23 de mai. de 2012

EGITO: Hoje é dia de eleições livres

EGITO
Hoje é dia de eleições livres
Os egípcios estão votando livremente pela primeira vez na história do país, deixando para trás os 30 anos de governo de Mubarak, e suas eleições de mentirinha, e os não menos antidemocráticos tempos dos faraós, sultões, reis e regimes militares. Sem favoristos visíveis, é provável que haja um segundo turno de votação agendado para 16 e 17 de junho

Foto: Moises Saman/The New York Times

Mulheres fazem fila diante de uma seção eleitoral, no Cairo, para votar nas primeiras eleições presidenciais livres na história do Egito

Postado por Toinho de Passira
Fontes: The New York Times, Reuters, BBC Brasil, G1

Os egípcios vão às urnas na quarta-feira na primeira eleição presidencial livre no país 15 meses depois de derrubar Hosni Mubarak no levante da Primavera árabe, opondo políticos islâmicos a ex-integrantes do deposto regime de Hosni Mubarak.

Cinquenta milhões de pessoas têm direito a voto, e as filas estão se formando em seções eleitorais. A votação dura dois dias e, caso nenhum candidato consiga a maioria dos votos, haverá segundo turno, em junho.

A junta militar que assumiu o poder presidencial em fevereiro de 2011 prometeu uma votação justa e um regime civil.

Até 2005, as eleições no Egito antes eram indiretas, com o presidente escolhido pelo Parlamento e ratificado por consulta popular, tida como claramente fraudulenta pela oposição e por observadores internacionais. A partir daquele ano, houve eleição direta, mas a Irmandade Muçulmana, principal partido de oposição, era considerada ilegal. O pleito de 2012 seria o primeiro livre, não manipulado, da história do país. Eleições

Foto: Reuters

Um artista pinta um mural representando o candidato presidencial Amr Moussa e uma combinação das faces do ex-presidente Hosni Mubarak e Marechal de Campo Mohamed Hussein Tantawi, no Cairo

A campanha eleitoral oficial, que durou três semanas, terminou no domingo (20). Durante esse período, houve o primeiro debate televisionado na história do país, envolvendo dois candidatos. Cartazes e faixas dominam as ruas.

A eleição opõe islamitas a secularistas, e revolucionários a ex-ministros de Mubarak. Os principais candidatos são os seguintes:

Ahmed Shafiq, antigo comandante da força aérea e primeiro-ministro durante os protestos de fevereiro de 2011

Amr Moussa, que foi ministro das Relações Exteriores e chefe da Liga Árabe

Mohammed Mursi, que lidera a Irmandade Muçulmana e o Partido da Justiça e Liberdade

Abdul Moneim Aboul Fotouh, candidato independente islâmico
Até que uma nova Constituição seja aprovada, não está claro que poderes o presidente terá, o que provoca temores de atrito com os militares.

A votação começou pontualmente às 8h, hora local (06:00 GMT), com filas crescentes em muitos dos locais de votação no Cairo.

"É um grande dia", disse uma mulher à BBC. "Este é um grande momento para os egípcios mudarem (o país)."

Foto: Khaled Desouki/AFP

Mulher mergulha o dedo em tinteiro para votar no Cairo

Outra mulher, ao ser questionada sobre por quanto tempo estava esperando para votar, respondeu com uma risada: "30 anos".

Mohamed Mursi era originalmente o candidato reserva da Irmandade Muçulmana, mas acabou virando o titular após a primeira opção, Khairat al-Shater, ser desclassificado pela Comissão Presidencial Superior Eleitoral (HPEC) por ser réu de um processo ainda em curso.

A Irmandade Muçulmana, no entanto, comparou Mursi, engenheiro educado nos EUA e parlamentar, a um jogador de futebol reserva subestimado.

"Em qualquer jogo há um reserva que entra faltando dez minutos para o fim da partida, faz o gol e garante a vitória. Mursi é este jogador", disse o clérigo Mohamed Abdel Maqsoud a uma multidão de apoiadores da Irmandade no domingo.

Um segundo turno de votação está agendado para 16 e 17 de junho, se não houver vencedor.

O editor da BBC para Oriente Médio Jeremy Bowen diz que há também um conflito potencial com os militares, que parecem determinados a não abrir mão de seu poder no país.

O eleitorado não sabe que poderes o novo presidente terá para fazer seu trabalho, uma vez que tais responsabilidades não estão claras sem uma nova Constituição, destaca o correspondente.

Foto: Ahmed Ali/Associated Press

Egípcios fazem fila para votar em um colégio eleitoral perto de Giza.

A eleição está sendo saudada como um marco para os egípcios, que têm a oportunidade de escolher o seu líder pela primeira vez na história do país, de 5.000 anos.

O Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF), preocupado com a agitação pós-eleitoral, tem procurado tranquilizar os egípcios afirmando que a democracia veio para ficar.

"É importante que todos aceitem o resultado das urnas, que refletem a livre escolha do povo egípcio, tendo em conta que o processo democrático do Egito está dando seu primeiro passo e todos nós devemos contribuir para seu sucesso", disse o Conselho em um comunicado emitido na segunda-feira.

O primeiro-ministro, Kamal al-Ganzuri, disse na terça-feira esperar que as eleições corram tranquilamente.

Ele pediu que "os candidatos, as forças políticas, e os partidos estimulem seus apoiadores a respeitar a vontade dos outros e aceitar os resultados da eleição".

Os 15 meses seguidos à deposição de Mubarak foram turbulentos, com constantes protestos violentos e conflitos entre muçulmanos e a minoria cristã, que corresponde a 10% da população. Os cristãos temem que ascensão de conservadores islamistas aumente tensões religiosas.

A economia em deterioração também é um desafio para o novo presidente.

O investimento direto estrangeiro caiu de US$ 6,4 bilhões positivos em 2010 para US$ 500 milhões negativos no ano passado.

O turismo, importante gerador de receita para o país, também caiu em um terço.

O novo presidente também terá de reformar a polícia para lidar com a onda de crime que se seguiu à revolta popular.

Pelo menos um terço dos eleitores estavam indecisos sobre os candidatos e a disparidade em pesquisas deixa eleições sem favoritos.

Pela manhã se noticiou que um policial morreu nesta quarta-feira (23) e um civil ficou ferido na perna, vítimas de disparos durante confrontos entre partidários de dois candidatos em frente a um local de votação no Cairo.

Apesar disso, a coalizão "Observadores para a proteção da revolução', composta por várias organizações de direitos humanos, qualificou de "promissor" o começo da votação.

Foto: Pete Muller/Associated Press

Mulher procura o nome dela em lista de votantes em colégio eleitoral na periferia do Cairo


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