28 de fev. de 2010

BRASIL: O maior lobista do país - Dirceu sob os holofotes

Brasil
O maior lobista do país - Dirceu sob os holofotes
José Dirceu, o "consultor" mais quente da República, aparece no meio de uma bilionária operação que pretende botar em pé uma empresa estatal de internet e, claro, fazer a fortuna de alguns bons companheiros

Foto: Eliaria Andrade/Ag. O Globo

DO OUTRO LADO DO BALCÃO Dirceu abandonou a militância e só pensa em sua "consultoria"

Fábio Portela e Ronaldo França
Fonte: Revista Veja

De tempos em tempos, o governo Lula se vê obrigado a explicar ne-gócios obscuros, lobbies bilionários, maletas de dinheiro voadoras e beneficiamento a grupos privados. Já é uma espécie de tradição petista. E o que une todos esses casos explosivos? José Dirceu, o ex-militante de esquerda e ex-ministro-chefe da Casa Civil que se transformou no maior lobista da República. Onde quer que brote um caso suspeito incluindo gente do PT e dinheiro alto, cedo ou tarde o nome de Dirceu aparecerá.

Ele tem se esgueirado nas sombras, como intermediador de negócios entre a iniciativa privada e o governo desde 2005, quando foi expurgado do cargo de ministro por causa do escândalo do mensalão. Sem emprego, argumentou que precisava ganhar a vida e se reinventou como "consultor", o eterno eufemismo para "lobista". Passou a oferecer, então, duas mercadorias: informação (dos tempos de Casa Civil, guarda os planos do governo para os mais diversos setores da economia) e influência (como o próprio Dirceu adora dizer, quando ele dá um telefonema para o governo, "é O telefonema"). Em ambos os casos, cobra bem caro por seus serviços.

Na semana passada, um dos serviços do "consultor" José Dirceu causou um terremoto em Brasília. Os jornalistas Marcio Aith e Julio Wiziack revelaram que ele está metido até a raiz dos cabelos implantados em uma operação bilionária para criar a maior operadora de internet em banda larga do país. O negócio está sendo coordenado pelo governo desde 2003 e vai custar uma montanha de dinheiro público – fala-se em até 15 bilhões de reais.

Deverá fazer a alegria de um grupo de investidores privados que, ao que tudo indica, tiveram acesso a informações privilegiadas e esperam aproveitar as ações do governo para embolsar uma fortuna. O Plano Nacional de Banda Larga – nome oficial do projeto sob suspeita – começou a ser gestado no início do governo Lula, quando Dirceu ainda era ministro. A ideia era criar uma estatal para oferecer internet em alta velocidade a preços subsidiados em todo o país – uma espécie de "Bolsa Família da web".

Dirceu passou a defender a ideia de que a nova empresa fosse erguida a partir de outras duas, já existentes, mas que estavam em frangalhos: a Telebrás, que depois da privatização do sistema de telefonia, em 1998, ficou sem função, e a Eletronet, dona de uma rede de fibra óptica que cobre dezoito estados.

A Eletronet era uma parceria da Eletrobrás e da americana AES, mas, por ser deficitária, estava em processo de falência. O projeto de Dirceu era capitalizar as duas companhias e fazer com que a Telebrás oferecesse internet em alta velocidade usando a rede da Eletronet.

O presidente Lula aprovou a proposta – afinal, não é todo dia que se antevê uma estatal inteira, pronta para ser aparelhada. Apesar de o projeto ter sido desenhado em 2003, só começou a se tornar público em 2007. E este foi o pulo do gato: quem ficou sabendo dos planos oficiais com antecedência teve a chance de investir nas ações das duas empresas e, agora, poderá ganhar um bom dinheiro com o desenlace do plano.

Fotos O Globo e Mario Souza e Bertrand Langlois

LISTA EXTENSA -  Daniel Birmann, rei do biodiesel de mamona, e o russo Boris Berezovsky também são clientes do petista

. O maior beneficiário em potencial atende pelo nome de Nelson dos Santos – lobista, como Dirceu, mas de menor calibre. Em 2004, Santos (ainda não se sabe por qual canal) tomou conhecimento da intenção do governo de usar a Eletronet para viabilizar o sistema de banda larga. A maior parte do capital da Eletronet (51%) estava nas mãos da AES. Santos conhecia bem a companhia: em 2003, havia feito lobby para renegociar uma dívida de 1,3 bilhão de dólares da AES com o BNDES, e teve sucesso.

