19 de jan. de 2010

Os americanos são os novos donos do Haiti

HAITI
Os americanos são os novos donos do Haiti
Nesta segunda chegaram 10 mil soldados ianques em Porto Príncipe, mais navios hospitais, milhares de médicos e enfermeiros. Obama quer exibir uma invasão militar americana positiva. Politicamente, porém, a estratégia ainda não apresentou efeitos reais de controle da situação caótica e criou sérios embaraços diplomáticos com as tropas da ONU estacionadas no país, lideradas pelo exército brasileiro há cinco anos

Foto: Arquivos Plano Brasil

Os americanos chegaram aos borbotões

Fontes: Folha Online, AFP, Estadão, Plano Brasil

Ninguém pode rejeitar a ajuda americana, pois tudo que puder melhorar a situação dos haitianos é bem vindo, mas não está pegando bem diplomaticamente a esmagadora intervenção. Como se uma força intervencionista estivesse dominando militarmente outra, pela superioridade numérica e tecnológica.

Não se estar levando em conta a experiência no terreno e os melindres de uma tropa de sete mil homens, 1.200 deles do Brasil, a Minustah” (a missão de paz da ONU), treinados, eficazes e orgulhosos do trabalho de pacificação que realizavam até então no Haiti.

O presidente americano, Barack Obama, assumiu o controle da situação no Haiti, sem entendimentos prévios com o presidente Lula do Brasil, que tem a responsabilidade comando da Força de Paz no país há cinco anos. Apesar do presidente brasileiro, ter feito contato com o americano na primeira hora, demonstrando sua disposição de estar à frente da coordenação das ações no país caribenho, que militarmente estava, por incumbência da ONU, sob o seu controle militar.

O presidente brasileiro sempre ávido pelas luzes dos refletores internacionais, bem que merecia, desta vez, um pouco mais de respeito, por parte do seu colega americano. Obama tem feito um jogo duplo, citando o Brasil como importante na ação do Haiti, enquanto tira o controle da situação do comando brasileiro, numa manobra que em muito se assemelha a atuação da diplomacia americana na Conferencia do clima em Copenhague.

Se na luta em defesa do planeta, a imprensa não registrou que o presidente americano, manobrou conspiratoriamente para não deixar o Brasil liderar o encaminhamento das negociações, mesmo pagando o preço da conferencia fracassar, nessa nova situação, desde sexta-feira, já se fala em uma tensão diplomática entre os EUA e o Brasil.

Foto: Getty Images

Em grosso modo foi uma invasão militar de solidariedade americana

Essa briga de egos presidenciais, onde a razão, nestes últimos acontecimentos, esteja com o governo brasileiro, resulta no prolongamento do sofrimento do povo haitiano, que apesar da inigualável mobilização internacional de ajuda, ainda não recebe de forma adequada alimentos, assistência média e proteção social.

O Brasil não fez nada de errado para sofrer essa intervenção e perder o comando das ações que vem exercendo com eficácia há cinco anos. Se o Haiti não está melhor humanamente, foi devido à falta de atenção internacional ao drama humano vivido naquele país, com os piores índices humanos do planeta.

No primeiro momento do terremoto, até contrastando com a morosidade em intervir em catástrofes dentro do Brasil, o governo Lula, mobilizou-se de forma correta e não se omitiu em continuar com a responsabilidade de manter a segurança social no Haiti.

O Ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim e os comandante do exército, general Enzo Peri e da marinha, Júlio Soares de Moura Neto chegaram ao território haitiano no dia seguinte à ocorrência do terremoto. Um gesto inclusive, temerário, pelos riscos de envolver de uma só vez, três importantes autoridades gestoras da defesa brasileira, numa região com riscos de sofrer novos abalos sísmicos.

Na ocasião, fugindo da nossa característica, até elogiamos o gesto do ministro Jobim, que como Chefe da Defesa foi prestar solidariedade aos militares brasileiros, e erguer a moral da tropa que perderá 17 companheiros na catástrofe.

