12 de set. de 2010

Efeitos de 11 de setembro continuam atingindo América

ESTADOS UNIDOS
Efeitos de 11 de setembro continuam atingindo América
Nove anos depois do atentado que da Al-Qaeda, em 2001, contra alvos americanos, o Pentagono e o World Trade center, as cerimonias comemorativas deste ano, denotam que os americanos ainda não absorveram o golpe, pelo contrário, questões religiosas, radicalismos, misturadas com a proximidade das eleições políticas, dividem o país, de maneira estranha e até sombria.

Foto: AFP

Na noite anterior, ao 11 de setembro, no local onde se encontravam as torres gêmeas, repetiu-se o simbolismo de dois canhões de luzes representar as edificações destruídas pelo terrorismo

Toinho de Passira
Fontes: O Globo, Reuters, Diario de Notícias, Portal Terra

Em três cerimônias separadas, os americanos lembraram ontem as vítimas dos atentados do 11 de Setembro de 2001. Este aniversário do ataque foi marcado por divisões políticas e religiosas, o que não acontecera nas solenidades dos anos anteriores.

Estas feridas surgiram por causa dos protestos em torno do projeto de um centro cultural e mesquita a 200 metros da zona de impacto, o “ground zero”, em Nova Iorque, mas também devido à intenção do pastor evangélico, Terry Jones, da Florida de queimar exemplares do Alcorão.

Num incidente inesperado, seis membros do movimento populista Tea Party (que representa a mais radical direita americana) rasgaram páginas de exemplares do Alcorão. O ato foi feito em frente à Casa Branca e atraiu a curiosidade de alguns jornalistas e turistas.

"A mentira de que o Islão é uma religião pacífica deve acabar", disse um dos activistas.

Foto: Getty Images

Autoridades prestam homenagem as vitimas do 11 de setembro. Na foto o governador de Nova Iorque David Paterson, o vice-presidente Joe Biden e sua esposa Jill Biden, acompanhadas do Prefeito da cidade Michael Bloomberg

Em Nova Iorque as cerimônias do 11 de Setembro decorreram sem incidentes, num parque próximo da zona de impacto, ao lado do local onde começa a erguer-se o futuro World Trade Center, que substituirá o anterior, destruído nos atentados. Milhares de familiares das quase 3 mil vítimas leram os nomes dos mortos e o vice--presidente Joe Biden declarou que "não estavam ali para chorar, mas para lembrar e reconstruir".

Foto: Reuters

O presidente Barack Obama diante do memorial que homenageia as vitimas do atentado ao Pentágono, acompanhado do Secretário de Defesa Robert Gates, a esquerda e do Comandante da Marinha dos EUA, almirante Michael Mullen

O discurso principal, de Barack Obama, foi feito na segunda cerimônia, junto ao Pentágono, em Arlington, Virgínia, com um discurso sobre a convivência religiosa e os valores da tolerância no país.

"Podem tentar provocar conflitos entre as nossas crenças", disse o Presidente, "mas enquanto americanos não estamos e não estaremos jamais em guerra com o Islão". Estas afirmações foram feitas durante a cerimônia que decorreu no Pentágono, junto ao local onde caiu um dos quatro aviões comerciais usados como mísseis nos atentados.

"Não foi uma religião que nos atacou naquele dia de Setembro. Foi a Al-Qaeda. Um grupo miserável de homens que perverteram a religião", acrescentou Obama. "Não vamos sacrificar as liberdades que apreciamos ou esconder--nos atrás de muros de suspeita e desconfiança".

Esta visão de tolerância religiosa está longe de ser consensual na América, onde muitas pessoas acreditam que o Presidente é de religião muçulmana. Líderes e dirigentes da direita americana, têm responsabilizado o Islão pela violência política internacional.

Obama disse no momento mais significativo de sua fala que os EUA " não estão e jamais estarão em guerra contra o Islã".

Em pano de fundo destas cerimônias, estava a controvérsia em relação ao projeto de construção de um centro comunitário, cultural e mesquita, a “Cordoba House”, que uma fundação muçulmana liderada pelo imã Feisal Abdul Rauf pretende construir em Nova Iorque, apenas alguns quarteirões de distância onde se erguia, antes do atentado, o World Trade Center.

A construção da mesquita a princípio gerou forte oposição em todo país. Ontem, o New York Post publicava uma sondagem onde se verificava aumento do apoio entre os nova-iorquinos, embora a maioria dos inquiridos (51%) estivesse contra.

