21 de mai. de 2009

Igor, uma alegria interrompida

Igor, uma alegria interrompida
A morte absurda e estúpida de um jovem, 28 anos, assassinado a luz do dia, numa área nobre da cidade, próximo de casa, desencadeou a consciência da insegurança e do medo, que se estabeleceu na nossa sociedade

Fotos colhidas no Orkurt de Igor

Fontes: Folha de Pernambuco, Radio Clube FM, Jornal do Comércio Online, Blog do Jamildo

“Estamos confinados numa zona de guerra”, disse um dos familiares do jovem Igor de Siqueira Duque, de apenas, 28, morto num assalto em Recife. É exatamente essa a sensação que tem cada pai, cada mãe, quando os filhos saem de casa para as suas atividades rotineiras, estudar, trabalhar, namorar, divertir-se.

A apreensão que se tem, na nossa cidade é a mesma que tem uma família em qualquer zona deflagrada no mundo. O nosso filho esta saindo de casa vivo, mas não sabe se volta. Uma tocaia e um tiro, e ceifa-se uma vida em florescimento.

A cada noite, quando percorremos os quartos e os vemos dormindo em segurança, sentimo-nos aliviados, premiados e agradecidos a Deus por aquele momento. No outro dia, o medo retorna.

Não venham dizer que é assim no resto do país, do mundo, não vamos nos conformar, queremos a volta da liberdade de ir e vir, da segurança na nossa cidade, dos tempos em que se conversava com os vizinhos sentados nas calçadas do subúrbio, caminhava-se a pé de madrugada, faziam-se serenatas e se dormia no terraço aproveitando a aragem.

Porque pagamos altos impostos e elegemos governantes que prometeram cuidar disso.

Igor Duque era Bacharel em turismo e lecionava inglês no Colégio e Curso Coração de Maria I e II, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, filho do cirurgião Plínio Augusto Duque e de Aleide Duque, funcionária aposentada do Tribunal Regional Eleitoral, tinha dois irmãos, um deles gêmeo, Augusto Duque, (o nome do avô, desembargador falecido, do Tribunal de Justiça de Pernambuco).

Quando foi abordado por três homens, na Tamarineira, bairro nobre da Zona Norte do Recife, e anunciaram o assalto, Igor teria acelerado o veículo. Essa é uma reação nervosa que acontece com muitas pessoas nessas ocasiões. Um dos bandidos atirou na vítima.

A bala quebrou o vidro lateral do veículo e acertou o pescoço do rapaz, que morreu na hora.

O próprio pai, que chegou ao local quando ainda se cogitava socorrer a vítima, assinou mais tarde o atestado de óbito do próprio filho.

Estava indo buscar o irmão, acabará de falar com a noiva, que sem saber ainda lhe manda um torpedo pelo telefone enquanto ele agonizava:

"Te amo môooo Duque, kisses!", escreveu Hákima Máximo

No Orkut brincava comentando sua atividade de professor de inglês no Colégio e Curso Coração de Maria I e II, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. "Adoro meu trabalho, mas tem que ter muita paciência".

Os seus alunos inconformados foram à missa de sétimo dia do professor Igor, a chegada das crianças foi um momento de emoção limite para a família, na igreja de Casa Forte.

O pai de Igor, Plínio Duque tem batido com força na segurança pública do estado, porém sem perder o equilibro, mesmo debaixo de toda a emoção.

É um homem engajado, lúcido e inarredável. Não vai ficar quieto. Suas palavras são fortes e arrebatadoras.

No dia seguinte a morte de Igor, mandou uma mensagem ao Governador Eduardo Campos:

A mensagem

Meu governador Eduardo Campos, peço-lhe que cuide bem e proteja seus filhinhos, que são tão lindos e queridos o quanto era o nosso Igor, brutalmente assassinado em assalto, ao meio-dia, na Avenida Norte, no dia 13 passado.

Proteja-os, para não sentir a indescritível dor da perda de um filho.

Não esqueça, também, de incluir Igor na sua estatística do Pacto pela Vida que, segundo tenho lido, vai muito bem, obrigado.

Peço ainda, governador, que honre o nome do seu saudoso avô materno.


A família de Igor Duque, dizem os jornais tomou a decisão de ir ao Ministério Público do Estado pedir que o órgão determine a suspensão da propaganda do Pacto pela Vida, realizada pelo governo do Estado.

Nos sentimos sós...