Quando descobriu que a falida Eletronet poderia virar ouro, convenceu a direção da AES a lhe repassar suas ações na empresa pelo valor simbólico de 1 real. A AES topou. Achou que estava se livrando de um problemão, pois a Eletronet acumulava dívidas de 800 milhões de reais. Na reta final do negócio, Santos foi surpreendido por três outros grupos que também se interessaram pela compra – o GP Investimentos, a Cemig e a Companhia Docas, do empresário Nelson Tanure –, mas o lobista venceu a disputa. Por orientação dele, as ações da AES na Eletronet foram transferidas à Contem Canada.

VEJA descobriu que a Contem de Canadá só tem o nome. Ela é uma offshore controlada por brasileiros que investem no setor de energia. Como está fora do país, ninguém sabe ao certo quem são seus cotistas. Posteriormente, metade dessas ações foi repassada à Star Overseas, outra offshore, das Ilhas Virgens Britânicas, pertencente a Santos. Offshore é a praia de Dirceu.

Com essa negociação amarrada, Santos e seus companheiros da Contem passaram a viver, então, a expectativa de que parte do dinheiro público a ser investido na Eletronet siga diretamente para seus bolsos. Para se certificar de que as iniciativas oficiais confluiriam para seus interesses, contrataram os serviços de quem mais entendia desse tipo de operação no país: José Dirceu, o "consultor".

Entre 2007 e 2009, Santos lhe pagou 20 000 reais por mês, totalizando 620 000 reais. O contrato entre os dois registra o seguinte objeto: "assessoramento para assuntos latino-americanos". Se tudo corresse como o planejado, a falência da Eletronet seria suspensa e a empresa, incorporada pela Telebrás. Santos e os outros cotistas da Contem seriam, assim, ressarcidos.

O lobista calculava sair do negócio com 200 milhões de reais. O que Dirceu fez exatamente por seu cliente é um mistério. O que se sabe é que em 2009 o governo tentou depositar 270 milhões de reais em juízo para levantar a falência da Eletronet e passar a operar sua rede. O caso embolou porque os credores da empresa alegaram que, se algum dinheiro pingasse, deveria ser deles, que forneceram os materiais usados na rede de fibras ópticas, e não do grupo do lobista. O imbróglio segue na Justiça.

O MAIS RICO - O mexicano Carlos Slim pagou pela consultoria do ex-ministro
Paralelamente, houve quem ganhasse na outra ponta do negócio, a da Telebrás – que está cotada para operar o sistema de banda larga e, portanto, também pode vir a valer muito dinheiro. Antes de o PT chegar ao poder, o lote de 1 000 ações valia menos de 1 centavo de real. No decorrer do primeiro mandato de Lula, o preço subiu para 9 centavos por lote. No segundo mandato, veio o grande salto. Figuras de proa do governo começaram a fazer circular, de forma extraoficial, informações sobre o resgate da Telebrás.

As ações dispararam com a especulação. Sua valorização já chega a 30 000%, sem que nenhuma mudança concreta tenha sido realizada. Tudo na base do boato. O caso é tão estranho que levantou a suspeita da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o órgão responsável por manter a lisura no mercado de ações.

A CVM quer saber quem se beneficiou desse aumento estratosférico e, principalmente, se esses investidores tiveram acesso a informações privilegiadas saídas de dentro do Palácio do Planalto.

A explosiva criação da estatal de banda larga é só mais um dos muitos negócios em que Dirceu está metido. Desde que foi defenestrado do governo, o ex-militante de esquerda foi contratado por alguns dos empresários mais ricos do planeta para "prestar consultoria".

O magnata russo Boris Berezovsky, proibido pela Justiça de seu país de voltar para casa, contratou Dirceu para tentar receber asilo político no Brasil e facilitar suas operações financeiras por aqui.

O terceiro homem mais rico do mundo, o mexicano Carlos Slim, dono da Claro e da Embratel, pagou a Dirceu para que ele defendesse seus interesses junto aos órgãos reguladores da telefonia brasileira.

No Brasil, sua lista de "clientes" inclui a empreiteira OAS, a Telemar (que o contratou quando precisava convencer o governo a mudar a legislação brasileira para viabilizar sua fusão com a Brasil Telecom), a AmBev, e muitos outros pesos-pesados. A atuação tão animada de Dirceu vem causando arrepios no governo.

