18 de dez. de 2009

ELEIÇÕES 2010: Aécio desiste da candidatura a presidente pelo PSDB

ELEIÇÕES 2010
Aécio desiste da candidatura a presidente pelo PSDB
O govenador mineiro fez uma carta aberta, entregue ao presidentre do PSDB, senador Sérgio Guerra, onde reafirma sua disposição em colaborar com o projeto tucano, deixando o caminho aberto para o governador de São Paulo, José Serra

Foto: Elza Fiuza/ABr

Aécio fora do paréo?

Fontes: Estadão , Estadão

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, anunciou na tarde desta quinta-feira, 17, a desistência de sua pré-candidatura à Presidência da República pelo PSDB. A decisão abre o caminho para a consolidação da candidatura do governador paulista, José Serra, que divulgou nota elogiando a "grandeza" do colega tucano. Nos bastidores da oposição, é grande a movimentação para que Aécio aceite formar uma chapa puro-sangue com Serra, aceitando a vaga de vice.

Acompanhado do presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), do secretário-geral, deputado Rodrigo de Castro e do vice-governador Antonio Anastasia, Aécio leu uma carta que foi entregue a Guerra numa reunião realizada na manhã desta quinta-feira, em Belo Horizonte. Nela, o governador mineiro lamenta a ausência de prévias no partido, mas reafirma sua disposição em colaborar com o projeto tucano.

Em entrevista após o anúncio, Sérgio Guerra disse ser "improvável" a possibilidade de uma chapa puro sangue, com Serra como candidato e Aécio como vice. Para setores da oposição, essa seria a melhor fórmula para derrotar a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, para a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. A ministra-chefe da Casa Civil é a favorita do presidente.

Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), no entanto, Aécio se tornou "um grande ativo" para o partido, uma vez que percorreu muitos Estados do País em busca do apoio de líderes locais da oposição e da base de apoio a Lula.

Para o senador amazonense, o desafio de Serra, agora, será o de conquistar o apoio de Aécio Neves para comporem uma chapa puro-sange. "Seria ideal", disse o senador tucano.

"O partido agora precisa colocar todas as forças no Aécio. Ele e Serra poderiam fazer 30 ou 35 milhões de votos no Sul e Sudeste. E o Aécio não precisa ser um vice apagado, é preciso saber compor esta vice-presidência, para que ele seja um vice-presidente com projeção, com projeto de uma futura presidência", disse.

Aécio havia estipulado o início de janeiro como prazo final para tomar uma decisão sobre seu futuro político, mas vinha dando sinais de que a desistência já seria um fato consumado. Há pouco mais de uma semana, o governador mineiro chegou a dizer que anteciparia o anúncio para esta semana, após uma conversa que teria com o colega paulista. Aécio defendia uma definição do PSDB sobre a candidatura do partido à Presidência ainda em 2009, com vistas a acelerar o processo de formação de alianças no campo da oposição.

Segundo Sérgio Guerra, "o caminho mais provável" agora é que Aécio Neves dispute o Senado. O presidente do PSDB disse, no entanto, que este assunto não foi discutido no encontro que teve nesta quinta com o governador mineiro. Na carta lida pelo governador mineiro, não há dicas sobre quais serão os próximos passos de sua carreira política. O mandato como governador termina no fim de 2010.

Serra, por sua vez, continua negando que seja pré-candidato à Presidência. Ainda assim, ele aparece como favorito à sucessão de Lula em todas as pesquisas eleitorais. O governador paulista participou de evento na tarde desta quinta-feira. Demonstrando bom humor, fez um rápido discurso e saiu sem falar com a imprensa. Mais tarde, em nota divulgada por sua assessoria, o governador paulista elogiou o ato do colega mineiro. Serra foi convidado na quarta-feira, 16, pelo próprio Aécio, a participar do anúncio desta quinta, mas negou alegando problemas de agenda.

Em um coquetel de confraternização dos partidos de oposição - PSDB, DEM e PPS -, na terça-feira, parlamentares dos três partidos comentaram, em discursos e em conversas reservadas, que a chapa pura do PSDB à presidência da República era "a chave da vitória da oposição".

O presidente do PPS, Roberto Freire, e o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disseram ainda, em discursos, que os dois partidos não tinham a pretensão de indicar os candidatos à vice.

Defensor de uma chapa puro-sangue do PSDB para as eleições de 2010 à Presidência da República, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avaliou que a desistência do governador mineiro, Aécio Neves, de disputar a candidatura tucana demonstra generosidade e compreensão em relação ao momento político.

"O gesto do governador Aécio Neves demonstra generosa compreensão do momento político. Não só Minas, mas todo o Brasil vê no governador qualidades de liderança que o credenciam a assumir as mais altas responsabilidades da República", afirmou FHC, em nota.

"Sua disposição para colaborar, com afinco e lealdade, com o PSDB para preparar o caminho que nos levará à vitória em 2010, fala mais forte do que qualquer outra consideração sobre nossas possibilidades de vitória. Minas é crucial para a construção de um Brasil melhor, e Aécio é um construtor do futuro", diz o texto.

A Carta de Aécio

Foto: Rafaguiar/AecioBlog

Momento em que o governador lia a carta acompanhado pela imprensa nacional e mineira

Fontes: Blog do Aécio

"Belo Horizonte, 17 de dezembro de 2009.