“A família ainda está muito abalada e muito assustada, diante do recrudescimento da violência nessa cidade”, comentou o pai de Igor, Plínio Augusto Duque na televisão.

“Nos sentimos sós, sem saber a quem recorrer”.

Durante missa de sétimo dia, o pai do jovem distribuiu um comunicado.

“Quem nos protegerá? O Executivo, com suas estatísticas um tanto maquiadas da violência, achando que redução de 2% nos homicídios é uma vitória?”

“Estamos sós. A população está desamparada. Desassistida na sua segurança, na educação, na saúde. É só ler os jornais.”

“É imperativo que se organize. Porém de maneira agressiva, não para pedir, mas para exigir, acionando e cobrando do Estado seu sagrado direito constitucional à vida.”

“Estamos todos muito assustados com a crescente barbárie que toma conta da nossa cidade. Assustados porque não sabemos a quem recorrer para fazer valer nossa cidadania.”

No fim, o médico assina a carta como cidadão cumpridor da lei e pagador de impostos, pai mutilado e com medo.


TENHO UM SENTIMENTO DE MEDO…

Em entrevista ao repórter João Valadares do Jornal do Comércio, o médico Plínio Duque, (foto) pai de Igor Duqe desabafou:

“...é ridículo o governo se vangloriar porque conseguiu uma redução de 2% no número de homicídios de um ano para o outro”.

Ao lado da mulher e de um dos filhos, Plínio falou de insegurança e do medo:

“Tenho um sentimento de medo. Tenho medo de sair às ruas, de fazer minhas atividades normais do meu trabalho, medo de que aconteça alguma coisa a minha família, medo que ocorra alguma tragédia com meus amigos ou conhecidos.

Todos os dias, temos notícias de conhecidos que foram assaltados e mortos, como aconteceu com meu filho. Basta dizer que, em fevereiro, meu filho mais velho foi assaltado com revólver na cabeça na porta da minha casa e levaram o carro dele e, em novembro passado, fui assaltado em plena luz do dia, na Rua Amélia, por dois ladrões que levaram alguns pertences.

Vivemos numa cidade sem tranquilidade.

A população está desassistida. A população está desprotegida por vários motivos. Não é só de ordem local não. De ordem até nacional. Primeiro, o País ainda possui leis obsoletas e brandas demais. Não sou a favor da pena de morte, mas nossas leis são brandas. Sou a favor da redução da maioridade penal para os 16 e maior rigor da lei.

O governador precisa se empenhar mais como o avô (Miguel Arraes) se empenhava para defender o povo.

Não conheço o secretário de Defesa Social (Servilho Paiva), mas acho que as declarações dele foram, diante de uma família enlutada, de muito mau gosto, principalmente quando diz que “não podem transformar isso (assassinato de Igor) num pandemônio”.

Como se fosse o assassinato do meu filho um fato pontual. Disseram-me que no dia em que Igor foi assassinado houve outros 17 assassinatos em Pernambuco. Não é um fato pontual. É uma guerra.

Uma coisa gritante que acontece aqui em Pernambuco. Eu me sinto desprotegido. A polícia, muito bem intencionada, é desaparelhada em termos de tecnologia.

O Legislativo com leis que são muito brandas.

E o Poder Judiciário não tem empenho para tentar resolver as coisas.

Tenho visto pouco resultado do Pacto pela Vida (programa de redução da violência lançado há dois anos). O governo se vangloriar porque conseguiu uma redução de 2% no número de homicídios de um ano para outro é ridículo. É ridículo se vangloriar disso.

Não temos segurança para viver no Recife. Temos um sentimento de muita dor. Não é natural o pai enterrar o filho. O normal seria acontecer justamente o contrário.

É uma dor maior do que enterrarmos o nosso pai, um irmão. A perda de um filho é uma dor indescritível. É uma mutilação que nós sofremos.

A polícia não pode ser culpada. Ela é desaparelhada. Ela não tem meios. Não tem uma política dirigida para se fazer uma repressão maior, uma ostensividade maior. A polícia não aborda ninguém.

Não estamos recebendo nenhuma informação da polícia em relação às investigações. Apenas estamos recebendo informações de delegados amigos, que não têm nada com o caso. Existe um delegado aposentado amigo da família. Só isso. São eles que nos trazem algumas informações. Oficialmente, não recebemos nenhuma informação. Queremos acreditar que os assassinos de Igor vão ser presos.