A terceira cerimônia aconteceu em Shanksville, na Pensilvânia, onde caiu o terceiro avião, causando a morte de 40 pessoas.

Durante algum tempo, não se soube o que acontecera e até se a queda do aparelho fazia parte da conspiração, mas apurou-se mais tarde, através das caixas pretas, que os terroristas queriam lançar o avião sobre o Capitólio, em Washington, mas a sua intenção foi abortada pela intervenção enérgica dos passageiros. O avião acabou sinistrado num campo agrícola da Pensilvânia.

Foto: Associated Press

A primeira dama, Michelle Obama, acompanhada por Laura Bush, a mulher do ex-presidente, George W. Bush, prestaram ontem, homenagem às vítimas do voo 93.

Michelle Obama sublinhou a sua "admiração pelo heroísmo" dos passageiros que tentaram evitar o atentado e que procuraram tomar conta do Boeing 757 que os terroristas controlavam.

Na verdade as cerimônias de ontem decorreram a poucas semanas de eleições parlamentares americanas, marcadas neste ano, por discussões invulgarmente ideológicas e religiosas.

O mais espetacular e devastador ato terrorista do século passado, o 11 de setembro, continua destruindo.

Vitimas do primeiro atentado em seu território, os americanos perderam a confiança nas autoridades e órgãos federais encarregados da segurança do país.

Foto: Getty Images

Grupos radicais de direitas, dentro do próprio território americano, formam-se para combater ideais de liberdade religiosa e de expressão. Os imigrantes são hostilizados, as religiões se confrontam e os extremistas mulçumanos realimentam-se cada vez mais desses radicalismos, para encontrar seguidores e argumentos para atacar a América e os americanos.

Se no século XIX os protestantes viam um inimigo em cada imigrante católico e achavam que nada de bom podia vir deles, agora são os seguidores de Maomé o alvo de grupos conservadores nos Estados Unidos.

Foto: Getty Images

Jovens mulçumanas expressam amor a América, diante da mesquita do Centro Islâmico do Sul da Califórnia, ontem, na celebração do fim do Ramadã, o mês sagrado mulçumano.

São apenas 2,5 milhões dos pouco mais de 300 milhões de habitantes dos EUA e representam 0,6% da população adulta, mas por causa dos atentados de 11 de setembro de 2001 os muçulmanos veem ameaçada sua fé por culpa dos militantes da Al Qaeda que planejaram os ataques.

Agora, em pleno século XXI, o país que se fundou sobre o princípio da liberdade, é palco de incidentes de violência:

Em Nova York, um taxista foi apunhalado depois que um passageiro perguntou se ele era muçulmano. Em outra ocasião, um homem urinou em vários tapetes de oração em uma mesquita enquanto gritava ofensas contra os muçulmanos.

Em Jacksonville (Flórida), uma bomba caseira explodiu em um centro islâmico onde estavam 60 pessoas, enquanto no Tenessee, um desconhecido ateou fogo em funcionários de uma obra no local onde seria erguida uma mesquita.

Foto: Reuters

À sombra do debate nacional sobre a construção de uma mesquita perto do Marco Zero, grupos como o direitista "Greve à Islamização dos EUA" convocaram um protesto em Nova York contra o projeto chamado "Park51".

Pam Geller, co-fundadora do grupo, recorreu aos principais meios de comunicação para advertir que os muçulmanos estão crescendo em número e influência, até o ponto que "tentarão a tomada do poder político, e se isso não funcionar, lançarão mão de intimidação, assassinatos e terrorismo, como já demonstraram em dezenas de países no mundo todo".

Para Pam, é grave o possível impacto da "satanização" da religião muçulmana em milhares de crianças criadas nessa fé, muitas delas nascidas nos EUA.

Dalia Mogahed, do Centro Gallup para Estudos Muçulmanos, diz que quem expressa e propaga o ódio contra os muçulmanos nos EUA "ironicamente reflete um princípio básico dos radicais islâmicos" que sugere, erroneamente, que neste país não há lugar para o islã.

O islã floresceu nos EUA com a chegada dos escravos africanos e, no nono aniversário dos atentados terroristas, deve-se lembrar que dezenas das três mil vítimas eram muçulmanas.

Foto: Greg Semendinger

DIA DO JUÍZO FINAL AMERICANO - Momento em que a última das torres gêmeas desabou. Imagem captada em um helicóptero pelo policial Greg Semendinger, no dia do atentado, flagrantes só divulgados no ano passado.


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