Presidente Sérgio Guerra,
Companheiros do PSDB,

Há alguns meses, estimulado por inúmeros companheiros e importantes lideranças da nossa sociedade, aceitei colocar meu nome à disposição do nosso partido como pré-candidato à Presidência da República.

Como parte desse processo, defendi a realização de prévias e encontros regionais que pudessem levar o PSDB a fortalecer a sua identidade e integridade partidárias.

Assim o fiz, alimentado pela crença na necessidade e possibilidade de construirmos um novo projeto para o país e um novo projeto de País.

Defendi as prévias como importante processo de revitalização da nossa prática política. Não as realizamos, como propus, seja por dificuldades operacionais de um partido de dimensão nacional, seja pela legítima opção da direção partidária pela busca de outras formas de decisão. Ainda assim, acredito que teria sido uma extraordinária oportunidade de aprofundar o debate interno, criar um sentido novo de solidariedade, comprometimento e mobilização, que nos seriam fundamentais nas circunstâncias políticas que marcarão as eleições do ano que vem.

A realização dos encontros regionais foi uma importante conquista desse processo. O reencontro e a retomada do diálogo com a nossa militância, em diversas cidades e regiões brasileiras, representaram os nossos mais valiosos momentos. A eles se somaram outros encontros, também sinalizadores dos nossos sonhos, com trabalhadores, empresários e outros setores da nossa sociedade.

Ouvindo-os e debatendo, confirmei a percepção de um País maduro para vivenciar um novo ciclo de sua história. Pronto para conquistar uma inédita e necessária convergência nacional em torno dos enormes desafios que distanciam nossas regiões umas das outras, e em torno das grandes tarefas que temos o dever de cumprir e que perpassam governos e diferentes gerações de brasileiros.

Ao apresentar o meu nome, o fiz com a convicção, partilhada por vários companheiros, de que poderia contribuir para uma construção política diferente, com um perfil de alianças mais amplo do que aquele que se insinua no horizonte de 2010. E as declarações de líderes de diversos partidos nacionais demonstraram que esse era um caminho possível, inclusive para algumas importantes legendas fora do nosso campo.

Defendemos um projeto nacional mais amplo, generoso e democrático o suficiente para abrigar diferentes correntes do pensamento nacional. E, assim, oferecer ao país uma proposta reformadora e transformadora da realidade que, inclusive, supere e ultrapasse o antagonismo entre o "nós e eles", que tanto atraso tem legado ao País.

Devemos estar preparados para responder à autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o País ao meio, entre bons e maus, entre ricos e pobres. Nossa tarefa não é dividir, é aproximar. E só aproximaremos os brasileiros uns dos outros, através da diminuição das diferenças que nos separam.

O que me propunha tentar oferecer de novo ao nosso projeto, no entanto, estava irremediavelmente ligado ao tempo da política, que, como sabemos, tem dinâmica própria. E se não podemos controlá-lo, não podemos, tampouco, ser reféns dele...

Sempre tive consciência de que uma construção com essa dimensão e complexidade não poderia ser realizada às vésperas das eleições. Quando, em 28 de outubro, sinalizei o final do ano como último prazo para algumas decisões, simplesmente constatava que, a partir deste momento, o quadro eleitoral estaria começando a avançar em um ritmo e direção próprios, e a minha participação não poderia mais colaborar para a ampla convergência que buscava construir.

Durante todo esse período, atuei no sentido de buscar o fortalecimento do PSDB.

Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar, com meu esforço e minha lealdade, para a construção das bandeiras da Social Democracia Brasileira.

Busco contribuir, dessa forma, para que o PSDB e nossos aliados possam, da maneira que compreenderem mais apropriada, com serenidade e sem tensões, construir o caminho que nos levará à vitória em 2010.

No curso dessa jornada, mantive intactos e jamais me descuidei dos grandes compromissos que assumi com Minas, razão e causa a que tenho dedicado toda minha vida pública.

Ao deixar a condição de pré-candidato à Presidência da República, permito-me novas reflexões, ao lado dos mineiros, sobre o futuro.

Independente de nova missão política que porventura possa vir a receber, continuarei trabalhando para ser merecedor da confiança e das melhores esperanças dos que partilharam conosco, neste período, uma nova visão sobre o Brasil.

É meu compromisso levar adiante a defesa intransigente das reformas e inovações que juntos realizamos em Minas e que entendemos como um caminho possível também para o País. Continuarei defendendo as reformas constitucionais e da gestão pública, aguardadas há décadas; a refundação do pacto federativo, com justa distribuição de direitos e deveres; e a transformação das políticas públicas essenciais, como saúde, educação e segurança, em políticas de Estado, acima, portanto, do interesse dos governos e dos partidos.

Devo aqui muitos agradecimentos públicos.

À direção do meu partido e, em especial, ao senador Sérgio Guerra pelo equilíbrio e firmeza com que vem conduzindo esse processo.

Aos companheiros do PSDB, pelas inúmeras demonstrações de apoio e confiança.

Manifesto a minha renovada disposição de estar ao lado de todos e de cada um que julgar que a minha presença política possa contribuir, seja no plano nacional ou nos planos estaduais, para a defesa das nossas bandeiras.

Aos líderes de outras legendas partidárias, pela coragem com que emprestaram substantivo apoio não só ao meu nome, mas às novas propostas e crenças que defendemos nesse período.

Nos reencontraremos no futuro.

A tantos brasileiros, pelo respeito com que receberam nossas ideias.

E a Minas, sempre a Minas e aos mineiros, pela incomparável solidariedade.

Aécio Neves"



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