Foto: Reuters

Americanos residents no Haiti ou de origem haitiana sendo evacudados de volta aos Estados Unidos, nos aviões da Força Aérea que haviam trazidos doações

O terremoto destruiu a torre de controle do aeroporto de Porto Príncipe, mas a tropa de paz da ONU, mesmo de forma precária, assumiu o controle da situação, apoiando técnicos haitianos e até a quinta-feira, conseguiram controlar a intensa movimentação aérea que passou a acontecer com a chegada de ajuda humanitária de inúmeras partes do mundo.


C 130 Hércules da FAB, como esses, com suprimentos e equipes de resgates, foram impedidos de pousar
Sem a ninguém consultar, nem o presidente do Haiti, que está instalado, nas dependências do próprio aeroporto, por ter sido o palácio do governo, destruído, nem os comandantes militares brasileiros, inclusive o ministro da defesa, os americanos chegaram com equipamentos e assumiram o controle absoluto do aeroporto de Porto Príncipe.

O vexame tornou-se mais evidente, quando cinco aeronaves da FAB que fariam transporte de mantimentos, equipes de resgate e autoridades, três tiveram que pousar, na quinta-feira, em Santo Domingo (República Dominicana), o país vizinho, porque ao se aproximar do Haiti, não receberam autorização para pouso em Porto Príncipe, apesar de estarem levando equipes de apoio, suprimentos para a tropa e doações de medicamentos aos haitianos,

No caso, as Forças Armadas Brasileiras, estavam sendo impedidas de apoiar suas tropas que tinham a responsabilidade de manter a ordem social no Haiti, por determinação da ONU.

A situação ficou tão crítica, que a FAB mandou dois aviões regressarem ao Brasil (estavam a meio caminho do Haiti) e aguardassem em Boa Vista, Roraima, a permissão americana, para só então dirigir-se a capital haitiana.

Foto:Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Ao desembarcar na sexta-feira no Brasil o ministro de Defesa, Nelson Jobim (foto) chegou criticando asperamente o controle dos EUA sobre o aeroporto de Porto Príncipe. Jobim disse que a decisão foi "unilateral" dos norte-americanos, sem que outros países fossem consultados. Afinal, até o vôo que lhe trouxe ao Brasil, teve que ficar esperando permissão dos americanos, para sair de Porto Príncipe. O ministro das relações exteriores do Brasil, Celso Amorim, teve que fazer uma ligação para a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, tentando destravar a situação. “Hillary prometeu que ia reforçar a instrução ao comando militar americano para se coordenar com a Minustah” (a missão de paz da ONU).

Depois disso, Amorim falou à imprensa, tentando amenizar os incidentes, afirmando que a secretária de Estado dos EUA esclareceu que as forças americanas vão cumprir funções essencialmente humanitárias, sem interferir na segurança pública do país, já que isso é a função da Minustah. O ministro disse que Hillary reconheceu a liderança do Brasil na recuperação do Haiti, blá, blá, blá.

Foto: Associated Press

Hillary no Haiti com René Préval, fechando acordo para controlar o país

Demonstrando que a intenção é mesmo de controle total, neste mesmo sábado, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, chegou a Porto Príncipe, de surpresa, em um avião de carga da Guarda Costeira dos EUA, que transportava ajuda humanitária e reuniu-se com o presidente haitiano, René Préval.

Após proclamações diplomáticas de ajuda humanitária, a secretaria assinou um memorando de entendimento "entre os dois países, dando a Força Aérea americana a autonomia para dirigir o tráfego aéreo no aeroporto internacional de Porto Príncipe e a marinha americana de controlar as principais docas da cidade.

Agora é oficial, só entra e sai do Haiti quem os americanos quiserem “e priu”!


2 comentários:

Italo disse...

Qual o problema disto.

Daniel Barros disse...

Tem é que deixar os americanos assumirem. O Brasil não tem condições técnicas de pessoal e financeiras pra ajudar ainda mais o Haiti.

O resto é ciumeira dos esquerdistas..