15 de jul. de 2010

ESPANHA – CUBA: Mesmo libertos os presos políticos não podem falar

ESPANHA – CUBA
Mesmo libertos os presos políticos não podem falar
O regime cubano usa o expediente da chantagem, para mantê-los discretos e cautelosos. Embora estejam com seus familiares, sabem que se falarem mal do regime, de forma agressiva, os seus antigos companheiros de cárcere, ainda preso na Ilha poderão ter suspensa a liberdade prometida

Foto: GettyImages

Os sete primeiros libertados- Julio César Gálvez, Léster González, Omar Ruiz, Antonio Villareal, José Luis Garcia Paneque, Pablo Pacheco e Ricardo González - todos membros do chamado Grupo dos 75, o grupo de dissidentes detidos pelo regime cubano na primavera de 2003 e condenados a penas de até 28 anos de prisão

Toinho de Passira
Fontes: Blog do Noblat, Euronews, El Pais

Os jornalistas pouco puderam ouvir dos primeiros sete presos políticos, que junto com alguns familiares foram libertados pelo governo cubano, como resultado de acordo entre a Igreja Católica cubana e o governo espanhol.

No aeroporto de Barajas na Espanha, quando apresentados a imprensa pareciam ainda assustados e receosos, nada que pudesse lembrar homens livres, num país livre.

A jornalista Priscila Guilayn do O Globo, reporta que o Ministério das Relações Exteriores da Espanha montou uma espécie de cordão de isolamento para dificultar o acesso de qualquer pessoa, incluindo aí jornalistas, com os cubanos libertados e seus familiares.

Tudo aconteceu absolutamente sobre controle. Os dissidentes só responderam a duas perguntas e Rodrigo González Alfonso, de 60 anos, posto como porta-voz do grupo, preferiu não entrar em detalhes sobre as condições nas quais eles teriam saído de Havana:

— Não nos consideramos manipulados. Em um processo de diálogo há quem cede de um lado e quem cede do outro. Somos a via de um caminho que pode ser o começo de uma mudança. Cada um tomou o caminho que achou mais conveniente. Uns ficaram na Ilha, outros emigraram. O exílio para nós é a prolongação da luta.

Foto: Getty Images

Zoe Valdés, a escritora dissidente que vive em Paris e foi a Madrid para ver os companheiros e a Blanca Reyes, um representante das Damas de Branco, mulher do dissidente Raúl Rivero, falando com a imprensa em Madrid

As palavras de González foram consideradas "um discurso" pela escritora cubana Zoe Valdéz, que mora em Paris há 15 anos. Ela viajou a Madri para recepcionar os dissidentes e, depois de muito argumentar que também era jornalista, conseguiu entrar na sala da entrevista. Não pôde, no entanto, como nenhum repórter, aproximar-se dos 26 familiares dos opositores, isolados em um canto do estacionamento do aeroporto.

— Isso não pode ser visto como uma liberação. Vieram presos em um avião e agora estão presos dentro de uma sala. Há sete anos não nos vemos e não me deixam sequer cumprimentá-los — diz Blanca Reyes, uma das fundadoras do movimento de mulheres pela liberação de presos políticos cubanos e esposa do poeta dissidente Raúl Rivera.

Foto: Associated Press

Os prisioneiros cubanos libertados falando com a imprensa no aeroporto de Madrid



González, na sua curta fala, diz acreditar que o governo cubano deu "um passo, não foi o primeiro e não será o último", em direção a uma mudança:

— Uma palavra se dirige a Cuba e é a palavra mudança. Cada um vê mudança de uma maneira diferente e assim deve ser, porque quando há unanimidade de critérios é sinal de que não há critérios. Para nós a palavra mudança começa pela liberdade de todos os cidadãos cubanos, pensem como pensem. – encerrou

Os sete presos chegaram à Espanha na condição de imigrantes e não como exilados políticos. A Espanha lhes dará um estatuto de "residência protegida " e lhes concederá uma permissão de trabalho. O fato de que Cuba os defina como imigrantes supõe que na teoria possam voltar no futuro à ilha. Segundo o acordo que Raúl Castro se comprometeu em 7 de julho com o cardeal Jaime Ortega e o ministro espanhol das Relações Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, os familiares dos presos poderão voltar a Cuba livremente enquanto os ex-detidos terão de pedir autorização.

Só daqui há algum tempo, quando Cuba tiver libertado todos os prisioneiros, vamos saber o que realmente aconteceu.

Devem estar temerosos que alguma atitude agressiva ou gesto político, possam complicar a libertação dos outros companheiros que ainda estão presos na ilha.

Foto: Associated Press

Afinal, enquanto eles eram libertados, na seção de migração do aeroporto Jose Marti, em Cuba, a funesta figura de Fidel Castro estava na TV, dando uma demonstração que ainda paira como uma nuvem negra sobre o futuro do país.


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