14 de fev. de 2009

CHAVES INSISTE EM ELEIÇÕES ETERNAS

Foto: Reuters

"Vocês decidirão meu destino político. A decisão de vocês é soberana", disse Chávez no encerramento da campanha, sublinhando a importância da votação.

Fontes: BBC Brasil, Correio, Jornal de Notícias http://www.minci.gov.ve/ 

Neste domingo acontecerá o referendo venezuelano sobre a reeleição, que ganha características dramáticas, tanto para o futuro do chavismo quanto da oposição.

Os cerca de 14 milhões de venezuelanos decidirão se permitem ou rejeitam o fim do limite à reeleição para cargos públicos - incluindo o do presidente Hugo Chávez.

Foto: Dolores Ochoa/AP

Se o "sim" vencer, Chávez poderá trabalhar oficialmente com a possibilidade de permanecer no poder "até 2030", como já declarou - embora ainda tenha de se submeter a uma eleição em 2012.

Já para a oposição, só restará uma alternativa: tentar governar melhor Estados e prefeituras e encontrar um líder capaz de desafiar o presidente nas urnas.

Por outro lado, a vitória do "não" criaria um embaraço muito grande para Hugo Chávez que aposta alto, e com muito risco, pois perdeu o último referendo.

Pergunta-se se depois de uma derrota neste domingo, como ele conseguiria governar os quatro anos restantes? A resposta não é difícil, do mesmo jeito que está governando agora e fará tantos referendos quantos necessários até que um deles aprove o seus sonho.

O presidente venezuelano nunca se incomodou em causar instabilidade política no país.

Obvio que para ele ganhar agora seria ideal, pois não sabendo o que vai acontecer com a crise mundial e os preços do petróleo desabando, a sua popularidade poderá cair quando não tiver dinheiro suficiente para manter e aumentar os programas sociais que o faz tão popular.

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É preciso ser corajoso e criativo para ser da oposição na Venezuela.

Para Chaves é muito fácil participar de referendos e eleições, já que não hesita em usar toda máquina pública, na infraestrutura da campanha, enquanto oferece explicitas benesses instantâneas e se populariza cada vez mais.

Numa luta evidentemente desigual a oposição sem uma liderança unificada, não tem recursos para arcar com as despesas, depende quase que exclusivamente de uma improvisada militância espontânea.

Novamente os analistas de opinião publica diz que qualquer das duas partes que ganhar, o fará com números muito apertados. O que indica que quase metade do país, está em desacordo com ó estado de direito que reinará no país após o plebiscito, seja qual for o resultado.

”Como o voto não é obrigatório na Venezuela, tanto chavistas quanto opositores estão mobilizando todas as suas forças para levar os eleitores a exercer seu direito no domingo.”

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histórico das eleições na era Chávez sugere que quanto menor a abstenção, melhor o desempenho do governo.

Em 2006, quando Chávez foi reeleito para mais seis anos de mandato, a abstenção foi de apenas 25%. Quase 12 milhões de venezuelanos votaram e nada menos que 7,3 milhões votaram no atual líder.

Em 2004, quando os venezuelanos votaram em um referendo revogatório para permitir que o presidente terminasse seu mandato, quase 10 milhões de eleitores saíram a votar - uma abstenção de cerca de 30%. Cerca de 6 milhões votaram em Chávez.

Mas, no referendo que rejeitou reformas constitucionais propostas pelo chavismo em 2007, a abstenção superou o nível de 40% - um dos mais altos na era Chávez.

Apenas 4,3 milhões de eleitores votaram em linha com o governo, que sofreu uma derrota apertada (49% a 51%). Chavistas disseram terem sidos derrotados não pela oposição, mas pela abstenção.

Por isso a estratégia de tentar levar os votos pró-governo de volta à casa dos 7 milhões no domingo, depende da militância chavista fazer os eleitores irem votar.

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Os opositores do presidente Hugo Chávez, em Maracaibo, Venezuela fazem manifestação em favor do "Não" no referendo do domingo

Enquanto isso, na oposição o ânimo eleitoral também é perceptível. O grupo anti-chavista crê que conquistou espaço nas eleições regionais do ano passado, em que levou cinco dos 22 Estados do país, e que por isso pode bater o governo nas urnas.

Se no referendo de 2007 a estratégia opositora foi a de incentivar os eleitores a ficar em casa, desta vez os estudantes estão nas ruas convocando a população para a disputa.

Na avaliação de críticos do governo, o chavismo tem mais a perder nestas eleições que seus rivais.

"Esta é uma eleição mais importante para o oficialismo que para a oposição: se Chávez perder, em 2013 terão de fazer o chavismo sem Chávez, e esse pode ser o fim do movimento", declarou à imprensa um dos líderes do movimento estudantil, opositor, Stálin González.

