19 de fev. de 2010

ELEIÇÕES 2010 – Sarney só vê uma solução: o caixa dois

ELEIÇÕES 2010
Sarney só vê uma solução: o caixa dois
O pensamento exposto por José Sarney, o presidente do Senado e o senhor feudal do Maranhão, no seu artigo semanal na Folha de ontem, expõe queixoso que as campanhas eleitorais são caras e as pessoas não querem fazer doações às claras e que só resta aos candidatos “o caixa dois e seus custos inconfessáveis”.

Foto: Reuters

Na matéria José Sarney também se lamuria dos sofrimentos de se disputar uma eleição, logo ele que desde 1950 vem sendo candidato ininterrupto. Ou o presidente do senado encontrou alguma vantagem em continuar se candidatando ou é masoquista

José Sarney
Fontes: Folha de São Paulo

A Democracia é complicada e bem mais barata que os regimes monárquicos, teocráticos e ditatoriais. Mas não é o gasto que pesa na arte de ter um bom sistema. A democracia representativa custa pouco: é um título de eleitor e a burocracia de colher os votos. Mas será só isso?

É que, para conscientizar o eleitor, é necessário que o candidato exponha suas ideias, faça proselitismo e realize aquilo que se chama campanha -e só quem viveu uma campanha sabe o que é. Ela se confunde com a eleição de que faz parte, mas domina todas as etapas desta, e assim a abarca toda. Mas, nas articulações entre adeptos e rivais, a pergunta que surge é sempre:

"Em que palanque vamos ficar?". O palanque é o essencial, o resto é supérfluo. As agruras de uma campanha-eleição são tantas que contam haver um homem visitado um cemitério e começado a ler as inscrições nos túmulos: "Aqui repousa em paz...". O visitante escreveu:

"Porque nunca concorreu a uma eleição!". Senão, nem depois de morto tem paz.

Antigamente, a campanha era feita de diretório em diretório, com organização de comitês, grupos de trabalho e toda forma de mobilização. Hoje, um minuto de televisão vale mais que tudo isso.

A campanha reduziu-se à televisão. Ela fornece, comanda, decide a pauta da eleição. E é aí que se estabelece o nó do dinheiro. Hoje, o palanque eletrônico leva 90% de todos os gastos. E de onde tirar o dinheiro? No mundo inteiro descobriram duas fórmulas: o financiamento público e a generosidade privada.

No Brasil, essa discussão já é velha e agora cresce mais. Já existe um projeto de lei passado no Senado que cria o financiamento público e a lista fechada. Por ele, financia-se o partido, e não o candidato.

O partido torna-se o encarregado da campanha. Hoje, nosso sistema do voto proporcional, que vem do século 19, obriga cada candidato a fazer a sua campanha, o que significa muito mais dinheiro e muito maior comprometimento do financiador com o seu financiado.

Hoje ninguém quer ver o seu nome numa lista de doadores. Estabelece-se logo uma suspeita de relação de interesses.

Daí o nosso impasse. Se o dinheiro não sai de um financiamento público e não sai de particular, e se uma equipe de marqueteiro e sua parafernália eletrônica não custam menos de R$ 10 milhões, de onde virá o dinheiro? Brizola já dizia:

"Para combater epidemia e fazer eleição nunca faltará dinheiro". Assim, a democracia, que é barata, fica cara, porque a solução será a porta escusa do caixa dois e seus custos inconfessáveis. A outra saída, como diria o Otto Lara, é dissolver a eleição.


*“Quem paga a conta” é o título original da coluna de Sarney na Folha de São Paulo
**Alteramos o título, acrescentamos subtítulo, foto e legenda.

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