16 de mar. de 2009

“Marolinha” faz estragos na Venezuela

“Marolinha” faz estragos na Venezuela

Foto: AFP

Agricultores protestam diante da federação das Câmaras de Comércio da Venezuela

Fontes: AFP

A oposição acusa Chávez de adotar medidas populistas e arbitrárias para ocultar a verdadeira crise que atinge a Venezuela.

Na semana passada, o líder da oposição e ex-candidato presidencial da Venezuela, Manuel Rosales, acusou Chávez de ocultar a real situação do país, severamente afetado com a queda nos preços do petróleo.

"Estamos com os olhos vendados e a Venezuela exige do governo que fale com clareza porque enfrentamos uma crise que está sendo escondida de todos", disse Rosales, prefeito da cidade de Maracaibo (500 km a oeste de Caracas, famosa pela produção de petróleo).

Manoel Rosales:
“Ninguém sabe sobre a verdade econômica do país, é segredo bem guardado..."

Chávez aumentou o controle sobre o setor de produção de alimentos básicos nos últimos dias, numa tentativa de amenizar as ondas de escassez de comida no país.

Várias processadoras de arroz já sofreram intervenções - incluindo uma filial da americana Cargill, que produzia arroz, e foi diretamente expropriada no início do mês.

Além da inflação e do desabastecimento, Chávez enfrenta uma onda de protestos de milhares de trabalhadores, que pedem melhores condições de vida em um momento de queda da renda do país, consequência direta da queda dos preços do petróleo.

"As empresas básicas estão quase paradas. Além do fato de os trabalhadores cruzarem os braços, não há como pagar as dívidas com os fornecedores. O atraso tecnológico é muito grande, assim como a dívida trabalhista", advertiu Pastora Medina, congressista dissidente do partido do governo.

As manifestações e greves aumentaram depois da vitória de Chávez no referendo de 15 de fevereiro, atingindo setores públicos vitais como o petróleo, a energia elétrica, a indústria básica e o metrô da capital, Caracas.

Os conflitos trabalhistas se multiplicam por todo o país, num momento em que o preço do petróleo, principal recurso venezuelano, oscila em torno dos 40 dólares, contra uma média de 90 dólares em 2008 e os 60 calculados no orçamento oficial de 2009.

Diante desta situação, Chávez, cujo segundo mandato termina em 2012, endureceu sua postura.

"Se uma empresa do Estado parar, está se metendo comigo; isso é sabotagem e eu não vou tolerar. Isso é um recado para aqueles que estão fazendo politicagem nas empresas dizendo que são um desastre e estão se desmantelando", advertiu o presidente.

Foto: SkyscraperCity

Chávez chegou a ameaçar uma militarização do metrô de Caracas caso haja uma greve, e pediu à inteligência venezuelana que investigue casos de corrupção em indústrias como a do alumínio, indicando que os privilégios de executivos e líderes sindicais às vezes "beiram o obsceno".

Em 2009, a Venezuela arrecadará entre 35 e 40 bilhões de dólares a menos que em 2008, quando apenas a renda do petróleo chegou a quase 95 bilhões de dólares, disse à AFP o analista José Manuel Puente.

Isso significa que a renda do país ficará abaixo do total estimado para as importações venezuelanas.

O problema é agravado ainda pela inflação, que em 2008 chegou a 30,9% - a mais alta do continente -, fazendo com que os salários perdessem 10% de seu poder de compra, observou o analista.

O ministro das Finanças, Alí Rodríguez, anunciou um corte dos gastos públicos e um plano de austeridade, que no caso da estatal petroleira PDVSA inclui uma revisão profunda das tarifas de empresas terceirizadas.

Apesar da delicada situação, Chávez garantiu que não fará demissões nem reduzirá a verba de seus programas sociais, responsáveis por grande parte de sua popularidade.

Neste momento, uma das prioridades é renegociar os contratos coletivos de aproximadamente dois milhões de funcionários, que, em alguns casos, venceram há quatro anos, explicou à AFP Froilán Barrios, da Confederação de Trabalhadores da Venezuela (CTV).

Também é necessário encontrar uma solução para uma dívida trabalhista que ronda os 20 bilhões de dólares e data de 1997, segundo estimativas sindicais.

O sindicalista Barrios, resume a questão comentando que Chávez deixou passar a bonança petroleira sem colocar em dia suas dívidas com os servidores públicos.

"Agora que vêm as vacas magras eles querem que os trabalhadores paguem o pato".

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