Mas nada indica que a quatro anos do fim do mandato de Chávez, sucumba mesmo que perca o referendo deste domingo.

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Em uma entrevista à rede de TV CNN, o próprio Chávez mencionou a possibilidade de a emenda que vai a votação agora ser ressubmetida a referendo pela Assembléia Legislativa em legislações futuras, caso o resultado lhe seja desfavoravel, nesta consulta popular.

Em resumo se vencer o sim, Chávez encerra de vez a fase de consultas e vai governar pensando em se eleger em 2012, se perder vai continuar inventando formulas de conseguir seus intentos.

Mas em nenhuma hipótese é possível ser categórico em relação às consequências deste referendo para as eleições presidenciais de 2012, diz o analista da BBC Brasil.

Primeiro, porque, mesmo que vença o "sim", Chávez não recebe carta branca para a reeleição. Ainda é cedo para avaliar que tipo de pressões sociais surgiriam com a piora do cenário econômico em virtude da crise mundial e a queda do preço do petróleo, principal produto venezuelano.

Já uma derrota de Chávez não resolve a vida da oposição. O atual presidente continuaria sendo a maior força política do país, ainda capaz de transformar seu capital político em votos para seu candidato.

Dado seu histórico de divisão, a oposição venezuelana também teria de passar por mudanças para se unir em torno de um único nome.

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Como vem ocorrendo desde o fracassado golpe de Estado em 2002, a oposição tenderia a continuar seu processo de depuração, afastando os seus membros mais radicais, ou obrigando ex-radicais a rever sua postura.

Isto abre espaço para uma oposição moderada, que tentará derrotar Chávez nas urnas. Prefeitos e governadores da oposição tentarão provar que são melhores que os governantes chavistas em questões do dia-a-dia, como limpeza e segurança pública.

Um ponto de interrogação pairaria sobre o movimento estudantil, surgido como uma proposta nova diante do chavismo, mas cada vez mais aliado aos partidos tradicionais, varridos da política venezuelana há dez anos.

Chávez ainda teria tempo de articular o que se pode chamar de "saída à Putin", deixando o governo, mas, retendo uma posição influente dentro da política venezuelana.

Resumindo finalmente dir-se-ia que mais uma vez Hugo Chávez vai para esse referendo cheio de coringas e ases, cartas marcadas e um baralho preparado na manga. Enquanto a oposição tem que jogar limpo.

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FIDEL: FUTURO DE CUBA DEPENDE DA VITÓRIA DE CHÁVEZ

Foto: Dolores Ochoa/AP

Há dois meses Fidel reuniu-se com Hugo Chavez e seu irmão Raul Castro

O antigo presidente cubano, Fidel Castro, considera que o futuro da ilha dependerá muito da vitória de Hugo Chavez no referendo constitucional de domingo na Venezuela.

"O nosso futuro é inseparável do que acontecer no domingo", escreveu Castro num artigo publicado este sábado na imprensa oficial cubana, numa alusão à consulta sobre uma emenda constitucional que permitirá a reeleição ilimitada do presidente na Venezuela.

O líder cubano, de 82 anos e convalescente desde Julho de 2006, assinala que nesse referendo "não existe outra opção a não ser a vitória" e afirma que "o destino dos povos da 'nossa América' dependerá muito dessa vitória e será um facto que influenciará o resto do planeta".

A expressão "nossa América" faz parte do nome da ALBA (Alternativa Bolivariana para os povos da Nossa América), iniciativa impulsionada pelo presidente Hugo Chavez e a que, além de Cuba e da Venezuela, pertencem a Bolívia, Nicarágua, República Dominicana e Honduras.

LIÇÕES PARA O CONTINENTE

Foto: AFP/Getty Images

REUNIÃO DA ALBA: Presidentes: da Nicaragua Daniel Ortega, da Venezuela Hugo Chavez, da Bolívia Evo Morales e de Honduras Manuel Zelaya, em frente ao Palácio de Miraflores, em Caracas, Venezuela, dia 02 de fevereiro 2009

Mas não há dúvida de que a eleição tem consequências além do plano doméstico. Não apenas porque Chávez é o maior ícone da "esquerda da esquerda" latino-americana, mas por ser um dos principais aliados de governos como o da Bolívia, de Cuba e da Nicarágua.

Este referendo é também uma oportunidade de avaliar a eficácia do estilo de oposição a seu governo.

Qualquer que seja o resultado, o referendo do dia 15 de fevereiro representa uma oportunidade de avaliar a correlação de forças dentro da Venezuela.

O comportamento do eleitorado determinará o humor político do país e obrigará governo e oposição a se posicionar em relação a este fator.

De certa maneira, esta é uma dança na qual todos os atores políticos da região terão de achar seu passo.

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