19 de abr. de 2010

Chávez transformou presidência num governo militar

VENEZUELA
Chávez transformou presidência num governo militar
O coronel venezuelano não se sente à vontade em trajes civis. Cada vez mais alia a sua imagem ao seu uniforme verde oliva e boina vermelha. Governa o país como um comandante administra um aquartelamento: sem permitir contestações e punindo os insubordinados com sua mão pesada. Vendo seu prestígio popular desabar, vem transformando a Venezuela, em passos cadenciados numa ditadura militar. Ameaçado pelas urnas está pronto e aparelhado para interferir de qualquer maneira para se manter no poder

Foto: Reuters

Coronel Chávez, bem mais coronel que presidente

Toinho de Passira
Fontes: O Globo, Blog Sidney Resende, Governo Venezuela, Printers Cats, Diário de Notícias, Blog da Guerrilha Comunicacional, Estadão, El Nacional

A Venezuela celebra os 200 anos de independência da Espanha, comemorando um curioso fato, ocorrido em Caracas, 19 de Abril de 1810, quando um grupo de crioulos caraquenhos aproveitou a desculpa de que a Espanha estava sendo governada por Napoleão Bonaparte, um francês, para convocar uma reunião de cúpula e proclamar um governo próprio até que Fernando VII voltasse a ocupar o trono da Espanha.

O Capitão Geral, Vicente Emparan, encarregado por Napoleão para governar a colônia, vendo da janela do seu alojamento militar o povo, que havia se reunido na praça maior (hoje Praça Bolívar) fez um plebiscito oral, perguntando se queriam que ele continuasse a frente do comando da Venezuela e ouviu um uníssono “não”. De pronto o espanhol renunciou ao cargo e foi embora.

A oposição diz que na atualidade, se o presidente Hugo Chávez fizesse a mesma pergunta, obteria também um “não” ensurdecedor, mas todos estão certos que ele não iria embora, mesmo assim.

Foto: Getty Images

Hugo Chávez apesar de ser inimigo declarado dos americanos, utiliza esse “Cadillac Fleetwood”, da General Motors, originário de Detroit, para os seus desfiles triunfais

Os planos do atual presidente venezuelano são bem outros: montou um estado militar em torno de si, na velha tradição de culto à pessoa, do caudilhismo latino, baseado nos fundamentos e na experiência de Fidel Castro.

Prevendo que pode perder a maioria no congresso nacional, nas próximas eleições parlamentares, marcadas para 26 de setembro, devido à queda de sua popularidade, prepara-se para interferir no resultado eleitoral, se for adversos, montando uma encenação militar de conspiração, tentativas de golpes e ameaças de assassinato contra a sua pessoa.

A Assembleia Nacional da Venezuela (equivalente a Câmara dos Deputados no Brasil) é dominada quase que completamente por parlamentares governistas, após o boicote idiota da oposição nas últimas eleições realizadas para a renovação da Casa, o que permite Chávez legislar, quando e como quer, sempre no seu interesse.

Foto: Associated Press

Integrantes da Milícia Nacional Revolucionaria, de Chávez, paralamilitares, treinados para defender as instituições, ou ameaça ao presidente

Seu prestígio popular vem desabando devido a sua incompetência de governar o estado e a impropriedade de sua revolução bolivariana estatizante e adversa ao investimento externo.

A Venezuela convive, no momento, como altos índices de desempregos, inflação desenfreada, desabastecimento e crise nos serviços públicos.

Os apagões elétricos, desnudou a falta de investimento na infra-estrutura, o país não tinha um plano B, no caso de estiagem prolongada, o que comprometeu também o abastecimento d’água na capital e região metropolitana. Por fim, a privatização e o monopólio da comunicação telefônica, geraram telefones sem linhas e ligações que caem a todo instante e impossibilidade de se conseguir novos telefones, por falta de investimento no setor.

Como não pode reverter essa situação está inventando moda, copiando antigos modelos revolucionários ditatoriais, como a juventude hitleriana, o exército popular de Pancho Villa e a força militar esmagadora dos irmãos Castro, de Cuba.

Foto: Reuters

A comemoração do golpe que não deu certo, na quarta-feira. O jornal El Nacional denuncia que os jovens estudantes uniformizados e armados, não foram ao evento voluntariamente

Na última quarta-feira, ele comemorou o dia em que voltou ao poder após a tentativa fracassada de golpe em 2002, como um evento histórico de heroísmo, embora os fatos digam que ele ficou preso numa base militar e os golpistas, sem apoios das instituições, acabaram desistindo.

Desde então Chávez, sempre que está em dificuldades, inventa golpes e atentados contra si, para mobilizar as multidões em seu benefício. No discurso da comemoração do fracasso do golpe, afirmou que é alvo de uma conspiração para assassiná-lo, sem maiores detalhes, provavelmente pura invencionicesse.

Foto:

Uma das integrantes da guarda miliciana de Chávez, exibe sua armas

No evento, 30 mil milicianos, um exercito de civis, espécie de guarda nacional, criada para segundo ele, defender as instituições e a democracia, juraram lealdade a causa bolivariana, ou seja, a Chávez.

Emblematicamente, na sexta-feira, o presidente Chávez, avisou que “a oligarquia apátrida nunca mais voltará a governar o país”, e que “estão se matando” por um assento no Congresso Nacional. A esta altura não se sabe que fará o presidente se a oposição tomar o congresso com maioria.

Foto: Globovision

A ministra da Educação, Tania Díaz, preside o juramento da primeira turma de guerrilheiros Comunicacionais 

Também como parte das comemorações do bicentenário, o governo de Hugo Chávez criou na semana passada os “comandos de guerrilha das comunicações”. A iniciativa é controversa e reforçou as críticas dos que acusam o presidente de buscar o controle total sobre a informação. A orientação geral dos organizadores é capacitar cidadãos, principalmente adolescentes, para usar a internet como plataforma de contra-ataque à mídia “burguesa”.

“Pretendem recrutar jovens entre 13 e 17 anos, que manejam ferramentas tecnológicas como internet e Twitter, para navegar pela rede, defender a revolução bolivariana e atacar a oposição”, explica o cientista político venezuelano Trino Márquez.

“Essa proposta está sendo muita questionada. Todo o país tem criticado essa iniciativa de caráter militarista, que nega a diversidade e estimula o ódio dos jovens contra quem pense diferentemente”, afirma Trino.

O presidente da Federação Venezuelana de Professores, Orlando Alzuru, classificou a proposta como uma “aberração”, que “impõe aos jovens atividades de ódio e ressentimento em suas atividades escolares”.

Foto: Reuters

Por fim a parada militar no domingo, ao invés de comemorar a data nacional, foi uma aclamação ao presidente, que tinha nas mãos uma cópia da espada de Simon Bolívar, e bem ao estilo Castro, ameaçava os opositores, com suas forças armadas leais.

Para a Venezuela se tornar uma ditadura, falta apenas que a oposição tente chegar ao poder pelas urnas.


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