30 de jan. de 2011

EGITO: Antes da liberdade, o caos

EGITO
Antes da liberdade, o caos
No centro do Cairo, onde milhares fazem, pelo sexto dia consecutivo, um protesto pedindo a renúncia do presidente, Hosni Mubarak, dois jatos e um helicóptero da força aérea egípcia fizeram sobrevôos, tentando intimidar a multidão. A polícia foi retirada das ruas. Não há mais confronto entre policiais e a população. Um clima de insegurança pública assusta o país. Houve fuga em massa de presídios, saques, roubos e violência. O povo está montando patrulhas de proteção, para se defender dos marginais. Barack Obama dá os primeiros sinais de que os EUA estão abandonando Mubarak, a própria sorte.

Foto: Lefteris Pitarakis/Associated Press

A Praça Tahrir, no Cairo, cercada por tanques tomada pelos manifestantes, que continuam desafiando o ditador Mubarak

Postado por Toinho de Passira
Fontes: The New York Times, BBC Brasil, Opera Mundi, Jornal Agora, Estadão, G1, Al Jazeera, Reuters, Lens Blog, Blog do Robert Mackey

A situação do Egito é de desobediência civil. Neste sexto dia de protestos pedindo a renúncia do presidente, Hosni Mubarak, 82 anos, há trinta anos no poder, dezenas de milhares de manifestantes inundaram a Praça Tahrir (Praça da Libertação) localizada no centro do Cairo, desafiando o toque de recolher decretado há dois dias, pelo governo, que tenta de todas as maneiras retomar o controle do país.

A violenta polícia de choque foi retirada das ruas, pois os confrontos com os manifestantes estavam mais fortalecendo que intimidando o movimento popular.

Foto: Peter Macdiarmid/Getty Images

Em meio a muita desinformação, pela censura a imprensa e obstáculos do uso de internet e celulares, já se confirma a morte de pelo menos 100 manifestantes, mais dois mil feridos, alguns em estado grave e dezenas de milhares de prisões.

Neste domingo alguns aviões e pelo menos um helicóptero da força aérea egípcia fizeram vôos rasantes sobre a área das manifestações, no que se compreendeu como uma tentativa de intimidação. Houve tensão, mas, multidão acabou aplaudindo as aeronaves que se foram tão rápido como chegaram.

Foto: Peter Macdiarmid/Getty Images

Mohamed ElBaradei: "É melhor para o presidente Obama, que ele não seja a última pessoa a dizer ao presidente Mubarak: Está na hora de você sair".

No começo da noite, o diplomata egípcio, Mohamed ElBaradei, a mais expressiva figura da oposição, ex-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, chegou a juntou-se aos manifestantes na Praça Tahrir, o centro dos protestos, e se dirigiu à multidão através de um megafone.

"Estamos começando uma nova era no Egito", disse ele. "O que começou não pode ser revertido”. "Temos uma demanda-chave: Demitir Mubarak e iniciar uma nova era"

A fala de Mohamed ElBaradei, foi considerada pelo “The New York Times”, como um dos memoráveis eventos, nessa semana de acontecimentos inusitados em território egípcio.

Foto: Reuters

Mas enquanto o presidente Hosni Mubarak, tenta resistir, e os manifestantes não arredam pé dos seus propósitos, o dia a dia do cidadão comum enfrenta o caos e a insegurança da violência urbana.

Os policiais foram radicalmente retirados das ruas causando um colapso na ordem pública rotineira. Para piorar a situação reportar-se que houve fuga em massa de pelo menos quatro presídios.

O governo americano está organizando vôos para evacuar seus cidadãos e dependentes de diplomatas, e alguns funcionários que não lidam com a situação de emergência.

A Turquia, uma grande potência na região, também anunciou o envio de três vôos para retirar 750 de seus cidadãos do Cairo e Alexandria. França, Grã-Bretanha e a Alemanha divulgaram uma declaração conjunta pedindo Mubarak e os manifestantes para mostrar moderação.