Igor era uma pessoa muito alegre e tinha muita vontade de viver. Estamos num momento de muita dor. Não sabemos como vai ser nosso futuro. Temos mais dois filhos e temos que pensar neles agora. Estão sobrevivendo até agora. Foi arrancado um pedaço de nós. Quando cheguei ao local, meu filho já estava morto. Foi na esquina da minha rua.

A sociedade ainda é passiva. Ainda acha que não vai acontecer esse tipo de coisa com alguém próximo. Precisamos nos organizar.

Precisamos exigir.

Vamos conversar com advogados. Não basta vestir branco e sair em passeata pedindo a paz. Isso é feito todos os anos.

A sociedade tem que pressionar o governo, exigir do governo e acioná-lo judicialmente por um direito nosso.

É o direito à vida.

Nós tardiamente tomamos conhecimento da morte de Igor, mas estamos engajado na luta com seus pais, com a sociedade. O pouco que pudermos fazer, o faremos, nessa tomada de consciência e exigência por segurança.  Plinio e Aleide, nosso abraço de amigo inconsolável.

Pernambuco não pode continuar com esse sinistro pacto de morte.

4 comentários:

Unknown disse...

É incrivel o descaso de nossos governantes!!! até quando??? até quando a gente vai sair de casa e voltar agradecendo ter sobrevivido mais um dia??? não está certo...em que mundo vivemos??? Saudades Igor.

Flávio Duque

Tereza Freire disse...

Antes, devo dizer que sou recifense, mãe e inconformada com a atual situação do Estado no que tange a segurança de seus cidadãos. Solidarizo-me à família de Igor. Mantenho um blog no qual abordei o assunto, partindo de um comentário do meu filho adolescente ao ler o JC. Quero dispor meu blog para campanhas contra essa barbárie que assola nossa cidade sem que nada seja feito pelas autoridades, além de propagandas enganosos com relação ao Pacto pela Vida. A todos da família Duque, meus sinceros sentimentos. Que se a justiça dos homens não olhar por nós, que a justiça divina se faça e nos guarde.

Elisângela Vanessa disse...

A falta que você tem feito Igor é indiscritivel,não consigo tocar no assunto sem que me venha lagrimas nos olhos,numca chegei um dia para te ver sem um sorriso no rosto.Um dia antes a sua morte me chamou a atenção a alegria e brincadeiras entre você e sua noiva me parecia que na aquele dia vocês estavam mais radiantes e por alguns minutos fiquei ali da porta sem ser pecebida adimirando tamanha alegria,lembro-me como hoje você sair da sala e ir direto para biblioteca brincado com as pessoas e entrando na biblioteca de onde para mim você nunca mais saiu.Trabalhar nos dias seguintes foi duro, ver a copa vazia sem a sua alegria,muitas vezes ainda me pego imaginando que tudo isso foi um sonho,que vou chegar no trabalho e tiver ali no patio a brincar.Hoje enxergo a vida com outros olhos.Dizem que o mundo ainda vai se acabar, mais eu digo que o mundo já estar se acabamdo.Todas as noites não sei se agradeço a DEUS por ter me consedido mais um dia ou se pesso para que ele me leve e me guarde me tirando deste conflito.Corremos tanto e no fim da vida não chegamos a lugar nenhum,ultimamente presso cada momento com a familia,amigos e em dizer aqueles que me querem mal que os amo, pois de tudo que eu juntar na vida apos a minha partida é oque vai ficar na lembraça.Você é um eterno professor pois ate depois da morte nos deixou uma lição "não importa aquilo que temos e sim o que importa é aquilo que somos".Para a familia,os amigos força o que desejo agora é mudanças e não remendos emergenciais(pacto pela vida) e estatistico e vou lutar ate onde for possivel para dar um basta nesta situação de impunidade e insegurança que se emcontra o mundo.Esta agora é para o senhor,Sr Servilho Paiva se acredita que o seu "pacto pela vida" realmente funciona deixe de andar com carros blindados e segurança e pessa todo dia a DEUS para que a sua vida não se torne um "Pandemonio" como se tornou a nossa!

Stardoll BR Blogger disse...

Igor de Siqueira Duque era meu professor de inglês eu sinto muito pela morte dele era um exelente professor mas na verdade a ultima vez que eu o vi foi no ano passado 2009 hoje 2010 eu estou na 4 serie com 9 anos e peço a Deus q tia Hákima se conforme a sua morte!

ELE ME CHAMAVA DE LINDA O TEMPO TODO!