local onde eu retiraria a credencial que tinha pedido bem no prazo, com todos os documentos enviados e, por via das dúvidas, copiados na minha mochila. Última checagem: carteira de identidade, passaporte, carta do chefe, confirmação de aceitação do pedido expedido pela ONU. Tudo ok.

— Onde é o guichê da imprensa?

O rapaz não entendeu a pergunta. Repeti em inglês. E ele disse que não “hablaba” inglês. Era o terceiro idioma e eu ainda não havia chegado ao guichê. Sim, estava na ONU.

Passaram dois funcionários conversando e um dizia ao outro:

— Certeza, certeza, ninguém tem de nada.

Não. Ainda estou no Brasil — pensei.

Fui até um extremo do enorme pavilhão e a atendente me disse que era no outro extremo. No meio do caminho, um descaminho.

— Para a imprensa tem que sair do prédio, dar a volta para entrar do outro lado — me garantiram duas moças.

Não fazia sentido, porque significava passar de volta pelo raio-x.

Perguntei a outra pessoa.

— É naquele lado lá.

— Mas vim de lá.

— É lá.

Fui.

— Não é aqui.

— O que é aqui então?

— Aqui é só para a sociedade cívica.

A atendente queria dizer “sociedade civil”.

— Mas só abre às 10.

— São dez.

Ela conferiu.

— Em ponto.

Atravessei o salão de volta e achei enfim o guichê da imprensa.

Entreguei minha identidade e não pediram mais nada. Nem a carta dos chefes ou a resposta da ONU. Muito menos um outro documento com foto, exigência que atenderia com o passaporte.

Minutos depois estava eu, orgulhosa, envergando no pescoço a credencial.

Na verdade, a conferência começou bem antes para os jornalistas envolvidos com o tema pelos mais diversos ângulos. Matérias especiais, entrevistas, cadernos, conversas com especialistas, leituras, esforço para ficar mais afiado com um tema complexo e delicado. Isso tem sido o nosso cotidiano nas últimas semanas.

Tudo pronto. Aqui vamos nós, rumo à Rio+20. Com credencial e esperança.


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