13 de ago. de 2009

Trambiqueiro do “Boi Gordo” está livre da cadeia

Trambiqueiro do “Boi Gordo” está livre da cadeia
Paulo Roberto de Andrade, dono da Boi Gordo, que lesou 30 mil pessoas e deu um golpe de R$ 2,5 bilhões ficou livre de crime falimentar, por decisão do STJ

Foto: Ricardo Benichio/Abril

Paulo Andrade da Boi Gordo, antes de ser empresário havia sido condenado por assalto a mão armada, artigo 157 do Código Penal, cumpriu pena e mudou o ramo de assalto, agora sem violência e impune

Fontes: Estadão, Veja

O empresário Paulo Roberto de Andrade, dono da Boi Gordo, uma firma de investimento em gado que lesou mais de 30 mil pessoas, não corre mais risco de ser punido criminalmente.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ)anulou a ação penal contra ele e reconheceu a prescrição do processo. A Boi Gordo quebrou em 2004, deixando uma dívida de R$ 2,5 bilhões na praça. Andrade, até então celebrado como um empresário moderno e inovador, passou a ser tratado como um golpista. Denunciado à Justiça por prática de crimes falimentares, agora está livre das acusações.

"É a pizza. Fazer o quê?", afirma o promotor de Justiça Eronides Aparecido Rodrigues dos Santos, da Vara de Falências de São Paulo. "Lamento a anulação de um caso emblemático como esse. Houve um golpe, milhares de pessoas foram lesadas e não haverá responsabilização penal".

O investimento na Boi Gordo foi uma febre do final dos anos 90 até quebrar, em 2004. A maior parte de sua clientela era formada por poupadores de classe média, mas entre suas vítimas há lista enorme de pessoas conhecidas. Entre elas o técnico de futebol Luiz Felipe Scolari; os ex-jogadores Evair e César Sampaio; a atriz Marisa Orth; o designer Hans Donner, da Rede Globo; o economista Rogério Buratti, ex-assessor do deputado Antônio Palocci (PT) em Ribeirão Preto; e Paulo Okamoto, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Fazendas Reunidas Boi Gordo popularizou no País as chamadas empresas de parcerias. O investidor aplicava em animais (bois, frangos, porcos) da empresa parceira, como a Boi Gordo e, no fim do contrato, recebia o lucro da venda do animal engordado. A Boi Gordo prometia rendimento de 42% depois de 18 meses. Eram ganhos que batiam de longe qualquer outro investimento da época.

Mais tarde descobriu-se que a empresa funcionava como uma pirâmide, pagando os contratos vencidos com o dinheiro da entrada de novos investidores. Quando os saques superaram os investimentos, a pirâmide desmoronou.

Foto: Arquivo Rede Globo

Patricia Pilar a sem terra, Luana Berdinazzi , da novela “Rei do Gado” que fez “merchandising” das Fazendas Boi Gordo.

A Boi Gordo ficou conhecida no País inteiro por meio dos anúncios publicitários estrelados pelo ator Antonio Fagundes nos intervalos da novela o Rei do Gado, da Globo. Ela abriu caminho para outras empresas parecidas, como a Gallus Agropecuária, pertencente a um estelionatário chamado Gelson Camargo dos Santos. A Gallus também quebrou, deixando 3 mil pessoas no prejuízo.

A decisão do STJ não interfere nos processos de indenização das vítimas da Boi Gordo. O síndico da massa falida, Gustavo Sauer, está terminando o processo de avaliação de 14 fazendas, donas de um total de 250 mil hectares de terra. Duas fazendas ficam em São Paulo, as outras em Mato Grosso.

"Estamos terminando a avaliação e as propriedades devem ser leiloadas ainda este ano", afirma Sauer. "Mas já sabemos que não será possível indenizar integralmente as vítimas da Boi Gordo."

Comparando com o caso do megainvestidor americano Bernard Madoff, 71 anos, (foto) que deu um golpe semelhante nos Estados Unidos, embora em valores bem maiores, num processo que durou quatro meses foi condenado em sentença final a 150 anos de prisão sem direito a vantagens de liberdade na metade da pena. Quanta diferença!

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