"Fazer lobby e aproveitar contatos no exterior para ganhar dinheiro, tudo bem. Mas fazer tráfico de influência com informação privilegiada do governo é um risco enorme", avalia um dirigente petista. As "consultorias" de Dirceu podem se tornar uma bomba para o PT durante as eleições deste ano.

OS NEGOCIOS DE DIRCEU

O consultor José Dirceu já declarou que, “modéstia à parte”, quando ele dá um telefonema par o governo “é O telefonema”. Algumas das empresas e empresários que contrataram o ex-ministro para que ele fizesse suas valiosas ligações:

Em 2006 - Boris Berezovsky, maganata russo cujo enroladíssimo prontuário, que inclui corrupção e até assassinato, impede que ele pise na terra natal.

DIRCEU ajudou o magnata, que vive na Inglaterra, a se instalar no Brasil como asilado político e facilitar as operações de sua offshore, a MSI, que havia se associado ao Corinthians.

Em 2006 - O mexicano Carlos Slim um dos homens mais ricos do mundo dono da Claro e da Embratel.

DIRCEU defendeu seus interesses junto aos órgão reguladores da telefonia no Brasil, especialmente Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)

Em 2007 – O banqueiro Daniel Birmann dono do Grupo Arbi

DIRCEU facilitou um empréstimo do BNDES que viabilizasse a parceria entre a empresa de Birmann e a Petrobras. O projeto para produzir biodiesel a partir do óleo de mamona, mostrou-se um fracasso.

Em 2007 - Telemar

DIRCEU Facilitou o processo de fusão da empresa com a Brasil Telecom

Em 2008 - Ricardo Salinas empresário mexicano dono da rede Elektra e do Banco Azteca

DIRCEU intermediou as negociações para a entrada de suas empresas no país.

Em 2009 - Grupo Ongoing conglomerado de mídia português

DIRCEU viabilizou o lançamento do jornal financeiro Brasil Econômico e de uma publicação diária em Brasília voltada para a cobertura do poder.

A JOGADA DA BANDA LARGA

Quando era ministro da Casa Civil, José Dirceu encampou uma idéia mirabolante: unir duas empresas depauperadas, - a Telebrás e a Eletronet – para montar uma enorme operadora de internet em banda larga. Os custos, evidentemente, seriam pagos pelo governo. E quem tivesse participação nas empresas poderia ganhar um bom dinheiro com a operação. Expurgado do governo Dirceu continuou seguindo o caso, como “consultor”.

TELEBRÁS - Desde a privatização das teles, em 1998, a Telebrás é uma empresa que se arrasta sem rumo. Administra alguns fundos públicos, e só. Suas ações valiam menos que farelo em 2003, quando o PT chegou ao poder. Discretamente, Dirceu coordenou a criação de um plano para despejar bilhões de reais na empresa e ressuscitá-la, agora na condição de a maior operadora de banda larga do país. Se isso ocorrer, a empresa se tornará uma das mais valiosas do Brasil. Por esse motivo, seus papéis vêm experimentando uma alta sem precedentes.

ELETRONET - Criada em 199, em uma associação da Eletrobrás com a americana AES, possui uma rede de 16 000 quilômetros de fibras ópticas, em 18 estados. Em 2003, os sócios pediram falência, pois o negócio era deficitário – acumula, até hoje, dívidas de 800 milhões em reais. José Dirceu viu aí uma oportunidade. Ele passou a defender a idéia de que a operação de banda larga da Telebrás fosse feita por meio da rede Eletronet.

Logo depois, a participação da AES na empresa (que era de 51%) foi repassada a uma obscura companhia chamada “Contem Canada” – na verdade, Veja apurou tratar-se de um fundo offshore controlado por brasileiros – e ao lobista Nelson dos Santos. Entre 2007 e 2009, o lobista pagou 620 000 reais a Dirceu a título de “consultoria”.

TELENET -  Se o negócio vingar, Dirceu terá coordenado a criação da maior empresa do país no ramo da internet, sob controle estatal. Com isso, vai encher os bolsos de quem comprou papéis da Telebrás nos últimos anos. Outro que pode se dar muito bem é o lobista Nelson dos Santos. Por ser detentor de ações da Eletronet, ele projeta sair do negócio com até 200 milhões de reais no bolso, embora o governo jure que ele não ganhará nada com a conclusão do acordo, pois o dinheiro investido na Eletronet seria usado apenas para pagar dívidas da companhia.


Um comentário:

Anônimo disse...

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