17 de jan. de 2010

HONDURAS: A difícil volta à normalidade

HONDURAS
A difícil volta à normalidade
O Congresso negou-se a debater Lei de Anistia, uma tentativa de resolver a crise que se arrasta desde junho, o presidente Roberto Micheletti, vira "primeiro herói nacional do século 21" e os militares que mandaram Zelaya de pijama para fora do país, estão sendo julgados pela Suprema Corte e Zelaya continua hospedado na embaixada do Brasil, dizendo que está tudo errado

Foto: Reuters

O povo protestou diante do Congresso de Honduras, para que não fosse aprovada a lei de anistia, querem que Zelaya seja julgado pelos crimes de que é acusado. O Congresso deixou para os novos parlamentares

Fontes: Revista Época, La Prensa, O Globo, La Tribuna, Folha Online

Depois de seis meses de uma crise política e institucional que afetou a economia e deixou o país isolado da comunidade internacional, esperava-se que Honduras desse um passo importante a caminho da normalidade, com a aprovação da Lei de Anistia, que poderia perdoar todos os crimes cometidos desde a deposição de Manuel Zelaya, em junho, e ajudar a estabilizar o país para o início do governo do novo presidente, Porfírio “Pepe” Lobo, que assume o cargo no dia 27.

Foto: El Heraldo

O Congresso de Honduras, porém, achou que não havia tempo, para discutir o assunto antes do final de seus mandatos e deixou para os novos congressistas, que tomam posse em 25 de janeiro essa tarefa.

O vice-líder da bancada do oposicionista Partido Nacional, Antonio Rivera, cujo partido terá a maioria do próximo Congresso, disse que "não se chegou a um acordo" sobre a iniciativa dos setores organizados, que ele atribuiu à existência de "confusão" sobre os efeitos da anistia política.

"Acho que se manejou mal desde o início, não se deixou claro, confundiu-se anistia com impunidade e corrupção, e ao final a percepção foi que estávamos a preparando um perdão para tudo", disse o deputado do partido de Porfirio "Pepe" Lobo, o novo presidente eleito que toma posse no dia 27 de janeiro.

Foto: El Heraldo

O presidente Roberto Micheletti recebeu a placa de reconhecimento por serviços prestados a nação, das mãos de Adolfo Facussé, presidente da Associação Nacional da Indústria de Honduras

A "vitória" dos adversários de Zelaya é cada vez mais cristalina. Na noite de segunda-feira (11), o presidente interino do país, Roberto Micheletti, foi homenageado pela Associação Nacional de Industriais de Honduras, que o declarou "o primeiro herói nacional do século XXI" por "defender a democracia e a liberdade em Honduras".

No evento compareceram representantes de vários os setores que apoiaram a saída de Zelaya – congressistas, militares, empresários e outros membros da sociedade civil. Todos prestaram homenagens ao político que, como presidente do Congresso, enfrentou Zelaya, e liderou o movimento para tirá-lo do poder.

Em conjunto, a perda de força de Zelaya ocorrida após a mudança de posição da diplomacia dos Estados Unidos e a consagração do vasto grupo contrário ao ex-presidente – simbolizada pelo prêmio dado a Micheletti – reduziu muito o tamanho da crise, mas não conseguiu encerrá-la por completo.

O debate da lei de anistia estava cercado por polêmicas, onde se afirmava que o Congresso não teria legitimidade para aprová-la, por estarem os congressistas do atual parlamento, dando anistia a si mesmo.

Foto: La Prensa

O procurador-geral hondurenho, Luis Alberto Rubi, (foto) pediu a prisão dos seis membros do Estado Maior por quatro anos por violação da Constituição local, que veta a deportação de cidadãos hondurenhos (o que foi feito com Zelaya, mandado para a Costa Rica).

O presidente da Suprema Corte, Jorge Alberto Rivera, presidiu, no dia 14, a primeira audiência do processo contra os seis chefes militares: o subchefe do Estado-Maior Conjunto, generais Romeo Vásquez e Venancio Cervantes, respectivamente; os chefes do Exército, general Miguel Ángel García Padgett; da Força Aérea, general Luis Javier Prince, e da Força Naval, contra-almirante Juan Pablo Rodríguez; e pelo inspetor-geral das Forças Armadas, general Carlos Cuéllar.

O juiz Jorge Rivera, presidente do Supremo hondurenho, no fim da audiência, emitiu a ordem que impede os réus de deixar Honduras e ordenou que os seis oficiais se apresentassem todo mês para assinar o livro de registro na secretaria do Supremo.

Foto: Reuters

Zealya diz que tem dez dias para decidir se espera a posse do novo governo para sair do país ou se fica pagando para ver a nova situação

Para Zelaya, a anistia seria “a segunda etapa do golpe”. “Eles (o governo Micheletti) querem se livrar das acusações de que cometeram um crime político sem precedentes neste país”, disse Zelaya na segunda-feira (11). Para ele, o julgamento dos militares não passa de uma “farsa” para “dar impressão de legalidade junto à comunidade internacional”. O ex-presidente afirma que, uma vez iniciado o julgamento dos militares, ele seria interrompido com a aprovação da anistia, e nenhum deles seria punido.

Foto: Associated Press

A anistia, não agradava nem Zelaystas, nem Michelettistas, assim entrou em compasso de espera

Ao mesmo tempo em que Zelaya protesta, seus adversários reclamam da mesma Lei de Anistia, como conta o jornal La Tribuna. As organizações civis União Cívica Democrática e Resistência Nacional, favoráveis à destituição de Zelaya, se manifestaram contra a lei na segunda-feira (11). Aos gritos de “castigo aos corruptos”, pediram que Zelaya e membros do seu governo sejam julgados por crimes de corrupção que teriam cometido.

Se a Anistia acontecesse como estava se imaginando, feito as pressas pelo congresso, Zelaya ia sair lucrando, pois no dia que fosse aprovada a anistia, ia poder sair andando pela porta de frente da embaixada do Brasil e começar a atanazar a vida do novo presidente, quando seu destino natural, será o exílio ou a cadeia.

Agora com a decisão do Congresso a situação de presidente hospede do Brasil, voltou para a estaca zero, ou melhor, piorou e muito, pois um congresso de maioria oposicionista, não vai lhe conceder benesses.

O futuro de Zelaya resume-se em passar o resto da vida “preso” na embaixada do Brasil, ou vai acabar pedindo asilo político, possivelmente ao governo Lula e nunca mais vai se ouvir falar dele.


Charge do Jornal El Heraldo


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