20 de ago. de 2009

Afeganistão: 50 mortos no dia da eleição

Afeganistão: 50 mortos no dia da eleição
As agências chegaram a noticiar que o pleito tinha ocorrido em relativa paz, pois o governo havia proibido que se divulgasse notícias de violência para não assustar os eleitores. Agora, há uma preocupação com abstenções que se passarem de 50% pode invalidar as eleições.

Foto: AP

Soldados do Exército Nacional Afegão olham lista de candidato presidencial 40 e provinciais antes de votar no aldeia de Dahaneh. Devido a uma ameaça de homens bomba suicidas, a votação foi inicialmente aberta apenas para os funcionários públicos, soldados e policiais à porta fechada antes de ser abertas para o público em geral.

Fontes: Blog Caio Blinder, Zero Hora, Ultimo Segundo, G1

A jornada eleitoral afegã terminou hoje com a morte de 50 pessoas, entre integrantes das forças de segurança, insurgentes e civis atingidos no fogo cruzado, nos 130 ataques desferidos pelos talibãs, que tentavam inviabilizar o pleito. Entre os ataques estão dezenas de lançamentos de mísseis e quatro atentados suicidas, afora dezenas de ataques neutralizados pelas forças afegãs.

O Governo havia pedido na terça-feira aos jornalistas que não informassem sobre atos de violência, para não prejudicar a participação nas eleições presidenciais, que os talibãs tentaram boicotar, embora já se previa que a taxa de participação nestas eleições presidenciais e provinciais seriam muito inferior à das consultas realizadas desde a queda dos islamitas em 2001.

O presidente Hamid Karzai agradeceu aos afegãos por terem desafiado as ameaças dos insurgentes talibãs, comparecendo aos centros de votação, e afirmou que foi um "bom dia" para o país.

No entanto, em algumas regiões o ambiente de medo imperou. Os talibãs conseguiram impedir a votação na cidade de Baghlan Markzai, no norte, onde travaram intensos combates nos quais, segundo a Polícia 22 rebeldes e um oficial perderam a vida.

Foto: Getty Images

Na capital Kabul as mulheres, que votam em locais separados dos homens, fazem fila esperando o momento de votar

No sul, bastião talibã, a participação parece ter sido bastante pequena pelos temores de ataques dos rebeldes e de incidentes esporádicos.

Alguns incidentes isolados foram registrados em Kandahar (sul), que foi a capital do regime talibã entre 1996 e 2001, mas tanto autoridades afegãs como da ONU disseram que a violência poderia ter sido pior.

"Registramos alguns incidentes, mas, em geral, parece ter dado certo", declarou o chefe da missão da ONU no Afeganistão (Unama), Kai Eide.

Foto: AP

O material da Comissão Eleitoral, urnas, cédula e listas, sendo transportadas através das montanhas em lombos de burros, com destino as aldeias no interior do país.

"Os ataques espetaculares com os quais nos haviam ameaçado não ocorreram, e, embora o dia ainda não tenha terminado, estou satisfeito de ver que até agora as eleições transcorreram muito bem", acrescentou.

"A participação foi muito boa", assegurou Zekria Barakzai, porta-voz da Comissão Eleitoral Afegã, que considerou que poderia atingir 50% até o final do dia.

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Anders Fogh Rasmussen, disse que as eleições tinham sido "alentadoras".

Foto: Reuters

40 candidatos se enfileiram atrás do afegão durante a campanha eleitoral em Cabul.

Entretanto, alguns observadores independentes não se mostraram tão otimistas. "A participação (em Kandahar) é realmente muito, muito baixa, bem mais mais baixa do que no norte", disse um diplomata ocidental à AFP.

O incidente mais grave foi registrado em Baghlan, pequena cidade situada na estrada entre Kunduz e Pul i Jimri, capital da província de mesmo nome, no norte.

Nessa localidade, os centros eleitorais não puderam abrir devido a violentos combates entre as forças de segurança e as milícias insurgentes, nos quais morreram 22 rebeldes e um policial, segundo o chefe da Polícia provincial.

Foto: Getty Images

Polícia afegã conduz os corpos de homens bombas mortos em tiroteio com as forças de segurança, tentando impedir as eleições.

Em Cabul, dois rebeldes armados morreram em uma troca de tiros pela manhã com as forças de segurança próximo a uma delegacia, no primeiro incidente maior na capital desde o início da votação às 07h00 locais (23h30 de quarta-feira em Brasília).

De acordo com o governo afegão, 23 civis e membros das forças de segurança foram mortos em decorrência dos ataques rebeldes.

Os centros eleitorais fecharam, como estava previsto, às 16h00 locais (08h30 de Brasília).

A Casa Branca elogiou nesta quinta-feira os afegãos que desafiaram os temores de ataques talibãs e foram votar.

Foto: Getty Images

Frozan Fana, 40 anos, candidata a Presidente do Afeganistão. Dos quarenta candidatos que concorrem ao pleito, duas são mulheres. Há uma forte participação feminina no pleito, para as condições locais, dos 3.000 candidatos aos Conselhos provinciais, 328 são mulheres, o que é surpreendente.

"Muitas pessoas desafiaram as ameaças de violência e terror para expressar suas ideias sobre o próximo governo", disse Robert Gibbs, porta-voz do presidente Barack Obama.

Gibbs ressaltou, no entanto, que os Estados Unidos não se manifestarão, já que os resultados só devem ser apresentados no início de setembro.

Cerca de 17 milhões de cidadãos estavam aptos a eleger seu presidente e seus representantes nos conselhos provinciais.