A declaração da embaixada americana, exortando todos os americanos no Egito para "abandonar o país, enquanto podem fazer com segurança", sinaliza que o governo de Barack Obama não acredita mais na sustentação do seu antigo aliado Mubarak no poder.

Foto: Peter Macdiarmid/Getty Images

A diplomacia americana, pega de surpresa, não parece saber se posicionar, diante da delicada situação. Não pode continuar apoiando um ditador, embora tenha a ele se aliado por 30 anos, pois, pode assustar outros aliados em iguais circunstancias, nem pode desprezar a possibilidade dele vencer a resistência e continuar no poder, mesmo que isso seja improvável.

Ainda por cima, Israel ficará numa situação de extrema fragilidade, se ocorrer uma mudança radical de poder no Egito, com a real possibilidade dos temores de que o grupo conservador “Irmandade Muçulmana”, uma das principais responsáveis pela organização dos protestos egípcios, possa tomar o poder e converter o Egito numa república islâmica fundamentalista.

Não é à toa que o estado iraniano, tão avesso a protestos populares em seu território, tem apoiado publicamente o movimento egípcio. Falando ao Parlamento iraniano, nesse domingo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad tentou capitalizar as revoltas que estão sacudindo o mundo árabe como uma potencial revolução islâmica.

Foto: Hannibal Hanschke/European Pressphoto Agency

No começo da noite desse domingo, a multidão esta aglomerada próxima e em torno de mais de 100 tanques e veículos blindados. Mas as forças armadas até agora não reprimiram os manifestantes, mantendo um pacto de não agressão mútua, que pode é claro, ser rompido a qualquer momento.

A ansiedade e apreensão que impera nos subúrbios do Cairo, onde os saqueadores invadiram algumas lojas, queimaram centros comerciais, roubaram carros e até saques o Museu Nacional.

Grupos de proteção foram formados pelos moradores nos bairros, já que a polícia não é mais vista nas ruas. Os vigilantes se armaram com bastões e algumas armas, além de montar barricadas durante a noite para se proteger dos marginais. Supõe-se que o governo aposta no caos urbano e a insegurança, para jogar a opinião pública contra os manifestantes.

Foto: Scott Nelson/The New York Times

Os protestos param na hora das orações da tarde

Esse clima de tensão contrasta com a atmosfera festiva que impera sobre a Praça Tahrir, onde vendedores oferecem comida a preços baixos e alguns manifestantes posaram para fotos em frente a tanques pichados com frases como: "30 anos de humilhação e pobreza."

No sábado, Mubarak nomeou Omar Suleiman, seu braço direito e chefe de inteligência do país, como vice-presidente, cargo vago há três décadas, criou especulações de que ele estaria planejando demitir-se.

O manifestantes não parecem dispostos a aceitar qualquer transição manipulada pelo velho ditador, que nomeou também Ahmed Shafiq, que antes ocupava o Ministério da Aviação, como primeiro-ministro encarregado de formar o novo gabinete.

A nomeação de dois ex-generais, a frente do “novo governo” que quer formar, é interpretado como uma tentativa do continuar com o apoio das Forças Armadas.

Em resposta, neste domingo, vários movimentos políticos do Egito divulgaram uma declaração conjunta pedindo ao opositor Mohammed ElBaradei, a formação de um governo de transição.

A TV Al Jazeera, a CNN do mundo árabe baseada no Qatar foi retirada do ar pelas autoridades egípcias em mais uma tentativa de esconder do mundo o que está acontecendo no país.

Foto: Getty Images

Soldados e manifestantes unidos pela prece

Mas o destino do Egito não tem mais volta, como disse ElBaradei. Mesmo sem internet, sem celulares e sem televisão um rastilho de liberdade navega pela região inspirada nos acontecimentos da "Revolução de Jasmim", dos tunisianos.


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