24 de out. de 2010

CUBA : Sakharov tropical - Yoani Sánchez

CUBA
Sakharov tropical
A Blogueira cubana Yoani Sánchez comenta a distinção recebida pelo seu conterrâneo e amigo, o dissidente Guillermo Fariñas, que recebeu o prêmio Sakharov, do Parlamento Europeu


Fariñas com "As Damas de Branco"

Yoani Sánchez,
Fonte: Geración Y

É difícil imaginar que dentro do corpo fraco de Guillermo Fariñas, sob seu rosto sem sobrancelhas, exista uma vontade a prova de desânimos. Também surpreende que nos momentos de maior gravidade para a sua saúde não tenha deixado de estar atento aos problemas e dificuldades dos que o rodeiam. Inclusive agora, com a vesícula extirpada e uns dolorosos pontos cirúrgicos que lhe atravessam o abdômen, sempre que o chamo, em lugar de se queixar, pergunta-me pela família, pela minha saúde e sobre a escola do meu filho. Que maneira de viver para os outros tem este homem! Não foi por nada que fechou a boca aos alimentos para conseguir que 52 presos políticos – dos quais muitos não conhecia – foram libertados.

Há prêmios que prestigiam uma pessoa, que jogam luz sobre o valor de seres desconhecidos até ontem. Mas também há nomes que dão brilho e gratificação e neste caso, o Sakharov outorgado a Fariñas. Depois deste outubro os próximos homenageados com o laurel máximo do Parlamento Europeu terão um motivo a mais para se sentirem orgulhosos. Porque agora tem realce maior graças ao que este villaclarenho obteve, entregando aos demais, este ex-militar que renunciou as armas para voltar-se a luta pacífica.

Quem melhor que ele, que se propôs uma meta imensa e a conseguiu, que deu a todos uma lição de inteireza e submeteu seu corpo a dores e privações que lhe deixaram sequela por toda a vida. Nenhum nome mais adequado para ser incluído na mesma lista onde estão Nelson Mandela, Aung San Suu Kyi e as Damas de Branco do que o deste jornalista e psicólogo cuja principal característica é a humildade. Uma lhaneza que nem os microfones de todos os jornalistas que o entrevistaram neste dias, nem as luzes das câmeras conseguiram mudar. Com essa simplicidade que seus amigos tanto admiramos nele, Coco – porque até seu apelido é humilde – conseguiu que o prêmio Sakharov pareça muito mais importante.


*Traduzido para o português por Humberto Sisley de Souza Neto

Leia o que já foi publicado sobre Guilhermo Fariñas no “thepassiranews”:

Fariñas, dissidente cubano, ganha importante premio
O primeiro gole de água
Boas novas: governo cubano vai libertar 52 presos
Mais cinco cubanos iniciam greve de fome


Um comentário:

Mordaz disse...

O presidente Lula já esclareceu várias vezes, orientado por Marco Aurélio Garcia, e orientando seu Ministro para Relações Exteriores, Celso Amorim, que direitos humanos não são para todos. Uns são mais iguais que outros, por isto não pode este valor burguês ser estendido sem mais nem menos! Nem todo mundo merece o tratamento de um Cesare Battisti sem nunca ter matado pelo menos tanto como ele!