As eleições estão marcadas pelo boicote e pela escalada de violência terrorista dos insurgentes talibãs, que também ameaçam cortar o dedo dos eleitores, que comparecerem as urnas, na tentativa de desestabilizar o pleito, que para eles não passa de um "ato de propaganda" americano.

A Comissão Eleitoral previu a abertura de mais de 6,5 mil centros de votação, mas nem todos foram ativados.

Foto: Reuters

Segundo a última pesquisa, publicada por um instituto americano, o atual presidente, Hamid Karzai,(foto, no instante em que votava em Cabul) conta com 44% de apoio, contra 26% de seu principal adversário, o ex-chanceler Abdullah Abdullah.

No entanto, várias pessoas no Afeganistão minimizam a importância das pesquisas, por se tratar de um país de geografia complicada, sistema de comunicação ruim, altas taxas de analfabetismo e, sobretudo, com ausência de um censo.

Foto: Reuters

Abdullah Abdullah o candidato, com chances de enfrentar o atual presidente Karzi, num segundo turno

Se nenhum candidato conseguir 50% dos votos, será realizado um segundo turno na primeira semana de outubro, segundo a Comissão Eleitoral.

Afeganistão, três décadas de violencia

Foto: Reuters

O Afeganistão, um país montanhoso, sem litoral e com a economia destruída por mais de três décadas de guerras, realizou nesta quinta-feira sua segunda eleição presidencial desde a queda dos talibãs, em 2001.

Localizado na Ásia Central, o Afeganistão foi frequentado por mercadores que percorriam a Rota da Seda, por conquistadores como o macedônio Alexandre e pelas tropas do Império britânico e da extinta União Soviética.

Ao norte, faz fronteira com as antigas repúblicas soviéticas do Turcomenistão, do Uzbequistão e do Tadjiquistão. Já a leste, faz divisa com o Paquistão e a China, enquanto a oeste tem o Irã como país vizinho.

Foto: AP

Dividido em 34 províncias, o território afegão tem pouco mais de 652.000 quilômetros quadrados de extensão e uma sociedade tribal e multiétnica dominada pelos pashtuns (foto acima). Além disso, cerca de 80% de seus habitantes são muçulmanos sunitas e menos de 20% são xiitas.

Por grupos, a população afegã encontra-se dividida entre pashtuns (38%), tadjiques (25%), hazarás (29%), uzbeques (6%) e outros pequenos grupos de origem turcomana.

O idioma mais falado no território é o pashtun. Mas todo o país também utiliza o dari, língua comercial derivada do persa.

Uma das nações mais pobres do mundo, o Afeganistão tem como moeda o afegane, uma renda per capita de US$ 220 e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 8,4 bilhões (2006).

A produção e o tráfico de drogas, mesmo após a ocupação americana, continuam uma das principais atividades econômicas do país, que exporta 90% dos opiáceos consumidos no mundo.

Foto: AP

Uma jovem mulher afegã da etinia Jughi

A expectativa de vida, tanto de homens como de mulheres, é de 44 anos, e, segundo dados referentes a 2006, só 28% da população afegã com mais de 15 anos sabe ler e escrever.

Assolado por mais de três décadas de violência, o país foi governado de 1933 a 1973 pelo rei Zahir Shah. Este foi derrubado pelo primo Mohammed Dawoud, que governou como presidente até ser assassinado em 1978.

Depois de Dawoud, ocuparam a Presidência: Nour Mohammed Taraki, assassinado em setembro de 1979, e Hafizullah Amin, executado quando as tropas da então União Soviética invadiram o país em dezembro do mesmo ano.

Em seguida, Brabak Karmal, secretário-geral do Partido Popular Democrático do Afeganistão, governou sob o controle de Moscou até 1986, ano em que foi substituído por Mohammad Najibullah.

Foto: Arquivo

Quando invadiram o Afeganistão, os soviéticos chegaram a ter cerca de 120 mil soldados no país, mas os mujahedines, apoiados pelos Estados Unidos, foram minando seu domínio.

Em fevereiro de 1989, os soldados soviéticos abandonaram o país e Nayibullah foi capturado e executado pelos combatentes islâmicos em 1992.

A partir desse ano e até meados da década, os diferentes grupos de radicais, encabeçados por poderosos "senhores da guerra", passaram a lutar entre si.

Em1996, o regime talibã acabou com o domínio dos mujahedines e impôs em 90% do território um sistema de leis muçulmanas que, além de proibir a música e o teatro, excluiu as mulheres da educação e da vida laboral.

O Talibã, nunca reconhecido pela ONU, deu refúgio a Osama bin Laden, que organizou do Afeganistão a rede terrorista Al Qaeda, responsabilizada pelos atentados de 11 de setembro de 2001.

Foto: AP

Após esses graves atentados, os militares americanos atacaram o Afeganistão em outubro de 2001 e derrubaram os talibãs, o que fez a Aliança do Norte (contrária ao Talibã) ocupar Cabul em novembro.

Em dezembro do mesmo ano, na Conferência de Bonn para a Reconstrução do Afeganistão, o pashtun Hamid Karzai foi escolhido presidente interino.

Com a maior parte do país ainda sob o controle dos "senhores da guerra", a Loya Jirga -Grande Assembléia das Tribos -, com 500 representantes, aprovou em janeiro de 2004 uma nova Constituição.

Após sucessivos adiamentos, em outubro de 2004 aconteceram as primeiras eleições presidenciais democráticas do Afeganistão, nas quais Karzai foi eleito com 55% dos votos e o apoio de Washington.

Depois das eleições de Barack Obama, os americanos priorizaram as ações no país, na tentativa de capturar Bin Laden e neutralizar os terrorista Al Qaeda, não está sendo nada fácil.



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